A incredulidade apertava seu peito. Estaria ainda ali?
Encarcerado em suas próprias lembranças, elas emergiam, teimosas e vibrantes,
revivendo um turbilhão de emoções. As lágrimas brotaram sem resistência,
escorrendo pela face e misturando-se ao chão impiedoso, onde cicatrizes de um
passado cruel permaneciam gravadas.
Tateou o bolso, encontrando seu rosário, o fiel amigo que resistiu ao tempo.
A cada conta que rolava entre seus dedos, imagens dos antigos companheiros se
formavam em sua mente—homens que, como ele, habitaram aquele corredor de
desesperança. Ali, ele fora um animal sedento, um espectro de sua própria
humanidade. Outras vezes, uma flor frágil, buscando redenção. A justiça o havia
condenado a esse inferno, onde as almas se perdiam sem promessa de retorno.
A oração, no entanto, brotou das trevas e foi penetrando sua alma, acalmando
a tormenta que castigava sua carne e consciência. Pediu perdão, como o fez por
incontáveis noites e, agora, mais do que nunca. Perdão pelas vidas que
extinguiu na insensatez de sua mente adoecida.
Quando seus dedos tocaram a porta, seu corpo estremeceu com a lembrança do
capelão. Aquele homem de fé lhe oferecera a extrema-unção antes de sua
execução—um fim interrompido por circunstâncias misteriosas. Ele nunca soube o
porquê. Mas, naquele momento, compreendia que a vida ainda lhe reservava um
propósito.
A centelha de um novo caminho surgiu: tornar-se pastor. A figura do capelão,
seu guia na escuridão, reverberava dentro dele como um chamado. Deixou para
trás o corredor da morte e abraçou essa missão de resgatar almas.
Segurou a Bíblia que repousara nas mãos do capelão por anos—companheira
silenciosa de sua espera pela sentença final. O destino, no entanto, reescreveu
seu desfecho. O velho prédio, berço de sua dor, estava marcado para a implosão.
O presídio que o aprisionara seria reduzido a pó. Por ironia ou justiça, foi
ele quem recebeu a honra de acionar o mecanismo que o apagaria da existência.
Antes do último ato, curvou-se em prece. Ali, onde tantos haviam
perecido, poderia nascer uma igreja. Um símbolo de transformação. Uma
casa de fé. A marca de sua jornada como pastor de almas.
E assim, vemos como o sofrimento pode ser transmutado pelo convívio com
Cristo, o eterno pescador de almas—independentemente de onde essas almas um dia
tenham estado.
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