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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O FANTASMA DO ZEZINHO MUÇAMBÊ


UM CONTO INSPIRADO
 EM UM PERSONAGEM QUE VIVEU EM ALGUMA CIDADE



José Epaminondas de Albuquerque Martins veio de uma cidade do nordeste, com o intuito de melhorar a vida em São Paulo. Contou o seu plano para sua “mainha”, mas pediu segredo do assunto, não queria assustar o velho pai, que dele tanto precisava na ajuda do sustento do lar.

No dia marcado, bem de madrugada, pegou a “matula”, preparada no dia anterior para enfrentar a fome durante a viagem. Seguiu a pé do sitio em que morava até o ponto de saída do “pau de arara” da cidade mais próxima.  Durante três dias viajou na companhia de sonhos que raiavam em sua mente. Pensava em aplicar os seus conhecimentos. Senti uma força nova, e com seus conhecimentos poderia encontrar na metrópole a felicidade que tanto sonhava.

Partiu muito jovem, deixando para trás a mãe chorosa e já saudosa de sua presença, pois era um dos baluartes da casa de oito irmãos que moravam em um ranchinho beira-chão, com paredes de pau-a-pique, onde ele fazia um artesanato com muita qualidade, utilizando produtos da região e a fértil imaginação.

Depois de várias peças prontas, vendia tudo nas feiras dominicais, o que lhe rendia o sustento pessoal mais a certa ajuda para a família. Suas obras eram famosas, pois as pessoas que as adquiriam, espalhavam sua fama espontaneamente, falando de sua habilidade com o trato das mãos, e do carinho com que as esculpia, como se fosse o último exemplar.

Com o pouco que lhe sobrava, pediu ao fotógrafo da praça, onde vendia sua arte, o chamado “lambe-lambe”, alguns ensinamentos. Essa ideia era um dos seus sonhos durante a viagem, e um filme alegre e colorido, passava em sua mente, enchendo de ansiedade a cada dia que se aproximava o destino traçado.

Ficou deslumbrado com a cidade de São Paulo aos seus pés, então pensou: ”é aqui que eu vou ficar e vencer, para ajudar a minha família”. Mas a situação não foi assim como imaginava. Começou a encontrar dificuldades de moradia e de como praticar sua arte. Então recorreu aos mascates da praça, que lhe “arrumaram um ponto” o qual teve que pagar com a metade das economias que trouxe. Passou a expor suas peças, trazidas em um alforje, em dois caixotes de frutas com um pano sobrepondo.

Prevendo mais dificuldade em comprar material, propôs uma sociedade com o “amigo” que lhe vendeu o “ponto”. Disse-lhe que podia também tirar fotos. Então juntaram o que restou das economias e compraram uma câmara fotográfica e junto com o artesanato começaram a somar dinheiro, para pagar a pensão em que moravam.

Em meio ao vai-e-vem de sua vida, conheceu uma moça que também era sozinha e possuía uma moradia melhor.  O tempo logo foi gentil com José que se viu nos lençóis da mulher, dividindo seus medos e aflições. Passado um mês, veio a descobrir que enquanto ficava na praça tirando fotos, ela se prostituía naquela mesma cama em que dividia com ela o teto. Ficou chateado e aborrecido, mas como não tinha para onde ir, foi aguentando a situação, até que um dia conheceu um fotógrafo profissional que observou o seu jeito manhoso e jeitoso de fazer as fotos e encantar os clientes que vinham fazer “pose”.

Então disse a José:
- Sou do interior, não quer vir trabalhar comigo? Preciso de alguém para tomar conta do meu “atelier” enquanto venho para São Paulo fazer as compras. José que estava amargurado com aquela situação meteu um pé na bunda da “Puta-Chalana”, juntou seus trapos e acompanhou o Sr. Cicero que assim se chamava.

José ganhou a confiança do seu “bem-feitor” e começou a inovar com as fotos. Passou a utilizar alguns truques aprendidos como o lambe-lambe, o que agradou o parceiro. Durante a noite iniciou um curso de como fazer fotos técnicas e aprendia também vendo um programa especifico na televisão que mostrava como fazer etc.

Ficou muito conhecido no local e com alguma intimidade, a ponto do pessoal começar a chamar-lhe de “Zezinho das Artes”, porque não deixou de fazer suas peças de artesanato.

Progrediu e juntou dinheiro, daí então se sentiu confortável para dar um basta na parceria. Criou o seu próprio negócio que progrediu muito bem, repleto de muitas novidades – inclusive fotos multicoloridas nos acontecimentos sociais, esportivos e eclesiásticos, chegando até ser convidado para padrinho das crianças nos batizados que fotografava.

No carnaval, saia na escola de samba, nos campeonatos de futebol, aparecia com destaque na imprensa, tirando fotos das personalidades e as levava para o jornal local, onde fez uma parceria, entregando também as matérias das fotos.

Nessa ocasião, uma tosse começou a lhe perturbar e atrapalhava até nos eventos, mas não ia ao médico para uma consulta e a situação foi se agravando. Para amenizar começou a tomar um xarope de uma planta que um desses curandeiros de crendice popular lhe indicou, de nome Muçambê, acrescido de outras ervas que nem ele sabia do quê. 

Quando estava em um local público e a tosse começava a lhe incomodar, tirava do bolso detrás, um vidro daquele feito para carregar, em forma de concha e “dava umas talagadas” o que acalmava momentaneamente o incômodo e dizia para as pessoas:

- É o muçambê que estou tomando, não é pinga não.

Então essa situação ficou conhecida e quando ele tirava o vidro para um gole, as pessoas falavam:

- Olha lá o Zezinho Muçambê. O apelido “das artes” ficou para trás, porque já não trabalhava mais com isso e pegou esse novo apelido.

Com o decorrer do tempo, já tinha dois funcionários em sua loja de artigos fotográficos, que entregou a uma simpatizante para “tomar conta”, enquanto ele fazia os trabalhos externos. Um dia de muita chuva, não veio trabalhar, os funcionários logo pensaram que era por causa do temporal, ligaram para sua casa e não houve resposta. Já passava das doze horas e tinham que fechar para o almoço.

Então o funcionário mais antigo foi até à sua casa para saber o que se passava, tocou a campainha várias vezes e de nada adiantava. Em seguida passou a esmurrar a porta, até que ela se abriu. Viu então, o Zezinho Muçambê deitado no chão da sala. A boca toda torta, parecia de ataque cardíaco, ao seu lado a maldita garrafinha com aquele líquido, que caiu de suas mãos e escorreu sobre o tapete, deixando um cheiro terrível na atmosfera da sala.
  
O funcionário de nome João, vasculhou a casa, a procura de dinheiro que ele sabia existir, não se sabe como. Depois de alguma busca, encontrou “muito dinheiro” em um fundo falso do criado-mudo da cama. Ele voltou para a loja, dispensou os outros funcionários sem uma desculpa evidente, apanhou o dinheiro da caixa registradora. Disse apenas que eles estavam “dispensados” e que não receberiam nada. Disse também que iria providenciar a entrega do imóvel, o velório e o enterro de Zezinho.

Com aquela “grana” na mão, foi pagando em dinheiro alguma coisa, outras foi dizendo que pagaria mais tarde. O corpo foi encaminhado pela funerária até o velório, e o enterro foi marcado para as dezessete horas.

No funeral muita gente conhecida da cidade; políticos, religiosos, imprensa falada e escrita etc. Chegado o momento da condução do corpo, um vereador muito amigo seu, começou a fazer uma homenagem, discursando e falando das coisas boas que o Zezinho fez para a cidade, contou até como o apelido muçambê ocorreu.

Terminado um discurso, outras pessoas falaram, e a hora foi passando. Alguém disse que o cemitério fechava às dezoito horas e só restavam quinze minutos. Então veio aquela carretinha com pneus de bicicleta, para acomodar o caixão e não ter que carregar o peso e levar para a última morada do Zé.

Já eram dezessete e cinquenta. O carrinho começou a ser empurrado para fora do velório, com o povo atrás, com destino ao campo santo. Foi então que caiu uma chuva torrencial, muita água, nem o melhor guarda-chuva resistiu, fez água, todos correram para as calçadas procurando um abrigo.

A água não parava de cair. O carrinho foi deixado no meio da rua, sem ninguém para empurrar, a água foi encharcando o caixão, que permanecia imóvel, sob o som de trovoadas e relâmpagos. Faltavam apenas duas quadras para o portão do cemitério e de lá se ouviu o sino de toque de recolher, porque, como foi dito, fechava às dezoito horas.

O quadro era o seguinte: Caixão com o Zezinho no meio da rua e na chuva, o cemitério fechado, já era noite escura, os acompanhantes foram embora, pois o tempo não melhorava e fazia muito frio. Resultado final da tragédia: Ficou sendo observado por apenas dois vagabundos que tinham o hábito de dormir na bancada da barraca de flores, que ficava sem ninguém após o encerramento das atividades do cemitério.

Eles então perceberam o drama, foram até o carrinho e o “arrastaram” para debaixo da barraca. Um deles teve a ideia de chamar a policia, vieram dois policiais e constataram a aberração, e começaram as providencias, para levar de volta ao velório o caixão. Só que também estava fechada, por questões de segurança, a administração mantém o recinto dessa forma, durante a noite. Aonde vamos levar? Para a Delegacia falou um deles.

Telefonaram do orelhão para o Delegado, que informou não ter autorização, porque infringiria as leis vigentes. Diante do drama, os policiais falaram para os vagabundos ficarem tomando conta do caixão até o dia seguinte. Fizeram o boletim de ocorrência, prometeram que durante a noite, fariam umas rondas por lá. Assim, o Zezinho seria enterrado logo que os portões se abrissem.

Durante a noite, o carrinho, que suportava o caixão, não resistiu ao peso de toda a matéria mais o Zezinho encharcado, começou a murchar os pneus, fazendo um barulho esquisito, parecendo o som de uma corneta. Os vagabundos ali se assustaram e correram acovardados para longe.
Ficaram apenas a barraca de flores vazia e o caixão com o corpo do Zezinho.

No dia seguinte, a cidade estava em polvorosa com o trágico acontecimento e foram providenciar o sepultamento. Chegaram ao local e não avistaram nada. O que teria acontecido? Até hoje ninguém sabe, ficou um caso estranho que é contado com requintes pelo povo, como coisa de assombração, por todos que tiveram algum envolvimento com o Zezinho Muçambê.



terça-feira, 21 de maio de 2013

O CAMINHO ERRANTE DO CAIPIRA PIRAPORA

O INÍCIO DE UMA LONGA JORNADA

A fundação da cidade de Bom Jesus de Pirapora, cuja história teve seu início nos anos de 1725, ocorreu quando alguns pescadores encontraram no rio uma imagem do Cristo, que está disposta no santuário, apoiada em uma pedra às margens do Tietê.

No início, a cidade de hoje foi um vilarejo missionário e sua importância esteve atrelada à função religiosa; posteriormente passou a ser um pólo de atração de romeiros.

A palavra “Pirapora”, na língua dos nossos indígenas, tupis-guaranis, tem o significado de “peixe que pula em águas limpas” o que atualmente não mais acontece, porque não há mais peixes para fazer essa acrobacia e tampouco as pessoas que, antigamente, após cumprirem as suas promessas, banhavam-se em suas águas límpidas.

O panorama que se vislumbra atualmente na ponte sobre o rio que antecede a entrada da cidade é de que o progresso desregrado está matando o rio com enormes blocos de espuma navegando sobre suas águas, parecendo mais um “iceberg”, provenientes dos resíduos químicos das indústrias, provocando também um cheiro de esgoto horrível, fazendo do belo de antigamente, um panorama desolador.

Ah!Pirapora de antigamente! Quando eu era um adolescente e acompanhava as romarias para aquele santuário, partindo de lugares inóspitos sempre acompanhados de parentes e colegas da escola! Para chegar até lá, havia vários tipos de locomoção: a pé, bicicleta, e a cavalo.

A primeira vez foi em companhia de alguns primos que moravam na famosa Rua Zacarias de Góes, reduto de nossas famílias oriundas de terras Italianas. Escolhemos como transporte a bicicleta porque todos a tinham, e era um meio de transporte coqueluche da época.

No dia marcado, fomos de madrugada para o largo de Santa Cruz, onde tem uma igreja cujo padre deu uma bênção coletiva aos romeiros. Alem de nós e as bicicletas, muita gente com cavalo de montaria, cavalo com charrete e a pé. Seriam quarenta quilômetros de estrada de terra, trajeto que seria feito em dois dias, com um pouso, tipo acampamento, em um lugar chamado de “Capão da Onça”.
No começo foi tudo bem, mas já havia gente botando a “gravata para fora”, bufando igual a burro velho nas subidas. Então, tinha uma paradinha aqui outra acolá e começaram as piadinhas, para encorajar os que estavam meio frouxos, algumas engraçadas outras nem tanto. De repente, a gente sacava do alforje aquele lanchinho preparado pela mamãe.

Nesse momento de descanso, passava por nós os tropeiros com os cavalos batendo os cascos no chão, levantando uma poeira dos diabos que nós íamos “comendo” na retaguarda. Achámos que era um desaforo e arrancávamos em um esforço brutal para passar à frente e, na passagem, tirávamos aquele “sarro” dos cavaleiros. E assim foi até chegarmos altas horas da noite no tal Capão da Onça.

Já no local do pouso, escolhemos a nosso ver um bom lugar, mas chegaram os cavaleiros e acamparam bem a nossa frente e acabou o sossego para o descanso e um breve sono. Começou então um som de sanfona e viola lá no meio deles. Fomos logo para lá porque estava animado. O garrafão de pinga que nem sei de quem era, começou a rolar de boca em boca até que todos ficaram meio bêbados e aterraram o corpo nas precárias instalações a céu aberto.

O cheiro de bosta de cavalo era algo insuportável, não tinha como reclamar. Quando o sono estava quase chegando, começaram os sonoros “suspiros intestinais” dos cavalos seguidos dos nossos para acompanhar a sinfonia. Foi uma noite horrível, cheia de cansaço, “cheiros”, e pó de terra, que nos acompanhou até ao amanhecer com muitos nem dormindo. Foram para ao redor do fogo preparado pelos romeiros-cavaleiros, onde havia no centro, um contador de “causos” que começou a prosa, enchendo de medo à rapaziada. Tinha no canto da boca um picadão, aquele tipo de cigarro caipira com o fumo de corda enrolado na palha de milho. O papo era todo floreado e nem tinha chegado aos entretantos, quando solicitou pinga, dizendo que a goela estava seca.

“A “estória” era sobre o nome daquela paragem, o tal de Capão da Onça”. Dava a entender que, a qualquer momento, ela iria aparecer e avançar em alguém que estava mais fraco e cansado, como aconteceu de verdade tempos atrás. Segundo o contador, a fera daria antes alguns “urros” no meio da mata para avisar que estava chegando, e que os “machos” se preparassem para enfrentá-la. Já se viam então alguns batendo em retirada, outros ficaram até o fim e não aconteceu nada! Todos foram para os seus cantos, foi tudo uma fraca e chocha encenação do caboclo-peão; ali já não habitava mais a pintada.

Passado mais de um ano, o pessoal achou que deveríamos retornar, só que dessa vez, com outro meio de locomoção: a cavalo de montaria. Procuramos um tropeiro famoso por nome de Chico Bueno que alugava os animais para essa empreitada. Mas a idéia era de, quando chegássemos ao Capão, “assustar” aquele contador fajuto de causos, colocando em cena o fantasma do romeiro que a onça matara.

Preparamos todo o material, inclusive o “fantasma”, e fomos naquela rotina, só que dessa vez, éramos nós que fazíamos os bicicleteiros comer o pó do estradão. Apeamos dos nossos animais, os alimentamos e fizemos também um lanche reforçado. Já ao nosso lado, estava o tal contador de causos, com a mesma ladainha:

- Venham aqui para ouvir a historia da onça pintada. O homem era conhecido por aquelas bandas como Zé Caipora de Pirapora.

Então começamos preparar o nosso esquema para assustar o pessoal que estava ao redor do fogo, ouvindo o Zé Caipora. A farsa consistia de um gravador à pilha, com rugidos de onça, ligado no interior do mato, no ultimo volume e um grande lençol branco, vestido pelo componente da turma de maior estatura, o chamado Nelsão Sujeira. No auge do “causo”, saltaria para o meio do pessoal, falando que era o fantasma do homem que a onça matou e comera.

Começaram os rugidos, todos olharam em volta, foi quando um dos romeiros sacou de uma arma e começou a dar tiros para o meio do mato, de onde vinha o som.  Nelsão, que estava prestes a pular no círculo de fogo, começou a berrar, falando que tinha sido alvejado. Foi uma correria total para lá e o encontramos com um dos braços feridos pela bala. Levamos às pressas para um hospital e foi medicado, voltamos rapidamente para aonde estavam os nossos cavalos, arrumamos os apetrechos e “demos no pé” em disparada pela estrada, arrancando pó para ninguém seguir.    

Depois dessa “esfrega”, nunca mais teve romaria para nós. “Hoje em dia, toda vez que ouço a musica composta por Renato Teixeira “Sou caipira Pirapora”, esse fato vem à minha mente, e dou Graças a Deus, por não ter acontecido algo pior”.



 

A CIÊNCIA ADIVINHATÓRIA

Desde os tempos imemoriais, tem o homem procurado antever os efeitos de origem física, biológica e de inúmeras outras, surpreendendo as leis...