Quem sou eu

Mostrando postagens com marcador Catedral. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Catedral. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 29 de julho de 2025

O SINO QUE DESPERTA A NATUREZA




Há sons que apenas corações atentos escutam. Eles não ecoam apenas nas montanhas — ressoam nas memórias, nas estações, nas transformações silenciosas que moldam a existência. Este conto é uma jornada sensorial por vales e pensamentos, guiada pelo som de um simples sino que guarda segredos de vidas passadas, presentes e futuras.

  emoção e surpresa

Escuto, lá no fundo do vale, um som que serpenteia por entre o silêncio e se eleva sobre o pico verdejante da montanha. A relva, fina e úmida pelo orvalho da manhã, envolve meu corpo cansado — não apenas das trilhas percorridas com os pés, mas das que percorri com a alma, por paisagens que só o pensamento conhece.

O som se aproxima com a lentidão de um segredo. Apoio a cabeça entre as mãos, acolho minhas orelhas e tento decifrar a origem. Ele se torna agudo, quase chamativo, como se a própria montanha quisesse me dizer algo. Entre trilhas sinuosas, surgem criaturas: caprinos, fiéis aos desníveis íngremes que desafiam gravidade e lógica.

Lá estava ele — o líder. Um macho de olhar firme e passo preciso. No pescoço, uma sineta dourada, ecoando sua soberania nas encostas. Suas orelhas pendiam como estandartes, seu cavanhaque balançava com o vento, e seus olhos dirigiam o grupo com autoridade. Qualquer aproximação indesejada era punida com coices e mordidas. Um rei entre penhascos.

Distante, mas presente, vinha o condutor daquele rebanho quase coreografado. Era um garoto — olhos atentos, pés firmes. Ao seu lado, um cão pastor com instinto aguçado. Juntos, guiavam fêmeas em lactação, matéria-prima de um queijo artesanal que perfumava os mercados do vilarejo.

Curioso, perguntei sobre o sino. O garoto, com simplicidade encantadora, respondeu que ele era sua bússola sonora — sua forma de saber onde estava o coração do rebanho. E ali, sob o céu cor de bruma, comecei a refletir: o que representa o som de um sino?

Lembro de sinos dobrando por grandes acontecimentos — pela partida do Papa João Paulo II, pela euforia infantil do recreio escolar, pela explosão de alegria no último dia do ano em minha cidade.

Percebo que os sinos nunca tocam por acaso. Seu som é expressão. E quem o faz soar, carrega a responsabilidade de emocionar, anunciar ou despedir. O badalador da catedral, o servente da escola, o sacerdote da matriz… cada um com seus “toques”, cada um com suas intenções.

Penso nas folhas caindo: não fazem barulho como os sinos, mas talvez deveriam. São despedidas silenciosas da estação. Os pássaros silenciaram, as formigas recolheram-se, e o outono começa sua sinfonia suave.

O que sobra de som, agora? Talvez um sino que toque esperança, que nos convide a deitar na relva molhada e imaginar manhãs quentes, repletas de luz e alegria.

Então, num instante poético, escuto as folhas douradas caindo, varridas pelo vento, abrigando-se no solo fértil. E ali, germina o futuro. Sementes iniciam sua dança invisível rumo à vida. E quando enfim romperem a terra em verdes esplendores, um novo sino badalará — alto, vibrante — celebrando o nascimento de um novo ciclo, de uma nova estação, de uma nova chance para nossa mãe natureza ser reverenciada, e não ferida.

 UM NOVO SINO BADALARÁ

Os sinos continuarão dobrando, para quem sabe escutar. Seja nas montanhas ou nos corações, eles guardam a música do mundo — aquele que sonha, floresce e resiste. Que possamos ser o som que anuncia a cura, não o silêncio que consente a destruição.

🍂 Não basta visualizar — participe! 

Inscreva-se e clique nos anúncios. Você faz toda a diferença. 

🎥 Meu canal no YouTube

📷 Slides e imagens no blog

quarta-feira, 2 de julho de 2025

UM BANCO VAZIO NA PRAÇA "FALA-MOÇO"



“FALA-MOÇO”

 

Amanheceu um banco vazio naquela praça de muito movimento, defronte à Catedral da cidade. A ausência era sentida por muitos, pois ali não estava mais um personagem marcante: o engraxate conhecido como “FALA-MOÇO”.

Esse apelido vinha de sua característica única. Sentado no banco, com sua caixa de ferramentas de trabalho, ele chamava os passantes de terno e sapatos elegantes, apontando para o calçado e, com entusiasmo, lançava seu famoso bordão:

— FALA MOÇO!

Era sua marca registrada, algo que ninguém mais ousava imitar. Seu jeito único de abordar os clientes, aliado ao talento em deixar qualquer sapato brilhando, fazia dele uma figura querida entre os fregueses. Enquanto engraxa, ele não apenas trabalhava, mas também entretinha: imitava sambas-de-breque do cantor Germano Matias, batucando com o pano na sola do sapato. Quando concluía o serviço, fazia um rodopio e, com um sorriso, agradecia uma gorjeta que muitas vezes era dada não apenas pelo brilho do calçado, mas pela simpatia contagiante.

Mudança dos tempos

Com o passar dos anos, os tempos mudaram. Sapatos de couro perderam espaço para tênis esportivos, e os engraxates começaram a desaparecer das praças. No lugar deles, apareceram vendedores ambulantes silenciosos, que expunham suas mercadorias sem o mesmo charme ou conexão com os passantes.

O FALA-MOÇO, que antes era símbolo de alegria e dedicação, começou a sentir o peso da solidão e da mudança. Nos momentos de calmaria, sentado no banco, seu olhar parecia atravessar paredes invisíveis, revisitando memórias de sua infância em uma cidade distante. "Graças ao Prefeito, posso trabalhar aqui", dizia ele com gratidão, lembrando que havia sido acolhido naquela cidade.

Mas a vida, às vezes, toma rumos difíceis. Com a chegada da bebida, o FALA-MOÇO tornou-se outra pessoa: um homem ranzinza, que assobiava para as moças e soltava gracejos inconvenientes. Foi uma transformação triste para quem, um dia, fora a alma daquela praça. A pressão dos motoristas de carros-de-praça, incomodados com seu comportamento, resultou em sua retirada dali.

O vazio na praça

Sem o banco da praça, ele vagava pelas ruas adjacentes, pedindo doses nos bares. Sua vida terminou em uma noite de frio intenso, na porta de um desses estabelecimentos. Não deixou família, filhos, ou herdeiros. Só restou o banco vazio na praça, um testemunho silencioso de sua história.

Hoje, quando o entardecer se instala, a praça se enche do canto alegre dos pardais. Pedestres passam apressados, talvez sem perceber a melancolia daquele banco. Lá do alto, os sinos da catedral badalam solenemente, convocando os fiéis para o culto. Quem sabe, entre eles, alguém se lembre do FALA-MOÇO e ofereça uma prece por sua alma.

O banco vazio ainda está lá, mas guarda ecos de um passado que parece distante. Alguns juram que, ao cair da noite, podem ouvir uma voz familiar ecoando na memória:

— FALA MOÇO!


Curtiu o conteúdo?  

Sempre que houver anúncios disponíveis, você pode apoiar este espaço com um simples clique. Isso me ajuda a continuar trazendo textos exclusivos e de qualidade para você. Caso veja um anúncio, aproveite para explorá-lo e contribuir com o blog!

Compartilhe nos comentários

 Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história. 

📌 Acesse abaixo, links para os meus espaços de cultura e amizade:

https://www.youtube.com/channel/UCRlNHGeM8Akv-xN-gtVK0rw

http://sergrasan.com/toninhovendraminislides/

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

UM CONTO ABORDANDO O FINAL DO REINADO DO PAPA JOÃO PAULO II

UM CONTO ABORDANDO O FINAL DO REINADO DE JOÃO PAULO II


Essa narração não é bem a trajetória real dos acontecimentos... Na minha visão de escritor, a imaginação campeia solta em busca de um bom motivo para escrever uma crônica ou um conto, mas o fato da morte desse grande estadista foi verdadeiro. Estou falando do Papa João Paulo II, nascido Karol Jozef Wojtyla.

O seu longo reinado estava chegando ao fim. Sua morte se aproximava rapidamente. Aquele homem, já considerado pela humanidade como um santo, necessitava contar o segredo que guardou por tanto tempo. O povo, reunido em orações na monumental praça rodeada por  estátuas de santos, aguardava, em silêncio, o momento final.

Ele já enxergava a alma em levitação, querendo deixar o corpo terreno. Sua luta neste mundo foi produto de uma jornada de muita compreensão e perseverança entre os homens do povo e os Chefes de Estado com quem se reuniu inúmeras vezes, na busca incansável pela paz entre os seres humanos providos de bons pensamentos.

Sentia uma emoção incontrolável em razão da doença e do avanço da idade, mas tinha que revelar o que guardou por muito tempo. Imaginou como seriam os esforços de seu confessor para realizar a difícil tarefa da revelação, em razão de um mundo atormentado onde as religiões andam de olhos vendados, ignorando as vidas perdidas em guerras políticas e insanas dos fanáticos.

Em sua cabeceira encontravam-se seus assessores diretos, alguns em fervorosas orações, outros já providenciando o protocolo para os dias que se seguiriam ao seu funeral. Ele estava ali, inerte, e sem forças nos intramuros de seu reduto religioso.

Na porta de seus aposentos estavam seus soldados, com uniformes bufantes e coloridos desenhados por Michelangelo, com a arma medieval, a alabarda, uma espécie de lança com uma placa de metal em forma de meia-lua na ponta. São os tradicionais guardas suíços que fazem a proteção pessoal do Sumo Pontífice, no imenso palácio, há mais de quinhentos anos.

Na parede da minha memória sobrou uma lembrança e, em forma de “momentos do passado”, voltei a esse local, onde, com a minha esposa, assistimos a uma missa campal, com ele presidindo os sacerdotes nos procedimentos religiosos, embaixo de chuva e, mesmo assim, os fiéis permaneciam naquele solo sagrado. 

Ao fundo, enxergávamos a Basílica, erguida no mesmo local onde Simão Pedro, o primeiro Papa, havia sido crucificado no ano 67 d.C.. Foi daí que a Cidade do Vaticano começou a surgir, em 313, com a conversão do Imperador Romano Constantino ao cristianismo.

Foi a primeira grande aliança política da Igreja, que, a um só tempo, livrou-se das perseguições e pôde construir a Basílica de São Pedro com ajuda oficial.

A história da instituição religiosa, uma invejável trajetória de sobrevivência e expansão ao longo dos séculos, seguiu a lógica de qualquer país ou governo em busca do poder.
Nas vezes em que lá estive, consegui arrebanhar muitas informações, por ser um assunto de que gosto muito. Soube que, com apenas mil habitantes fixos, esse pequeno grande país, que é a cidade do Vaticano, realiza o milagre de falar em nome de mais de um bilhão de católicos, rebanho formado por uma em cada cinco pessoas da população mundial.

Chefiado pelo Papa, soberano com poderes absolutos, o Vaticano é uma inusitada monarquia em que o trono não é transmitido por herança, mas disputado no voto, em eleições quase sempre dramáticas, das quais os Cardeais, e só eles, participam na dupla condição de eleitores e candidatos.

Esse é o foco desse conto, com personagens reais e fatos imaginários, que abordarei daqui em diante. O enriquecimento do assunto se fez presente nas visitas internas que fizemos aos museus e outras dependências, culminando na Capela Sistina, que, além de ser um local de peregrinação, é onde se conhece um novo Papa, após os funerais do antecessor. Assim, vislumbrei um dia escrever sobre o assunto em forma de ficção, obra da fértil imaginação de quem começa a escrever.

Antes de seu suspiro final, João Paulo II mexe a cabeça para o lado esquerdo de sua cama onde, sobre um móvel centenário, havia uma antiga bíblia. Olhando firmemente, fez um sinal com os olhos ao assessor direto, o cardeal Joseph Ratzinger.

Este, sabendo e conhecendo todos os seus gestos transmitidos ao longo do secretariado, entendeu o recado e se aproximou com delicadeza e suavidade.

Apontou para a bíblia que continha um crucifixo separando algumas anotações feitas dias antes. Conversaram em voz praticamente inaudível, aos sussurros e lágrimas; ninguém se aproximou, compreendendo o colóquio religioso daquelas duas criaturas que se entenderam perfeitamente durante os longos anos de cumprimento do dever em nome de Jesus Cristo e Deus nosso Senhor.

Criou-se e instalou-se ali, O Peso de Um Segredo e o Limiar de Uma Nova Era.

Quase sem forças para andar tamanha era a carga que lhe pesava sobre os ombros, sentiu um baque profundo, empalideceu, suas pernas tremeram, sua voz recolheu-se em estado de profunda emoção e não conseguiu proferir uma só palavra aos demais presentes. Viu seu mentor partir, ajoelhou-se em grande respeito e recolheu-se em meditação na capela Sistina, fitando o painel do Juízo Final, de Michelangelo.

Olhando aquela magnífica obra de arte no teto da capela, bailou, em sua mente, a disposição que lhe pesou quando da revelação de João Paulo II, entregando-lhe a missão e a dificuldade que teria que desempenhar para a realização.

Imaginou que se fosse eleito Papa, deveria se espelhar no “drama” que viveu Miguelangelo com o Papa Julius II, transformando aquela empreitada em “agonia e êxtase” e pôde retratar, em um grande afresco, as pinturas na abóboda da capela.

Com esse pensamento, continuou em meditação, pediu ajuda celestial aos céus e desenvolveu um plano que começou arquitetar mentalmente. Não tinha muito tempo, pois, logo em seguida, vieram ao seu encalço, os representantes da sucessão, informando-lhe que, a partir daquele momento, se tornaria o “camerlengo’, figura que toma as rédeas da igreja até a eleição de um novo papa”. 

Essa condição foi uma das revelações; João Paulo já havia recomendado aos agentes da sucessão quem seria o camerlengo, fato que o ajudaria a se desincumbir da missão, pois ele seria o condutor da sucessão que aconteceria, na capela sistina, nos próximos dias após as solenidades do funeral.

La fora, na praça, o povo entoava canções de louvores ao seu belo reinado de vinte e seis anos; ao término, ecoavam as palavras na língua italiana, “Santo Súbito”.

Passadas todas as emoções do sepultamento, os cardeais de todo o mundo, que vieram para o funeral, começaram a se reunir na capela, sob a direção de Ratzinger, seus assistentes e a cúpula sucessória composta de cardeais com menos de oitenta anos.

Após vários dias de reuniões pela manhã, tarde e noite, o povo reunido na praça viu, finalmente, a fumaça branca sair pela chaminé da Capela. Antes, o que se viu durante dias foi a fumaça preta, informando que ainda não havia nenhuma decisão, mas, na manhã do quinto dia, saiu o veredicto; o representante da sucessão informou, da janela dos aposentos papal, a frase esperada por todo o mundo, uma vez que o evento estava sendo transmitido ao vivo por todos os meios de comunicação: “Habemus Papam!”.

O Cardeal Ratzinger tornou-se Bento XVI. Após alguns minutos, Sua Santidade chegou à janela, debruçou sobre a imensa toalha vermelha que forrava o local, aproximou-se dos microfones e disse: “Espero não me atrapalhar com a língua italiana, pois a emoção de conduzir esse enorme rebanho é muita”. Vou trabalhar como o meu antecessor, o querido João Paulo II.

Recolheu-se para seus aposentos e pediu, em baixa voz, ao seu camareiro que chamasse o Papa Ângelus Nero I. Como? Alguns dos seus íntimos assessores estranharam o fato. Mas o certo é que, na Capela Sistina, foram eleitos dois papas, dentro de muito mistério e segredo.

Começava a ser cumprida, pelas mãos da igreja católica e do novo Papa, a revelação do segredo informado ao então cardeal Ratzinger, por João Paulo II.

Como poderia ser a Igreja católica conduzida por dois Papas? O que se discutiu e foi acertado durante aqueles dias de reuniões e conferências dentro da capela foi o seguinte:

- O papa Bento XVI deveria e foi eleito o novo Papa, uma vez que era o sucessor natural de João Paulo II.

- O papa Ângelus Nero I (anjo negro), depois de conversar longamente com Bento XVI, despojou-se de suas vestes sacerdotais, travestiu-se de homem comum do povo e, já falando uma linguagem universal, saiu pelos subterrâneos do Vaticano, tomando rumo ignorado, com a missão de evangelizar os povos de todo o mundo para uma única religião.

Após anos de peregrinação pelo mundo, voltou ao Vaticano e ficou sendo o assessor direto de Bento XVI, sendo que, após a sua morte, será conduzido pelas mãos de representantes de todos os governos ao centro de um poder único, como Nações Amigas e Unidas, estabelecendo, finalmente, a paz no mundo.

E assim, o último Papa católico e o primeiro da raça negra transformar-se-ão em arautos da paz mundial, como símbolo de esperança de um mundo melhor.

Em seu discurso, falará daquela janela para o mundo em um único idioma; “Povos de todas as raças, hoje começa uma nova era: é o ano “I”; sem um Papa para conduzi-los, o mundo falará um único idioma e haverá somente uma religião para os povos de boa vontade”.



ILHÉUS: ENTRE CACAU E MISTÉRIOS

VOCÊ VAI VER DETALHES DOS BORDEIS DOS CORONÉIS. ´   estátua de Jorge Amado Nossa jornada nos levou a Ilhéus , a cidade que respira caca...

POSTAGENS MAIS VISITADAS