Dizem que, se você nunca leu Gabriela, Cravo e Canela, ao pisar
nesta cidade será inevitável: o romance está por toda parte. Hotéis,
restaurantes e bares ostentam nomes retirados do livro, como se fossem
personagens vivos que ainda percorrem as noites tropicais. O cheiro doce do
cacau paira no ar, misturando-se ao sal da brisa marinha. As ruas de pedras
antigas refletem o sol escaldante, enquanto o ritmo tranquilo da cidade convida
à contemplação.
Casa da Cultura
No casarão neoclássico onde Jorge Amado passou a infância, as paredes
guardam lembranças e história. A grandiosidade do imóvel, com pé-direito
elevado e piso de jacarandá, remete aos tempos áureos do cacau. Convertido em
museu, o local preserva trajes, documentos e vídeos sobre a vida do escritor.
Cada cômodo parece conter um pedaço da alma do autor, como se suas histórias
ainda flutuassem pelo ambiente.
Olha Nóis Aí.
Bar Vesúvio
O mais tradicional restaurante da cidade, ativo desde os anos 1920, mantém
seu charme e sabor. Aqui, sentamos ao lado da estátua de Jorge Amado e lemos
sua frase gravada no banco: “Baiano é um estado de espírito”. O
perfume do café recém-passado se mistura ao aroma das especiarias dos pratos
típicos. É impossível não imaginar as conversas que ecoavam naquele espaço,
entre comerciantes, fazendeiros e viajantes.
Bataclan – O Bordel dos Coronéis
Há lugares onde o passado se recusa a desaparecer. Entrar no Bataclan é
sentir que as paredes ainda sussurram segredos. O chão antigo, de madeira
rangente, parece murmurar lembranças de noites longínquas. O cheiro levemente
adocicado do perfume antigo ainda paira no ar, misturado à história que nunca
se perdeu. Foi lá que Maria Machadão fez história: poderosa, amiga dos
coronéis, e dona da casa mais disputada da cidade.
Mas entre as noites de festa e luxúria, havia um segredo. Subindo uma
escadaria nos fundos do prédio, encontramos um contador de histórias, sentado
no antigo quarto de Maria Machadão. Em voz baixa, ele nos revelou:
"Os coronéis subornavam o padre para prolongar a missa e diziam às
esposas que iriam tratar de negócios no Bar Vesúvio. Mas no fundo do bar
existia uma passagem secreta que levava direto ao Bataclan..."
O sino da igreja, tocado pelo padre, era o sinal para que voltassem ao
Vesúvio e recuperassem suas máscaras sociais. O bordel viveu seus dias de
glória até os anos 1940, desaparecendo depois. O prédio foi esquecido, mas
Jorge Amado garantiu que sua história jamais fosse apagada.
Tombado como patrimônio histórico, o Bataclan renasceu em 2004, reformado
para abrigar um restaurante e espaço cultural. Muitos dos detalhes originais
foram preservados, ainda que a falta de registros tornasse o trabalho
desafiador. Uma curiosidade que poucos conhecem é que, durante a reforma,
alguns objetos foram encontrados escondidos entre as vigas e paredes – pequenos
frascos de perfume, antigos sapatos femininos e até notas escritas à mão,
testemunhos silenciosos de um tempo que se recusava a ser esquecido.
Até hoje, há quem jure ter visto sombras se movendo pelos corredores do
Bataclan, como se espíritos das antigas noites ainda habitassem o prédio. Para
alguns, é apenas imaginação. Para outros, uma prova de que certos segredos
jamais desaparecem.
Outros Encantos de Ilhéus
Além do centro histórico, o interior da cidade remete a Tieta do Agreste,
com suas paisagens de areia branca e coqueirais. A história das fazendas de
cacau também é lembrada, repletas de riqueza e desigualdade. Até que a praga Vassoura
de Bruxa devastou as plantações, levando Ilhéus a reinventar-se.
E para aqueles que buscam um refúgio paradisíaco, a Praia Pé de Serra, quase
intocada, aguarda os amantes da natureza com seu mar esmeralda e vastas faixas
de areia. O som das ondas quebrando na costa e o vento balançando suavemente os
coqueiros criam um cenário perfeito para aqueles que desejam se perder na
beleza natural do sul da Bahia.
💩
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Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história.