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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

AS PEDRAS DO TEMPO

 O JARRO DE BOCA LARGA

Dizem que a sabedoria não grita — apenas se oferece, mansa, a quem para para escutar. Foi numa dessas tardinhas de brisa fria que um velho caminhante chegou à pequena vila. Trazia nos olhos o brilho de quem já vira muitos caminhos, e nas mãos o simples dom de ensinar com histórias. Os moradores, curiosos, se reuniram ao redor, e o ancião começou a falar.

A lição do velho caminhante

— Tragam-me um jarro de boca larga — pediu ele com voz serena. Diante do olhar atento da gente, colocou dentro dele algumas pedras grandes, uma a uma, até que não coubessem mais.
— Está cheio? — perguntou.
Alguns acenaram com a cabeça.

O velho sorriu de leve. De um saco retirou pequenas pedrinhas e as despejou no jarro, sacudindo-o para que se ajeitassem entre os espaços.
— E agora? — insistiu.
Os presentes, já desconfiados, hesitaram.

Então, lentamente, o andarilho acrescentou areia fina, que se infiltrou por cada fresta, e por fim verteu água, que deslizou e preencheu o último espaço sem transbordar.

— O que aprenderam com isso? — indagou.
Um morador se apressou: — Que sempre cabe mais alguma coisa, por mais cheio que pareça.

O velho pousou o olhar sobre todos, e sua voz, agora grave, soou como um conselho antigo:
— Não. O que vos mostrei é que, se as pedras grandes não forem colocadas primeiro, nunca mais haverá espaço para elas. As pedras grandes são a família, os amigos, a saúde, o amor — e nós mesmos. O restante, por menor que pareça, sempre encontrará seu lugar quando o essencial já estiver seguro.

Despedida

Um silêncio respeitoso se espalhou pela vila. O andarilho recolheu seu cajado e, com um leve aceno, recusou o convite para pernoitar:
— Outras vilas me aguardam — disse, antes de seguir pelo caminho, deixando atrás de si não apenas a poeira da estrada, mas uma lição que ecoaria na memória de todos.


Contos com um toque de magia

Histórias onde o impossível se torna íntimo.

Onde o tempo dobra, os objetos falam, e o coração é bússola.

 

O silêncio também tem voz — e às vezes, ela escreve comigo.”


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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

SERENATA NA PASSARELA - ALFREDO LOBÃO, O ÚLTIMO ROMÂNTICO DA CALÇADA

 

O Bar da Esquina e o Lobão da Madrugada

Naquela rua esquecida pelo progresso, onde os postes acesos pareciam resistir ao tempo como velhos guardiões da memória, havia um bar que não tinha nome — apenas uma placa torta com a palavra “Cerveja” escrita à mão. Era ali que Alfredo Lobão reinava todas as noites, como um rei sem trono, mas com violão.

Alfredo não era bonito. Nem elegante. Mas tinha algo que os outros não tinham: presença. Chegava sempre com o mesmo ritual — violão nas costas, cigarro apagado no canto da boca, e um olhar que misturava melancolia com malandragem. Os cabelos desgrenhados e a barba de vários dias compunham o figurino de um boêmio que já não se importava com o espelho, mas sim com o aplauso da rapaziada.

Sentava-se à mesa de madeira encostada na calçada e começava a tocar. Não pedia licença. Não fazia cerimônia. Alfredo era da velha guarda, daqueles que acreditavam que a música cura, conquista e embriaga mais que qualquer bebida. E quando soltava seus urros entre os acordes — que ele chamava de “afinadas de alma” — o bar virava palco, e a rua, plateia.

 Os Amores e as Mentiras

Alfredo dizia que já tivera mais de cem mulheres. Algumas ele nomeava com carinho: “A Lúcia do samba”, “A Neide da praia”, “A Marlene do vestido vermelho”. Outras ele inventava na hora, só para impressionar os novatos. Mas todos sabiam que, no fundo, Alfredo era um romântico incurável, desses que se apaixonam por um sorriso e sofrem por um olhar que não volta.

Tinha um jeito peculiar de conquistar: cantava uma música, oferecia um gole de cachaça e contava uma história triste. Era irresistível — não pela beleza, mas pela autenticidade. Alfredo não fingia ser o que não era. E isso, às vezes, bastava.

 A Musa da Passarela

Numa dessas noites de lua cheia, quando o mar parecia sussurrar segredos à areia, ela apareceu. A moça da cidade grande. Blusa azul, decote generoso, calça preta colante e salto alto que fazia o toc-toc ecoar como tambor de desfile. Caminhava pela passarela de madeira como quem sabe que está sendo vista. E era.

Os corações solitários se agitavam. Os copos tremiam. E Alfredo, como se tivesse recebido um chamado divino, parou de tocar. Olhou. Sentiu. E compôs.


A música nasceu ali, entre um gole e um suspiro. E quando ele cantou, a moça parou. Sorriu. E seguiu. Alfredo nunca soube seu nome. Mas naquela noite, ela virou eternidade.

 O Último Uivo

Os anos passaram. O bar fechou. A rua ganhou asfalto. A passarela virou calçada de concreto. Mas Alfredo continuou indo, mesmo sem plateia. Sentava-se com seu violão e cantava para o vento, para o mar, para as lembranças.

Diziam que ele ainda esperava a moça da blusa azul. Que ainda afinava a garganta com urros. Que ainda acreditava que uma boa música podia mudar tudo. E talvez pudesse.

Porque Alfredo Lobão não era apenas um seresteiro. Era um monumento à boemia, à saudade e ao amor sem medida. Um conquistador de almas, mesmo que a sua estivesse sempre um pouco partida.


“Escrevo como quem recolhe o tempo com as mãos.”

         “O silêncio também tem voz — e às vezes, ela escreve comigo.”

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quinta-feira, 10 de julho de 2025

A PODEROSA ILHA DE MALTA


Prefácio

Viajar é uma forma de abrir a mente, expandir horizontes e mergulhar em culturas que, muitas vezes, só conhecemos por livros ou filmes. Neste material, compartilho um pouco da minha experiência por dois lugares inesquecíveis da República de Malta: La Valletta, sua charmosa capital, e Mdina, a misteriosa e silenciosa cidade medieval.


Complemento sobre a viagem

Durante minha jornada por Malta, pude sentir o contraste perfeito entre a energia histórica de La Valletta e o silêncio encantador de Mdina. A arquitetura, os becos estreitos e a atmosfera única dessas cidades me transportaram para outros tempos. A presença dos Cavaleiros da Ordem de São João ainda é sentida nas pedras das construções e nos nomes das ruas.


Em Mdina, o silêncio é quase poético — por isso é chamada de “Cidade Silenciosa”. As ruas estreitas e cheias de histórias revelam um lado místico e contemplativo da ilha. Já La Valletta, com seus edifícios dourados e vistas espetaculares para o mar, mostra a força de um povo que preserva com orgulho seu passado.

Cada esquina oferecia uma nova descoberta, cada pôr do sol parecia uma pintura viva. Foi uma viagem enriquecedora, não apenas em conhecimento, mas em emoção e sensibilidade. Espero que essas imagens e palavras transmitam um pouco do que vivi.

💅

O retorno de vocês, leitores, me motiva a buscar sempre o melhor.

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sexta-feira, 9 de maio de 2025

NO COMPASSO ENCANTADO DA NOITE





Uma crônica sobre os mistérios e encantos da vida noturna em um recanto silencioso.

Naquela tarde sonolenta do início de abril, a noite chegou vestida de mistérios. Foi se derramando madrugada adentro, trazendo consigo sons discretos — e fascinantes — dos pássaros e animais noturnos que habitam o meu recanto.

Do silêncio que imperava, surgiu de repente o canto peculiar de uma coruja, que há dias vinha se abrigando em um dos galhos próximos à janela do meu quarto. Parecia, quem sabe, estar chamando por um parceiro para compartilhar a noite.

Com seus sons suaves e insistentes, ela espalhava no ar algo mais do que simples cantos — talvez uma química invisível. E não é que funcionou? Logo outra coruja se aproximou no mesmo galho, formando um improvável casal sob o véu da noite.

Imagino que, com a chegada, tenha começado um discreto namoro, em que os piados iam ganhando intensidade e ritmo, até explodirem num agudo e vibrante repique. Eu, desperto, acompanhava a pequena sinfonia com certa admiração, notando a variedade quase musical daqueles sons.

O sono já tinha me deixado. Restava apenas aproveitar o espetáculo involuntário e torcer para que logo a serenata silenciasse.

É curioso como a noite revela sons que quase nunca percebemos.

Passaram então a se destacar os latidos dos cachorros errantes pelas ruas do meu condomínio. Alguns pareciam alertas, quase desesperados; outros, como se apenas respondessem com certa calma. Fiquei pensando: o que será que provoca tamanha reação nos cães?

Não demorou e presenciei, ao abrir a janela, uma cena que explicava toda a agitação: uma raposa faminta atravessava o gramado carregando um pequeno roedor na boca — sucesso na caçada e garantia de alimento para os filhotes.

Logo depois, mais uma cena surpreendente: um gato, silencioso e ágil, subia por uma árvore em direção ao casal de corujas. Também ele, caçador nato e noturno, mirou com precisão e — num salto certeiro — abocanhou uma das aves, que descansava desprevenida.

No galho, restou apenas a outra coruja. Emitiu sons longos e tristes, quase lamentosos, como se expressasse a dor da perda. Um momento melancólico, mas parte inevitável da dança natural da vida. A cadeia alimentar tem suas regras duras — e imparciais.

Já alta madrugada, o silêncio foi, por fim, interrompido por outro som conhecido: o canto enérgico do meu galo. Em sua primeira manifestação do dia, ele soltou um vigoroso “cocoricó”, despertando aqueles que nele confiam como despertador. E ele não parou por aí — foram treze cantos seguidos! Um exagero para quem não conseguiu pregar os olhos...

No meio de tantas emoções, comecei a rir sozinho. Seria possível que meu galo estivesse tentando acabar com aquela barulheira toda? De certo modo, funcionou. Após sua cantoria, tudo silenciou — até os últimos grilos pareceram recolher-se.

Desde aquele dia, passei a chamá-lo carinhosamente de o “corneteiro da paz”. Curiosamente, nas noites seguintes, os sons noturnos cessaram — ou talvez eu apenas tenha adormecido mais cedo, embalado por uma paz recém-descoberta.


Você também já teve uma noite em que a natureza foi a grande protagonista?
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 E é essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento que desejo compartilhar com vocês!

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