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terça-feira, 20 de maio de 2025

PONTE TORTA: MEMÓRIAS DE UM MENINO E SUA RUA

 

O retorno à Rua Encantada


Foi num dia desses, ao percorrer a velha Rua Zacarias de Góes, que senti o passado sussurrar em meus ouvidos. Como um vento familiar que atravessa os anos, a nostalgia tomou conta de mim. Parei diante da casa número 67, onde passei tantos anos da minha infância. A fachada, embora marcada pelo tempo, permanecia quase inalterada, e ali, naquele instante, a vida fez um movimento curioso: voltou-se para trás e me permitiu reviver dias que pareciam adormecidos, mas nunca esquecidos.

Família, encontros e tradição

A rua era o coração pulsante da família. Dentro de dois quarteirões, primos, tios e avós se conectavam como se aquele pequeno mundo fosse nosso reino particular. Nos almoços fartos, a mesa se tornava campo de batalha dos mais velhos, que jogavam truco com gestos exagerados e gritos em italiano. O Campo "bocha", administrado pelo meu avô “Tonella”, era motivo de orgulho e disputa acalorada, onde cada jogada exigia precisão quase cirúrgica. E, claro, tudo terminava com rodadas de vinho, cerveja e cantorias melancólicas que evocavam a distante Itália.

Travessuras e pequenos delitos inocentes

A infância era feita de ousadia e descobertas. No salão do tio João "Barbeiro", a meninada se acomodava como fregueses folgados, coçando a cabeça do velho pássaro-preto até que ele soltasse aquele grito estridente que se espalhava pela rua. O futebol no campinho da Avenida Paula Penteado era um espetáculo à parte: bolas furadas pelos vizinhos, vidraças quebradas, broncas memoráveis. Mas os furtos de jabuticaba, ah! Esses eram uma arte. Entre cercas e galhos, disputávamos cada fruta como pequenos caçadores, até que um dia recebemos tiros de sal – mas isso nunca nos impediu.

Os personagens que moldaram o bairro

Além da família, o bairro abrigava figuras inesquecíveis. O Zé Preto, com seu ranchinho e sua horta, vendia verduras para minha mãe enquanto despertava uma curiosidade ingênua em nós, com seu porte imponente e feições marcantes. O Boia Béstia, motorista aposentado, se dedicava à criação de canários que eu adorava alimentar. Havia também o tio Nicola, cuja marcenaria era um mundo à parte. Lá, as confusões eram inevitáveis, e bastava uma provocação para sua careca brilhar de raiva, resultando na expulsão sumária dos meninos travessos.

Festas e celebrações que uniam a vizinhança

Quando junho chegava, as festas da Dona Nenê transformavam a rua em um cenário vibrante. O aroma de quentão e bolo de fubá se espalhava, as luzes dos rojões iluminavam o céu, e as rezas aos santos Pedro, João e Antonio uniam os corações. Mas nem tudo era inocente: o Zé Preto, encarregado dos foguetórios, emprestava alguns para os meninos que, sorrateiros, os soltavam no quintal dos vizinhos que ousavam furar suas bolas no campinho.

O mistério da Ponte Torta

Havia um limite no mundo de um menino: a curva da Avenida Paula Penteado. Além dela, começava o território desconhecido. O Grupo Escolar Siqueira de Moraes era a primeira razão para ultrapassá-la, mas havia algo ainda mais intrigante – a Ponte Torta. Minha mãe sempre alertava sobre o perigo daquele local, e por muito tempo, só pude imaginar seu formato. Seria mesmo torta para baixo? Poderia cair no rio? Essas perguntas ocupavam minha mente até que, certo dia, desafiei meus próprios medos e caminhei até lá.

Lá estava ela. Um arco imponente sobre o rio Guapeva, coberto pelo mato que crescia em suas margens. O tempo o havia conferido uma aura antiga e solene. Percebi que, além de suas pedras envelhecidas, ela guardava histórias dos imigrantes que a cruzaram, do bondinho puxado por animais, das vidas que por ali passaram. A Ponte Torta não era apenas uma estrutura: era um testemunho, um elo entre o passado e o presente.

Memórias que nunca se apagam

Hoje, ao revisitar essas lembranças, vejo que o tempo não apaga nada. Ele apenas move as peças do tabuleiro, transformando memórias em marcos eternos. A Rua Zacarias de Góes, o campinho, as vozes dos tios e primos, os gritos do truco e a melodia dos canários – tudo isso ainda vive dentro de mim. A Ponte Torta permanece como um símbolo da infância, onde um menino, curioso e destemido, desafiou os limites do próprio mundo para encontrar histórias que jamais seriam esquecidas.

 

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 Como todo escritor, busco aperfeiçoar cada linha, cada texto, cada narrativa para que a experiência de leitura seja envolvente e marcante, a escrita é uma arte em constante evolução.

Se hoje meus textos ressoam mais, se envolvem mais, se alcançam mais corações, é porque sigo me dedicando a aprimorar minha forma de contar histórias. E é essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento que desejo compartilhar com vocês!

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domingo, 4 de maio de 2025

OS BÁLSAMOS DAS MÃOS DE MINHA MÃE


QUE  ESTA  HOMENAGEM  VIVA  NO CORAÇÃO  DE QUEM  A  LER



Em uma manhã cinzenta, onde o sol parecia tímido em sua ausência, algo extraordinário chamou minha atenção no hall de minha casa. Era a singela beleza de um pequeno vaso de flores que, mesmo em sua simplicidade, trouxe aos meus olhos o esplendor da chegada de mais uma estação no eterno ciclo terrestre.

A flor, delicada e única, despertou em mim um turbilhão de memórias. Ela trouxe à tona a imagem da mulher que foi minha mãe, apaixonada por essa flor “conhecida por maio”. Com uma ternura que só ela possuía, cultivava essas flores em pequenos vasos, na nossa amada e antiga casa da Rua Zacarias de Góes. Foi lá que, entre os aromas das flores e os sons da máquina de costura, crescemos, aprendendo sobre os fundamentos do pensamento e da vida.

Minha mente, então, repousou sobre uma memória marcante: sua habilidade na arte de costurar. Não apenas como uma costureira doméstica, mas uma artista que conquistou espaço no mundo da moda, vestindo sonhos com suas mãos talentosas. Mas afinal, o que é a moda? Esse universo que minha mãe navegava com tanta destreza...

Segundo pesquisas, moda vem do latim modus, que significa costume. A evolução da vestimenta, outrora padronizada desde o nascimento até a morte, foi marcada pela Idade Média, quando as roupas começaram a refletir distinções sociais. A revolução industrial no século XVIII trouxe os avanços tecnológicos que minha mãe, em sua essência criativa, incorporou tão bem. Ela transformou tecidos em arte, costurando não apenas roupas, mas histórias, identidade e dignidade para quem as vestia.


UM POEMA PARA AS MÃOS DE MINHA MÃE

As mãos de minha mãe...

Cuidaram de alinhavos que conectavam não só partes de moldes, mas os fragmentos da família.

Fizeram bainhas que permitiram nossos sonhos crescerem, sem que fossem limitados pelo curto alcance da realidade.

Juntaram retalhos, criando mantas que nos cobriam com sua dedicação inigualável.

Prenderam botões, garantindo que nunca perdêssemos a esperança e o espírito de união.

Bordaram maravilhas, trazendo o vislumbre das dádivas da vida para o nosso cotidiano.

Criaram bolsos, lugares sagrados onde guardamos as moedas mais valiosas: nossas memórias e identidades.

E, com linhas invisíveis, conectaram seu amor eterno aos caminhos que percorremos, enquanto suas orações nos acompanham... onde quer que ela esteja.

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🔅Acredito que a escrita é uma arte em constante evolução, refinada pelo hábito, pela observação e, principalmente, pelo desejo de transmitir emoções e ideias de forma mais autêntica. 

O retorno de vocês, leitores, me motiva a buscar sempre o melhor.

🙏

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