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quinta-feira, 22 de maio de 2025

O CENÁRIO DE MEMÓRIAS SOMBRIAS


Silêncio absoluto.

Naquele instante, a atmosfera carregada denunciava que algo estava prestes a acontecer.

 O rangido metálico da porta enferrujada rompeu o vazio, seguido pelo estalido seco do interruptor da luz. 

Um clarão espalhou-se pelo cbículo fétido, revelando o piso branco, encardido, onde o frio cortante se infiltrou na pele dos pés daquela figura hesitante—de volta ao cenário de suas memórias mais sombrias.

A incredulidade apertava seu peito. Estaria ainda ali? Encarcerado em suas próprias lembranças, elas emergiam, teimosas e vibrantes, revivendo um turbilhão de emoções. As lágrimas brotaram sem resistência, escorrendo pela face e misturando-se ao chão impiedoso, onde cicatrizes de um passado cruel permaneciam gravadas.

Tateou o bolso, encontrando seu rosário, o fiel amigo que resistiu ao tempo. A cada conta que rolava entre seus dedos, imagens dos antigos companheiros se formavam em sua mente—homens que, como ele, habitaram aquele corredor de desesperança. Ali, ele fora um animal sedento, um espectro de sua própria humanidade. Outras vezes, uma flor frágil, buscando redenção. A justiça o havia condenado a esse inferno, onde as almas se perdiam sem promessa de retorno.

A oração, no entanto, brotou das trevas e foi penetrando sua alma, acalmando a tormenta que castigava sua carne e consciência. Pediu perdão, como o fez por incontáveis noites e, agora, mais do que nunca. Perdão pelas vidas que extinguiu na insensatez de sua mente adoecida.

Quando seus dedos tocaram a porta, seu corpo estremeceu com a lembrança do capelão. Aquele homem de fé lhe oferecera a extrema-unção antes de sua execução—um fim interrompido por circunstâncias misteriosas. Ele nunca soube o porquê. Mas, naquele momento, compreendia que a vida ainda lhe reservava um propósito.

A centelha de um novo caminho surgiu: tornar-se pastor. A figura do capelão, seu guia na escuridão, reverberava dentro dele como um chamado. Deixou para trás o corredor da morte e abraçou essa missão de resgatar almas.

Segurou a Bíblia que repousara nas mãos do capelão por anos—companheira silenciosa de sua espera pela sentença final. O destino, no entanto, reescreveu seu desfecho. O velho prédio, berço de sua dor, estava marcado para a implosão. O presídio que o aprisionara seria reduzido a pó. Por ironia ou justiça, foi ele quem recebeu a honra de acionar o mecanismo que o apagaria da existência.

Antes do último ato, curvou-se em prece. Ali, onde tantos haviam perecido, poderia nascer uma igreja. Um símbolo de transformação. Uma casa de fé. A marca de sua jornada como pastor de almas.

E assim, vemos como o sofrimento pode ser transmutado pelo convívio com Cristo, o eterno pescador de almas—independentemente de onde essas almas um dia tenham estado.

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 Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história. 

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sábado, 19 de abril de 2025

TONELLA, O CONTADOR DE "CAUSOS" E A "MULA-SEM-CABEÇA"

HERDEI DO MEU AVÔ O POSTO DE CONTADOR DE HISTORIAS

Tive a felicidade de conviver muito de perto com Tonella, pois morávamos juntos com minha família e compartilhávamos o mesmo quarto até o dia de seu falecimento, quando eu tinha dezesseis anos. Essa convivência me permitiu conhecer, em detalhes, suas histórias, sua força e sua essência.

Tonella tinha o dom de contar causos e “estórias” de sua vida no sertão da velha Banharão, distrito da cidade de Jaú, onde nasceu a maioria dos nossos parentes. Seus relatos eram vívidos, cheios de emoção, e conseguiam transportar qualquer ouvinte para tempos remotos, onde bravura e mistério se entrelaçavam.

Com o avançar da idade, já sem forças para cuidar da plantação de café e dos animais, a família decidiu mudar-se para Jundiaí em busca de melhores condições de vida. Na juventude, porém, meu avô era um homem forte e destemido. Sua especialidade era treinar cavalos para espetáculos circenses, além de domar burros e mulas para o árduo trabalho nas lavouras. Essa habilidade lhe rendeu fama na região e bons ganhos financeiros, permitindo-lhe até comprar um Ford "Bigode" novinho. Curiosamente, apesar de sua coragem para enfrentar animais selvagens, ele tinha receio de dirigir o carro, deixando essa tarefa para meu pai, Vico.

Minha avó, segundo o velho Tonella, era uma benzedeira convicta e também parteira. Com o tempo, aperfeiçoou seus rituais, incorporando gestos e palavras que conferiam um toque ainda mais místico às suas práticas. Ela molhava ramos de uma planta do quintal em "água benta" e os agitava sobre a cabeça das pessoas, pronunciando palavras que pareciam vir de um tempo esquecido.

A tradição das mulheres benzedeiras da família remonta a gerações e tem raízes profundas nas terras europeias, mais precisamente nos confins da cidade de Treviso, na bela Itália. No entanto, com o passar dos anos e a chegada do modernismo, as jovens descendentes se afastaram das crenças antigas, deixando que a tradição se perdesse pelos caminhos da vida.

Ainda sobre os trabalhos de benzedura de minha avó, era comum ver gente vinda de longe para passar pelas suas mãos, buscando cura ou um bom parto. Durante o ritual, ela balbuciava frases em um idioma ancestral e difícil de compreender. Acreditava-se que aqueles que se sentavam no pequeno banco de madeira para receber suas bençãos poderiam ter visões da temida mula-sem-cabeça. E então, instigados pelo medo e pelo misticismo, confessavam seus pecados e saíam dali acreditando estarem livres de seus males.

O tropel da mula-sem-cabeça, segundo meu avô, era um aviso. Quando o "doente" ouvia o som inquietante dos cascos rodeando a casa, era proibido olhar, nem mesmo por uma fresta da janela, sob o risco de ficar cego. As histórias contadas por minha avó eram envoltas em mistério e temor, e geravam respeito entre os que buscavam sua ajuda.

Ainda segundo Tonella, minha avó—ou mia nonna, meglio conosciuta come la vecchia signora—alertava sobre os perigos do pecado: moças que se entregassem a um amor proibido antes do casamento, comadres que se envolvessem com compadres, ou mesmo uma mulher que se casasse com um padre, todas estavam fadadas a se transformar na terrível mula-sem-cabeça.

Dizia também que ela aparecia nas noites de sexta-feira e, ao encontrar um pecador, sugava-lhe os olhos, as unhas e os dentes, soltando fogo pelas narinas. Se a vítima sobrevivesse, acreditava-se que a cura havia sido alcançada. E para aqueles que, tomados pelo medo, desejavam evitar o encontro com a criatura, bastava não cruzar correndo diante de uma cruz à meia-noite.

Os mitos e lendas brasileiras percorrem os lares de nosso povo, despertando temor e alimentando a imaginação, assim como fazia minha avó Santa e seu fiel escudeiro, o marido, meu avô Tonella. Essas histórias vagam por diversos lugares ao mesmo tempo, mudam nomes e características, mas nunca desaparecem. Permanecem vivas, misturando-se às crendices e ao lado sombrio do inconsciente coletivo.

terça-feira, 28 de março de 2017

PADROEIRO DE UMA NAÇÃO

Diz uma lenda que, por volta do século dois, uma princesa do país Líbio, incrustado no continente africano, seria dada como oferenda a um dragão que atemorizava a cidade. Todos os outros recursos para combatê-lo foram feitos à custa de muitos sacrifícios, não surtindo resultados satisfatórios, uma vez que seus ataques mortíferos vinham dizimando a população. Essa proposta foi alardeada ao povo por um dos súditos do rei, informando que essa alternativa saciaria a sede da fera, em razão de uma visão na noite anterior, como a mais apropriada, e assim, a população seria salva por mais algum tempo. O rei não achou nenhuma graça da situação e não queria perder a sua bela filha; lembrou, então, que, em suas fileiras de soldados, havia um guerreiro de nome Jorge, homem de sua inteira confiança e ferrenho admirador da princesa, e tudo faria por ela. Foi, então, escalado, no time do rei, para aniquilar o monstro que incomodava o povo e que vivia próximo a uma caverna e, à noite, lá se escondia. Jorge chegou ao local com um ar de quem não queria nada; pesquisou a situação, analisou sua estratégia guerreira, procurando um lugar para atacar e depois defender-se do animal. Senhor de si, montou em seu cavalo e com um escudo sobre o peito nas cores branco, preto, e de contornos vermelhos, entrou por uma abertura da caverna e foi logo “atiçando” o monstro com a sua espada pontiaguda, convidando-o a sair. Fala a lenda que a luta foi infernal! O vento assoprado por suas narinas misturava-se com as labaredas que soltava pela boca e iam sendo lançadas por onde o guerreiro Jorge estava se protegendo. Mas, não deu outra: Jorge avançou mais um pouco e, meio sorrateiro, chegou à retaguarda do bicho e fincou sua lança, ferindo-o mortalmente. Muito se fala de animais cuspidores de fogo, mas sem dúvida o mais famoso é o dragão. E, na escalada de emoções do povo daquela época, surgiu o guerreiro Jorge que, depois de salvar a donzela daquela situação de morte, entrou para a história como um símbolo de coragem, acabando com o monstro, exibindo toda a sua efervescência de um nobre lutador por amor à princesa, e que, por sua bravura e tenacidade, acabou virando um santo. Desde então, passou a ser adotado como um ideal de coragem e abnegação. Fato que é transportado até os nossos dias, onde é tido como o padroeiro do nosso glorificado e sagrado time de futebol, chamado Corinthians, a paixão de mais de trinta milhões de brasileiros. Acredita-se que a devoção e a fidelidade à princesa fez com que se tornasse venerado por muitas pessoas; e o nosso ‘coringão’ adotou o termo fiel, para expressar a paixão de uma nação. Em 2009, a chegada do Ronaldo foi um baluarte na conquista do Paulistão e da Copa do Brasil; mas não conseguiu ajudar, no ano seguinte, conquistar a sonhada ‘Libertadores’. Após sua aposentadoria, tornou-se um torcedor fanático pelo ‘timão’, sendo considerado por alguns, como um “guerreiro, discípulo de São Jorge”, entrando para a história do clube também como um embaixador, levando o nome do Corinthians aos quatro cantos do mundo. Os mais alucinados disseram que viram Ronaldo, após os jogos, em noites de conquistas, cavalgar no cavalo branco de São Jorge, pelas ruas do Parque, saudando as estátuas de Claudio, Luizinho, Baltazar, Idário, Gilmar e outros craques do passado e acenando para a imensa nação de torcedores, que foram lá reverenciá-lo.

A INSENSATA MORDAÇA

  O SUPLÍCIO DE UM EXÍLIO Uma crise se instalou. Povo assustado! Revolta estudantil. Para mudar o país. A força da caserna se apresentou. Av...