Celebrações Italianas
Em um tempo que já não lembro mais, numa cidade vizinha tradicionalmente
marcada pela imigração italiana, aconteciam as festividades que celebravam a
chegada das famílias da Vecchia Signora. No coração dessa celebração, havia um
restaurante rústico, coberto de sapé e cercado por toras de eucalipto, onde um
pequeno palco acolhia cantores vindos do continente europeu e, em outras
ocasiões, brasileiros da velha guarda metropolitana.
Numa dessas noites memoráveis, recebi um convite de um amigo italiano para
prestigiar uma caravana de conterrâneos que se apresentariam no local. Com
entusiasmo, embarcamos juntos nessa jornada: ele, sua esposa, eu e a minha. Ao
chegarmos, deparamo-nos com uma mesa reservada por Salvatore, nosso anfitrião.
O ambiente transbordava animação. Canções napolitanas ressoavam, preenchendo
o espaço com melodias que tocavam o coração. As taças tilintavam ao som das
vozes dos cantores, enquanto pratos típicos eram servidos, envoltos nos aromas
irresistíveis de temperos italianos. O vinho, produzido com uvas dos
agricultores locais, exalava um perfume único e trazia à noite uma aura de
celebração e nostalgia.
Salvatore, já entregue ao espírito festivo, não conseguia conter sua
empolgação. Cantava em sua própria mesa, gesticulando com paixão e entoando
trechos como um verdadeiro amante da música. Até que, num momento de pura
euforia, exclamou:
— É o Tony! Meu velho conhecido! Faz tempo que não o vejo!
Olha só, com aquele paletó brilhante, digno de um grande cantor!
A cada garfada na comida e cada gole de vinho, sua animação aumentava. Até
que, tomado pela euforia, decidiu ir até o palco.
Ali, fazia sinais para Tony como se quisesse gritar: Estou aqui, velho
amigo! O cantor, por sua vez, gesticulava de volta, indicando que estava
ocupado com sua apresentação. Mas Salvatore não se conteve. Aos poucos,
aproximou-se, pedindo para ouvir esta ou aquela canção da sua região. A plateia
observava a cena, divertida com sua audácia.
E foi então que, movido pelo entusiasmo, ele subiu as escadinhas do palco.
Os olhares se voltaram para ele. Tony tentava, com paciência, manter o controle
da situação, mas a paixão italiana de ambos se transformou numa conversa
acalorada — ou melhor, numa discussão exaltada, repleta de gestos largos, vozes
cada vez mais altas e exclamações típicas da língua italiana.
Num rompante inesperado, Tony, já sem saber o que fazer, arrancou seu paletó
brilhante e entregou para Salvatore, como se fosse um troféu.
E, de repente, Salvatore o vestiu e começou a sapatear no palco, sentindo-se
o próprio cantor! A plateia delirava, gargalhando diante da cena
cômica e absurda. O gerente do restaurante, percebendo que a situação havia
fugido do controle, correu até o palco para intervir. Tony, indignado, exigia
seu paletó de volta. Mas Salvatore, em seu estado de euforia e já "meio
alto", segurava a peça com firmeza, recusando-se a devolvê-la.
O embate atingiu seu ápice: os dois rolaram pelo palco, em uma disputa
hilariante e digna de um espetáculo teatral. O público italiano vibrava,
ovacionando aquela confusão absurda e divertida.
No final, o paletó rasgou-se no corpo de Salvatore. Tony conseguiu recuperar
o que restava da peça, mas, ao subir novamente para cantar, percebeu que faltava
uma manga. Tomado pela raiva e pelo cansaço, ele simplesmente arrancou
a outra, transformando seu elegante traje num colete improvisado.
A apresentação chegou ao fim em meio a risos e aplausos. Salvatore, ainda
tomado pelo espírito da noite, entrou no carro com uma manga do paletó
brilhante na mão, bradando:
— Eu sou Tony agora! Ano que vem, venho cantar aqui de novo! Vou
mandar fazer um paletó com essa manga como amostra para o meu alfaiate!
Deixamo-lo em sua casa com sua esposa, ainda imerso em sua euforia musical.
Enquanto isso, voltávamos para casa chorando de rir.
E assim foi mais uma noite inesquecível, festiva e deliciosamente caótica — típica
das celebrações italianas na bucólica cidade dos imigrantes!
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