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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O CAMINHO DA CRUZ

O
CAMINHO DA CRUZ









Tudo estava quieto... Naquele momento, pressentia-se que alguma coisa pudesse acontecer a qualquer instante; o ranger da porta enferrujada foi ouvido, o interruptor da luz foi acionado, um clarão esparramou-se sobre aquele cubículo fedorento; enxergou-se um piso branco e encardido, o frio gelado penetrou nos pés daquela criatura que voltava ao local e, por ironia do destino, lembrar-se do seu passado.

Ele estava incrédulo e tinha a sensação de que ainda continuava ali, encarcerado. Suas lembranças, um pouco recalcitrantes, penetraram em sua mente com um fulgor de emoções. Não conteve as lágrimas que rolaram na face e caíram naquele piso horripilante, onde as marcas deixadas eram de um destino que, em um momento de fraqueza, também estiveram em sua vida.

Retirou do seu bolso o amigo rosário, e, a cada conta que rolava entre seus dedos, lembrava-se dos antigos companheiros que habitaram aquele corredor onde vegetou como um animal, muitas vezes, em estado de cio, outras em forma de uma flor, pois a justiça o condenara a viver naquele antro de perdição.

Através das orações, a cura de seus males foi calando em sua alma e seu corpo; pediu muito perdão naqueles dias e, agora, ainda mais, principalmente pelas vidas que deixaram de existir pela estupidez de sua mente doentia. Ao abrir aquela porta, lembrou-se do capelão que veio lhe oferecer a extrema-unção momentos antes de entrar na câmara de gás, cujos procedimentos foram suspensos, por motivos que não soube ao certo.

Percebeu, naquele momento, que sua vida ainda tinha um sentido; veio, então, o desejo de tornar-se um pastor, porque a figura do religioso que ouviu sua confissão ainda repercutia. Saiu do corredor da morte com esse firme propósito: buscar a salvação de almas.
Apanhou a bíblia que tinha deixado nas mãos do capelão e que foi sua companheira durante muitos anos, enquanto aguardava a sentença de morte.

Quis o destino que, depois de muito tempo, aquele prédio teria que ser demolido. Uma implosão iria acontecer; ele foi lembrado pelo capelão do presídio por ter se transformado em um religioso e, para ele, acionar o mecanismo que colocaria abaixo aquele pardieiro, seria um presente para se livrar do passado.

Em suas preces, antes do ato final, imaginou que ali poderia ser construída uma igreja, marcando sua trajetória como um pastor de almas.


Assim, podemos enxergar com exatidão como os personagens e as situações podem ser transformadas para o bem, no convívio de Jesus, eterno pescador de almas, não importando as origens. 

terça-feira, 28 de março de 2017

PADROEIRO DE UMA NAÇÃO

Diz uma lenda que, por volta do século dois, uma princesa do país Líbio, incrustado no continente africano, seria dada como oferenda a um dragão que atemorizava a cidade. Todos os outros recursos para combatê-lo foram feitos à custa de muitos sacrifícios, não surtindo resultados satisfatórios, uma vez que seus ataques mortíferos vinham dizimando a população. Essa proposta foi alardeada ao povo por um dos súditos do rei, informando que essa alternativa saciaria a sede da fera, em razão de uma visão na noite anterior, como a mais apropriada, e assim, a população seria salva por mais algum tempo. O rei não achou nenhuma graça da situação e não queria perder a sua bela filha; lembrou, então, que, em suas fileiras de soldados, havia um guerreiro de nome Jorge, homem de sua inteira confiança e ferrenho admirador da princesa, e tudo faria por ela. Foi, então, escalado, no time do rei, para aniquilar o monstro que incomodava o povo e que vivia próximo a uma caverna e, à noite, lá se escondia. Jorge chegou ao local com um ar de quem não queria nada; pesquisou a situação, analisou sua estratégia guerreira, procurando um lugar para atacar e depois defender-se do animal. Senhor de si, montou em seu cavalo e com um escudo sobre o peito nas cores branco, preto, e de contornos vermelhos, entrou por uma abertura da caverna e foi logo “atiçando” o monstro com a sua espada pontiaguda, convidando-o a sair. Fala a lenda que a luta foi infernal! O vento assoprado por suas narinas misturava-se com as labaredas que soltava pela boca e iam sendo lançadas por onde o guerreiro Jorge estava se protegendo. Mas, não deu outra: Jorge avançou mais um pouco e, meio sorrateiro, chegou à retaguarda do bicho e fincou sua lança, ferindo-o mortalmente. Muito se fala de animais cuspidores de fogo, mas sem dúvida o mais famoso é o dragão. E, na escalada de emoções do povo daquela época, surgiu o guerreiro Jorge que, depois de salvar a donzela daquela situação de morte, entrou para a história como um símbolo de coragem, acabando com o monstro, exibindo toda a sua efervescência de um nobre lutador por amor à princesa, e que, por sua bravura e tenacidade, acabou virando um santo. Desde então, passou a ser adotado como um ideal de coragem e abnegação. Fato que é transportado até os nossos dias, onde é tido como o padroeiro do nosso glorificado e sagrado time de futebol, chamado Corinthians, a paixão de mais de trinta milhões de brasileiros. Acredita-se que a devoção e a fidelidade à princesa fez com que se tornasse venerado por muitas pessoas; e o nosso ‘coringão’ adotou o termo fiel, para expressar a paixão de uma nação. Em 2009, a chegada do Ronaldo foi um baluarte na conquista do Paulistão e da Copa do Brasil; mas não conseguiu ajudar, no ano seguinte, conquistar a sonhada ‘Libertadores’. Após sua aposentadoria, tornou-se um torcedor fanático pelo ‘timão’, sendo considerado por alguns, como um “guerreiro, discípulo de São Jorge”, entrando para a história do clube também como um embaixador, levando o nome do Corinthians aos quatro cantos do mundo. Os mais alucinados disseram que viram Ronaldo, após os jogos, em noites de conquistas, cavalgar no cavalo branco de São Jorge, pelas ruas do Parque, saudando as estátuas de Claudio, Luizinho, Baltazar, Idário, Gilmar e outros craques do passado e acenando para a imensa nação de torcedores, que foram lá reverenciá-lo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

TONELLA, O CONTADOR DE "CAUSOS" MULA SEM CABEÇA


Toninho Vendramini Neto do Tonella, herdou do avô o posto atual de  contador de histórias e estórias
Tive a felicidade de conviver muito de perto com o Tonella, (apelido do meu avô no idioma italiano), pois morava com minha família, e partilhávamos o mesmo quarto de dormir, até o dia de seu falecimento, quanto eu tinha dezesseis anos de idade.

Era um homem que tinha como virtude, o dom de contar acontecimentos e “estórias”, vividos por ele lá no sertão da velha Banharão distrito da cidade de Jaú, onde a maioria dos parentes nascera.

Quando envelheceu e não podia mais cuidar da plantação de café e lidar com os animais, a família veio para Jundiaí em busca de melhor posição e condição de vida.

Na época de juventude, o meu avô era um homem forte e tinha como especialidade treinar cavalos para shows circenses; também amansava animais selvagens, (burros e mulas) para o trabalho de tração nas lavouras. Essas atividades o deixaram famoso em toda a região e rendiam-lhe um bom dinheiro, chegou até comprar um veiculo Ford “bigode” novo, cujo motorista era o meu pai Vico, uma vez que ele tinha medo de chegar perto.

Minha avó, dizia o velho Tonella, era uma benzedeira convicta e também parteira. Com o passar do tempo, agregou ao ritual novos gestos e falas; molhava alguns ramos de uma planta que tinha no fundo do quintal em uma “água benta” e espalhava sobre a cabeça das pessoas.

Essa tradição de mulheres benzedeiras da família veio de muitas outras gerações e teve como origem as terras europeias, lá nos confins da cidade de Treviso da bela Itália. 

Com o modernismo das jovens descendentes em terras brasileiras, a tradição se perdeu pelos caminhos da vida.

Mas, voltando a falar dos trabalhos de benzedura praticado por minha avó, quando vinha gente de muito longe, para passar pelas suas mãos, objetivando o nascimento ou uma cura, evocava e balbuciava algumas frases no idioma nativo de difícil compreensão. Falava para as pessoas que se sentavam sobre um banquinho de madeira, aguardando o ritual final, que iriam ter visões de uma mula sem cabeça, e que era para falar toda a verdade. As pessoas, quase morrendo de medo, entregavam o pecado e acreditavam piamente saírem de lá curadas, ou sem mais nenhum mal sobre sua cabeça.

Quando o “doente” escutava o tropel da mula, rodeando a casa, enchendo os espíritos de inquietudes, não podia olhar, nem sequer pela fresta da janela, pois corria o risco de ficar cego.

Segundo ainda o meu avô Tonella, mia nonna, meglio conosciuta come la vecchia signora (minha avó, mais conhecida como a velha senhora), falava para as pessoas que, se uma moça se aventurasse em um idílio amoroso antes do casamento, ou ainda uma comadre que se ligava com um compadre, ou mulher que se casasse com padre, iria virar mula-sem-cabeça.

Dizia também que ela aparecia nas noites de sextas-feiras e, encontrando um pecador, chupava-lhe os olhos, as unhas e os dentes, alem de soltar fogo pelas ventas. Quando isso acontecia e a pessoa sobrevivia, dizia o Tonella que a cura fora alcançada e, para quem com medo não queria enxergá-la, porque tinha cometido um pecado, não podia passar correndo diante de uma cruz à meia-noite.

Finalizando, digo que os mitos e lendas brasileiras andam pelos lares de nosso povo assustando e fazendo a imaginação voar, como fazia minha avó Santa e o seu fiel escudeiro, o marido, meu avô “Tonella”.
 
As lendas, às vezes, estão em vários lugares diferentes ao mesmo tempo. Os nomes podem variar e algumas características também, mas suas histórias e aparições não morrem e misturam-se às crendices, oriundas do lado sombrio do inconsciente coletivo.




A CIÊNCIA ADIVINHATÓRIA

Desde os tempos imemoriais, tem o homem procurado antever os efeitos de origem física, biológica e de inúmeras outras, surpreendendo as leis...