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segunda-feira, 21 de abril de 2025

CHICÃO, O ETERNO BOLEIRO E SUAS PÉROLAS INESQUECÍVEIS

                           A GORDUCHINHA BEIJOU A REDE...


Chicão foi aquele tipo de jogador genuíno, o "boleiro raiz", que conquistava a torcida mais pelo carisma do que pelo talento. Atuou em um dos grandes clubes de São Paulo, mas, como acontece com todos os atletas, o tempo lhe cobrou o preço. Sua técnica já não era a mesma e, no final da carreira, encontrou espaço em um clube menor do interior, ainda na divisão principal. Mas isso não diminuiu seu brilho—pelo contrário, tornou-se ídolo local.

Jogando como volante, era peça fundamental na organização das jogadas, distribuindo a bola pelo meio de campo. A torcida adorava seu estilo aguerrido e, especialmente aos domingos, as moças suspiravam com sua presença em campo. O carinho da torcida era tão grande que ele recebia flores antes dos jogos, gesto que retribuía com simpatia e elegância. Sempre atento aos fãs, fazia questão de dar atenção especial às crianças que o abordavam pedindo um cumprimento ou um afago.

Mesmo com dificuldades na expressão verbal, sua espontaneidade compensava qualquer problema com as palavras. Nas entrevistas, ele arrancava risadas, e foi justamente essa autenticidade que o ajudou a construir sua aura lendária.

De boleiro a político—ou quase

A fama extrapolou os limites do futebol e Chicão decidiu se aventurar na política. Sua popularidade garantiu uma enorme quantidade de votos, tornando-se vereador da cidade. No entanto, sua vocação para a política era bem menor do que sua paixão pelo futebol. Faltava a muitas reuniões porque preferia estar nos gramados, e sem projetos concretos, sua carreira política teve vida curta.

Mas foi nos microfones que seu carisma se revelou ainda mais. Suas entrevistas geraram momentos icônicos, como quando um repórter pediu que ele saudasse o público e ele respondeu com toda simplicidade:
"Boa noite, microfone!"

Ou quando, lesionado e impossibilitado de jogar, gritou palavras de incentivo ao seu substituto no alambrado e garantiu:
"Comigo ou sem-migo, o time vai ganhar!"

A cidade inteira repetia suas frases como bordões! E quando sua equipe jogou em Belém do Pará, soltou outra pérola histórica:
"É uma satisfação muito grande jogar aqui nesta terra onde nasceu Jesus Cristo!"

Da bola ao microfone—e a confusão que virou lenda

Após o fim da carreira, o clube tentou ajudá-lo conseguindo um emprego em uma rádio esportiva, onde começou como assistente de repórter. Seu entusiasmo era enorme, e ele gostava de estar próximo ao campo, vivendo intensamente cada jogo. Mas seu jeito irreverente também gerou episódios memoráveis.

Certa vez, substituindo um repórter que teve uma emergência intestinal durante uma transmissão, foi chamado para descrever uma jogada e soltou sem pensar:
"Nosso lateral tem pé de bosta, se fosse eu teria feito o gol."

O coordenador correu para alertá-lo, pedindo para ter cuidado com as palavras. Mas Chicão era Chicão—e sua espontaneidade era incontrolável. Durante uma tempestade que interrompeu um jogo, ouviu o locutor dizer:
"Chove torrencialmente pelos quatro cantos do gramado."

E completou sem hesitar:
"Inclusive no meio!"

Mas foi seu último erro no microfone que selou seu destino. Ao ser chamado para ajustar o som da transmissão, sem perceber que estava no ar, disparou:
"Aqui embaixo é uma merda só! É choque para tudo quanto é lado, até meu rabo tá pegando fogo!"

O presidente da rádio, furioso, dispensou Chicão e toda a equipe envolvida naquele desastre de transmissão. Com o tempo, os patrocinadores abandonaram a emissora, e as frases do Chicão viraram folclore na cidade, sendo contadas e recontadas como verdadeiras pérolas do futebol.

Curiosidades sobre Chicão

  • Seus bordões eram citados até na capital, ganhando espaço em colunas esportivas de jornais.

  • Mesmo sem grandes habilidades políticas, seu carisma conquistava os eleitores, que ainda lembram dele com carinho.

  • Após sua saída da rádio, ninguém soube seu paradeiro, tornando sua história uma verdadeira lenda urbana.

A trajetória de Chicão é uma mistura de paixão pelo futebol, espontaneidade e humor involuntário. Um personagem marcante, que deixou sua marca no esporte e na cultura popular de sua cidade!

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quinta-feira, 3 de abril de 2025

CIÚMES DA VIOLA

 UM TEXTO HUMORADO E ALUSIVO AS VIOLAS E ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO.

Em uma longínqua cidadezinha do interior, conhecida por Jacundá Mirim, vivia um caboclo muito conhecido por “Juca guizo de cobra”. Carregava esse apelido desde criança, porque seu pai, em uma noite de festa de São João, com muita pinga rolando de boca em boca, teve uma visão, anunciando que o seu filho mais novo, iria se tornar um grande violeiro.

Para tanto, deveria, junto com o menino, capturar uma cascavel, enrolá-la em seu braço direito e fazer várias rezas em uma capela abandonada na beira da estrada do local onde moravam, para que a “profecia” fosse realizada.

Partiram para lá e viram uma cobra enrolada nos pés do único santo que estava postado em um altar todo empoeirado, que todos diziam milagreiro, pois as pessoas, em desespero de causa, iam buscar, naquele local, apoio para suas dificuldades. Foi uma correria danada dentro do local, até que conseguiram apanhar a serpente.

Ainda na visão do Zé Mangabeira, pai do Juca, no dia seguinte deveria sacrificá-la, pois era sexta-feira dia treze e, tudo estava acontecendo, conforme recebido em sua visão.

Feito isso, pai e o filho deveriam cortar a cabeça e o guizo e deixar aquelas partes secarem ao sol, sobre um pé de aroeira.

Depois dessa etapa, os ossos deveriam ser colocados dentro de uma viola, que não podia ser comprada, tinha que ser presenteada, o que fez um dos seus tios, por imposição do pai, o Zé Mangabeira.

Assim sendo, Juca não precisou aprender a tocar o instrumento; esse “dom” foi concebido em uma noite de luar, quando o tio lhe entregou a viola na presença do pai. Acarinhou-a de mansinho e logo foi colocando o nome, Lucinda, que já tinha no pensamento. Naquele instante, começou a palmeá-la com sutileza e muita delicadeza, tornando-se desde então, um tocador inigualável.

Não deixava ninguém chegar perto de Lucinda, porque alguns sabiam daquela “estória do guizo” e queriam ver o chacoalhar diferente da caixa de som, produzido pelo dedilhar do Juca, ágeis que nem uma cobra, transformando velhas canções como “Abismos de Rosas”, em solos entorpecedores, deixando as pessoas maravilhadas.

Sua fama correu fronteiras, e assim, era chamado para tocar nas festas de peão-boiadeiro, casamentos e bailes de cocheiras.

Nos momentos dos intervalos dos shows, quando ia ao sanitário, tinha que levá-la, pois não confiava em deixá-la com alguém; assim, comprou um cachorro, daquele tipo policial, a quem confiou a guarda, o que fazia com dedicação; ninguém se atrevia chegar perto da viola, que ele, Pitoco, rosnava e latia.

Não tinha empresário, tudo era acertado nos momentos que antecediam uma apresentação; não gostava de tratar nada por telefone. E assim foi crescendo ainda mais sua fama de violeiro, tendo por companheiros a viola Lucinda e o cachorro Pitoco.

Em suas apresentações, o locutor do rodeio assim o apresentava

Era uma alegria imensa, porque, conforme Juca dedilhava a viola, Pitoco uivava sem parar, como se fosse um acompanhante da música, mas no fundo eram ciúmes da Lucinda; ele a queria tanto, que dormia ao seu lado, e Juca podia ir para a farra, que não havia perigo de ninguém entrar em seu camarim, para olhar o que tinha dentro da caixa de som; curiosidade que tinham, pois o solo que Juca apresentava era diferente.

Os anos passaram, e a fama de Juca continuava a crescer, mas também trazia novas responsabilidades e desafios. Em uma noite de festa, enquanto se apresentava em uma grande cidade pela primeira vez, algo inusitado aconteceu. Durante um de seus solos impressionantes, a caixa de som da Lucinda soltou um som estranho, como o sibilo de uma cobra viva. A plateia ficou em silêncio absoluto, até que Pitoco começou a latir e avançar em direção ao palco, como se pressentisse algo.

Nesse instante, Juca sentiu um frio percorrer a espinha. Ao olhar para a plateia, notou um homem idoso, vestido de preto, parado entre as pessoas. Seus olhos brilhavam de uma forma assustadora, e ele sussurrou algo que Juca não conseguiu entender, mas que parecia ecoar diretamente em sua mente.

Depois do show, Juca começou a receber cartas misteriosas. Todas traziam o mesmo pedido: que ele entregasse a Lucinda para “quebrar a maldição”. A princípio, ele ignorou, mas os eventos estranhos começaram a se intensificar. Pesadelos o atormentavam, e Pitoco uivava todas as noites para um canto vazio do quarto.

Decidido a entender o que estava acontecendo, Juca procurou uma senhora conhecida como Dona Benedita, a guardiã das antigas tradições de Jacundá Mirim. Ela revelou que o espírito da cascavel não havia descansado e que sua música carregava um poder que podia tanto encantar quanto amaldiçoar. Para resolver isso, ele teria que enfrentar um grande teste: retornar à antiga capela onde tudo começou e tocar a Lucinda até o amanhecer, sem errar uma única nota.

No dia marcado, Juca partiu com Lucinda e Pitoco. A noite estava clara, iluminada por uma lua cheia. A capela, abandonada e quase em ruínas, parecia viva sob o luar. Quando Juca começou a tocar, as paredes vibraram, e o som da cascavel ecoou ao redor. Pitoco ficou ao lado dele, rosnando baixinho, enquanto figuras sombrias pareciam se formar nos cantos da sala.

A cada canção, a tensão aumentava. Mas Juca, com a habilidade que só ele tinha, continuou firme, enquanto o céu começava a clarear. Quando a primeira luz do sol atravessou a janela, a capela ficou em silêncio. A vibração cessou, e Lucinda brilhava como nunca antes. O espírito da cascavel havia finalmente sido libertado.

Desde então, Juca continuou a tocar, mas com um novo propósito. Sua música, agora livre de qualquer feitiço, parecia ainda mais mágica, tocando os corações de todos que a ouviam.


O retorno de vocês, leitores, me motiva a buscar sempre o melhor.

🙏

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