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terça-feira, 14 de outubro de 2025

A JANELA DA VIDA


Ciclos vividos pela personagem através da janela que a conecta ao mundo.

💦

"O negrito nas palavras do texto é só o começo. O clique revela o mundo."


Era uma pequena cidade do interior, daquelas com uma única rua calçada e todas as outras de terra batida. Ali se concentravam o comércio, o correio e o ponto de ônibus, que fazia uma viagem semanal rumo à cidade grande.


Essa rua desembocava numa praça em frente à igreja. Nela, havia um casarão pertencente a um comerciante. Sua filha, muito bonita, era mantida reclusa em casa, observando a vida pela janela.


Mantinha esse mirante sempre florido, nutrindo a esperança de que algum rapaz viesse cortejá-la.

Antes mesmo do dia clarear, já se encontrava pronta, regando as flores da soleira e recebendo cumprimentos e saudações dos moradores que passavam.

Nesse mundo que lhe foi imposto, viu sua vida transcorrer em silêncio, e registrava suas ansiedades e aspirações numa caderneta encontrada entre seus pertences após sua partida para outra dimensão.



  O POEMA DE UMA VIDA SOLITÁRIA

A menina debruçou na janela...

Com a ajuda da cadeira da sala.

Viu o mundo desfilar!

Brincou de boneca papai e mamãe.


A menina-moça debruçou na janela...

Viu o mundo girar.

Aquarela colorida!

Vestiu o primeiro “soutien”, sentiu-se mulher.


A mocinha debruçou na janela...

Viu os sonhos dos adolescentes.

Quinze anos...


Primeiro baile, um beijo na face!

Voou pelas alturas!



Percorreu os bosques de Viena!

Navegou no Danúbio Azul!



A jovem debruçou na janela...

Viu o primeiro amor.

Desfraldou o seu segredo.

Um fruto do príncipe encantado!


A mulher debruçou na janela...

Viu a juventude ficar no passado.

Um filho habitou o seu mundo.

As fantasias terminaram, sentiu-se uma plebéia.


A senhora debruçou na janela...

Viu o mundo desabar.

Conversou com Jesus.

Confortou-se na religião.


Da cadeira de balanço da sala de estar.

Repassou toda sua vida.

Viu a janela se fechar.

Serraram-se as cortinas.

E a sua luz se apagou.
💫


Atuei nas áreas de Recursos Humanos e Gestão da Qualidade (Normas ISO 9001), com experiência como Auditor de Certificação de Sistemas. Em meus textos, compartilho reflexões sobre o cotidiano e relatos de viagens que me levaram a conhecer culturas e histórias ao redor do mundo. 

...

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 Antonio Vendramini Neto

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terça-feira, 30 de setembro de 2025

ÉCOS DOURADOS DE UMA JUVENTUDE INESQUECÍVEL


A  FESTA  CRESCEU


 Era uma tarde qualquer, dessas em que o tempo parece pedir uma pausa. Mexendo numa velha caixa de papelão esquecida no fundo do armário, encontrei um tesouro: fotos amareladas, recortes de jornais, bilhetes dobrados com cuidado. Cada item parecia sussurrar histórias que o tempo tentou apagar, mas que a memória — teimosa e afetiva — insistia em guardar.

 E ali, entre lembranças e poeira, revivi os chamados “anos dourados”, uma época vibrante em que a juventude pulsava em cada esquina, e eu, junto com minha turma, éramos protagonistas de uma cena que hoje parece saída de um filme retrô.

 Um recorte em especial me fez sorrir: minha foto, atrás da bateria, animando as domingueiras do Clube Grêmio dos Ferroviários. A festa começava logo após a missa das nove, e quem não ia ao Cine Ypiranga ver Tom e Jerry corria para dançar o frenético rock’n’roll. Elvis Presley reinava nas rádios, e nós, da orquestra, fazíamos questão de reproduzir seus sucessos com toda a energia que cabia em nossos instrumentos.

 Nosso “Elvis tupiniquim” era Ted Milton, dono de uma voz potente e um rebolado que arrancava suspiros. Ele cantava Tutti Frutti, Blue Suede Shoes, e depois suavizava com Love Me Tender. Era impossível não se contagiar.
 
Quando as domingueiras cessaram — por cansaço dos músicos dos bailes de sábado — nasceu a ideia de formar um trio para animar as “brincadeiras dançantes”, inspiradas nos filmes americanos. A primeira foi numa garagem espaçosa, com um piano que nos deu o tom perfeito. Eu era Tony Vendra, estampado no surdo da bateria. Ao meu lado, Joel das Candongas no piano e Joãozinho Boa-Pinta no sax. Uniforme? Camisa vermelha, calça e sapatos pretos. Estilo era essencial.
 
Meu pai, sempre paciente, levava os apetrechos no porta-malas do seu Ford, que mais parecia um barco. As músicas italianas dominavam, e os pais das moças exigiam canções suaves, próprias para danças de rosto colado e conversas ao pé do ouvido.

 A abertura era sempre com “Non Ho L’età”, cantada por uma menina do grupo, imitando Gigliola Cinquetti. A letra dizia que ela ainda não tinha idade para namorar — e os pais, claro, adoravam.

Ficamos conhecidos. Professores jovens vinham dançar, e na segunda-feira, a escola fervilhava de comentários. As meninas nos cercavam, curiosas sobre o repertório da próxima festa.

E tinha o famoso “ponche”, servido pela mãe da anfitriã. Meio sem graça, até que alguém despejava uma vodka sorrateira. A alegria se espalhava, e as declarações de amor surgiam ao som do nosso trio. Nos intervalos, declamações de poemas encantavam — as meninas eram verdadeiras artistas.
 
A festa cresceu. Gente de fora vinha, e a dança se espalhava até a rua. Alguns exageravam no ponche e acabavam “plantando” lembranças nos vasos de flores. Era uma alegria contagiante, mesmo que alguns vizinhos torcessem o nariz.

 Um dia, fui convidado para participar de um programa na rádio Difusora. Atendia telefonemas e lia versinhos antes de tocar músicas italianas — minha paixão. Em troca, ganhava ingressos para os cines Ypiranga e Marabá. Era o auge.

 Modugno, Peppino Di Capri, Luigi Tenco, Lorella Vital… todos embalavam nossos corações. As letras falavam de amor com uma intensidade que hoje parece rara. E eu, ali, vivendo tudo com intensidade, sem saber que estava colecionando memórias para uma vida inteira.

 Hoje, ao revisitar essas lembranças, percebo que os “Anni Moderni” não ficaram presos no passado. Eles vivem em cada música que toca no rádio, em cada dança improvisada na sala, em cada sorriso que surge ao lembrar de uma juventude que soube viver com leveza, paixão e ritmo.

 E quem sabe, com um bom streaming e uma playlist nostálgica, a gente não revive tudo isso — agora com luzes de LED, vídeos no TikTok e declarações por mensagem de voz. O espírito é o mesmo. Só mudou o cenário.

🎶

Este meu blog não tem capa dura nem páginas numeradas.

Ele vive nas entrelinhas do tempo.

Cada texto é uma fresta — por onde escapa o que ainda pulsa.

Escrevo como quem conversa com o silêncio.

Como quem guarda o mundo em palavras pequenas.

Como quem acredita que lembrar é uma forma de amar.

💯

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 Toninho Vendramini

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