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terça-feira, 8 de agosto de 2017

OS SAPATOS DO VALDEMAR



SE VOCÊ GOSTA DE CONTOS, ESSE É UM DAQUELES DE FICAR IMPRESSIONADO COM O FINAL.

EM MINHA PÁGINA DE CONTOS, AQUI NO SITE, PODERÁ VER OUTROS DO GÊNERO.
 BOA LEITURA.

Valdemar era um paulistano da gema, uma pessoa muito educada e bem vivida, se trajava muito bem, mantinha sempre a barba e cabelos aparados e unhas cortadas, calçados engraxados e lustrosos. Nas suas viagens como caixeiro-viajante, antes de visitar um cliente, utilizava uma loção, mantendo sempre a postura de uma pessoa bem asseada. Muito gentil, utilizava um vocabulário impecável, devido ao seu bom grau de escolaridade.

Sabia, como ninguém, demonstrar os produtos que representava, colocando argumentos convincentes, resultantes em um belo pedido para a empresa em que trabalhava. Tinha uma ótima clientela espalhada pelo interior do Estado e uma boa parte do sul de Minas Gerais.

Em uma segunda-feira, pela manhã, quando se dirigia para o escritório da empresa, disse para a esposa, que sempre o ouvia com um sorriso nos lábios:

- Olha, hoje à noite, tenho que viajar para o sul de Minas, para fazer toda aquela região e volto na quinta-feira; prepare, então, um bom jantar, que vou sentir falta de sua comidinha gostosa.
Lá pelas vinte horas chegou apressado, querendo jantar, pois logo mais tinha um jogo de futebol do seu amado Corinthians, que seria transmitido pela televisão; e não queria perder, porque o Ronaldão Fenômeno estaria presente.  

Terminou o jantar, beijou Alzira e começou arrumar a mala de viagem; nesse momento, lembrou-se do jogo, ligou a TV que ficava em sua bela sala, toda cercada de cortinas, e a tela abriu com o timão entrando em campo. Foi uma alegria quando ouviu o repórter entrevistando o Ronaldão, que prometeu marcar dois gols.

Deu um sorriso e falou para Alzira:

- Quero ver se ele vai fazer mesmo, está muito mascarado!

Enquanto o jogo se desenrolava, nos momentos de marasmo, corria para o quarto, apanhava as roupas e ia colocando na mala que já estava na sala, para não perder as jogadas. No momento em que estava no quarto, Ronaldão marcou um gol, ele veio correndo para a sala e soltou um palavrão:

- M... Perdi o gol! Será que vão repetir a jogada?

Na repetição, se deleitou com o gol e falou para Alzira.

- Não é que o gordo está cumprindo com a palavra! Só falta mais um.

Num daqueles momentos de monotonia do jogo, pensou: “vou buscar o meu par de sapatos sobressalentes”.

Abriu a sapateira e apanhou um par, quando ouviu a voz do locutor se encher de emoção, porque Ronaldão fez mais um. Veio correndo para a sala, com o par de sapatos na mão e ficou pulando na sala que nem um moleque. Abraçou Alzira, deu uma tapa na bunda e disse:

-Sempre que faço isso dá sorte! Êta bunda boa!

Foi então colocar os sapatos na mala; começou a embrulhá-los com um pano, para não sujar a roupa e percebeu que estavam sujos. Pensou em ir trocá-los, mas, naquele momento, o jogo estava bom e ficou com aquele par na mão. Pensou então: “Vou deixá-los aqui perto da cortina; pego outro e depois eu limpo esse aqui e deixo na sapateira”. Só que o jogo estava emocionante... Ele colocou na mala o calçado limpo, esquecendo-se de guardar aquele sujo, que ficou junto à parede com a biqueira voltada para a sala, e a cortina sobre o mesmo.

Valdemar exclamou:

- Vou embora, me dá aqui um beijo, vou assistir o restante do jogo no rádio do carro; o Ronaldão já fez dois e, agora, é só alegria.
Foi embora para chegar logo pela manhã no local de destino.

Alzira, que já estava meio sonolenta, foi deitar em seu quarto, sem desligar a televisão. Acordou no meio da noite e ouviu vozes... O que seria? Será algum ladrão? E foi, na ponta dos pés, para a sala de onde vinham as vozes. Então pensou: “Aquele maluco foi embora e não desligou a televisão”. Foi mais perto para desligar, quando viu, debaixo da cortina, aqueles calçados esquecidos por Valdemar. Pensou rapidamente: “É um ladrão, e está escondido atrás da cortina; e se ele avançar para cima de mim? É melhor chamar a policia”. 

Ligou para o 190 e pediu urgência, fornecendo o endereço e tudo o mais. Depois de uns quinze minutos, bateram à porta. Foi correndo abrir e deu de cara com um homem corpulento que logo se identificou como o sargento Nepomuceno.

- Pois não, minha senhora, o bandido está ainda aí?

- É, eu desliguei a TV e vi aqueles sapatos que ainda estão lá embaixo da cortina; vá logo para prender o ladrão.

Nepomuceno sacou de seu revólver trinta e oito e foi em direção à cortina na ponta dos pés; removeu-a com um golpe rapidíssimo e... o que estava lá atrás? Ninguém! Foi tudo uma ilusão de ótica da sonolenta e medrosa Alzira.

Ela parou de tremer, ficou calma e começou a agradecer ao sargento que não “tirava” os olhos de seu corpo, uma vez que estava com roupas íntimas e nem tinha se percebido. Começou uma conversa mole do sargento ‘blábláblá’, pedindo um copo de água, que ela foi buscar; e ele viu aquele corpo bonito, coberto apenas por uma roupa transparente, deixando ver todo o contorno de uma pequena calcinha branca, contrastando com o pano preto da capa rendada.

Alzira percebeu, então, a burrada que tinha feito em atender a um estranho com aqueles trajes. Quando voltou, o sargento perguntou se tinha café e estava prolongando a conversa que ela não respondia, transformando-se em um monólogo.

Ela agradeceu e pediu que se retirasse, porque já era tarde e estava com sono. Voltou para a cama e dormiu profundamente até à tarde do dia seguinte. Passado mais um dia, escutou batidas na porta da sala. Ficou temerosa e olhou para o corpo, para ver se estava trajada decentemente e perguntou:

- Quem é?

Do outro lado respondeu:

- É o sargento Nepomuceno; vim trazer os sapatos de seu marido, posso entrar?

Ela, então, percebeu que ele tinha levado os sapatos naquela noite, com o objetivo de retornar, para ver se conseguia algum sucesso em conquistá-la.

Foi quando Alzira falou:

- Pode deixar aí fora que, depois, eu pego.

- Mas eu limpei e engraxei os sapatos, estão brilhando; abra a porta e a senhora vai ver que beleza que ficou.

Apavorada, foi ao telefone, ligou para a Delegacia e denunciou o sargentão conquistador. Quando voltou para falar com ele, percebeu que não havia resposta. Virou a chave e abriu a porta, com cuidado, percebendo que os sapatos estavam na soleira.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

EMBORNAL DE PANO E FORD BIGODE

EMBORNAL  DE  PANO  E  O  FORD  BIGODE



Sacola confeccionada em tecido grosso (lona, mescla, brim),
com alças laterais, usada à tiracolo.


No Brasil, ficou conhecido por Ford Bigode devido ao desenho da grade dianteira e pelas alavancas do acelerador e do avanço do motor, lembrarem o formato de um bigode.


 AGORA VEM O EMOCIONANTE RELATO...

Assistindo a um noticiário televisivo conclamando as pessoas para prestigiarem a inauguração de um museu de carros antigos, minha mente divagou por caminhos até então não percorridos, entrei em uma máquina do tempo e comecei a dirigir minha memória, misturando por acaso, uma obra de Deus, com personagens de ficção e realidade, algo imutável, e a noção sobre a passagem do tempo.

Enxerguei em nossa velha garagem, que acomodava guardados em desuso, uma relíquia maior, era um portentoso e valente Ford Bigode, que pertenceu ao meu avô Tonella, junto as inúmeras quinquilharias amontoadas.

Estava coberto por um encerado cheio teias de aranha, retirei a cobertura e passei a olhá-lo com mais atenção para o seu interior, lembrando que em um dia de repreensão dos meus pais, escondi no banco traseiro, umas relíquias características dos meninos na época. Veio então à minha mente se ainda estariam no mesmo lugar.

Aproximei-me da junção do banco de couro e o encosto, enfiei a mão e apalpando senti que aquele tesouro, estava lá, envolto por aquele querido embornal.

Colocando a mão em seu interior, senti o farfalhar de papéis, trouxe-os até a luz do tempo, e com uma alegria de menino, pude ver aquelas relíquias.

 No primeiro pacote, amarrados com barbante, algumas figurinhas de jogadores de futebol, a primeira foto era do Baltazar, herói corintiano do campeonato paulista do IV centenário, era carimbada, um luxo da época, pois mostrava que era difícil obtê-la. Depois veio outro pacote, de artistas de cinema: primeiro foi de Frank Sinatra, conhecido na ocasião como “olhos azuis” da canção May Way, depois Marilyn Monroe, encantadora e sedutora, mulher de sonhos inenarráveis da molecada.

Enquanto limpava o embornal, lembrei que foi costurado pelas mãos de minha mãe, produto dos seus magníficos retalhos, já que era eximia costureira.

Foram lembranças de um tempo que não volta mais. Assim, pintamos as cores de nossa vida.


sábado, 6 de junho de 2015

PÉROLAS FUTEBOLÍSTICAS DE CHICÃO BATATA

Chicão foi um jogador de bola mediano, daqueles que, na gíria esportiva do futebol, é chamado de “boleiro”. Jogou em um dos times “grandes” da capital do Estado de São Paulo. Com o tempo e a idade chegando, decaiu de produção e, no final de sua carreira, acabou jogando em um time pequeno, de uma cidade do interior, que fazia parte da divisão principal.

Nesse time, jogava de médio volante, distribuindo as jogadas no meio de campo. Tinha inúmeros admiradores, inclusive as do público feminino que, aos domingos, assistiam emocionadas às suas jogadas.

Antes de entrar em campo, atendia a toda criançada que corria atrás pedindo um afago e um carinho e ele fazia com a maior boa vontade. Recebia, também, ramalhetes de flores das moças, o que, elegantemente, agradecia com um beijo na face e pedia licença para distribuir para uma torcida especial que ficava na curva da arquibancada, composta de senhores e de senhoras, moradores tradicionais da cidade.

Após os jogos, quando o time ganhava, desfilava todo garboso pela praça principal, onde havia um cinema; e as pessoas, na fila de espera sobre a calçada aguardando a entrada, lhe pediam autógrafo, que ele rabiscava em qualquer tipo de papel que lhe forneciam.

Tinha uma escolaridade muito básica e se expressava com alguma dificuldade, nas entrevistas dentro e fora do campo, mas, com o seu carisma esportivo, tudo superava; e tinha, ainda, uma presença de espírito que arrancava muitas gargalhadas das pessoas.

Era uma figura muito conhecida e candidatou-se a vereador, elegendo-se com uma quantidade enorme de votos; mas nem sempre podia comparecer às sessões da câmara, uma vez que privilegiava os jogos de futebol, à noite.

Em um dos seus últimos jogos, foi entrevistado por uma emissora do time da outra cidade que fazia um jogo local e era no período noturno. O repórter, com o microfone móvel na mão, chegou até o Chicão e disse:

- Mas que maravilha vê-lo aqui, meu companheiro! Diga uma boa noite para o nosso microfone.
Ao que Chicão, com a maior simplicidade, desse mundo respondeu:
- Boa noite, microfone!

O repórter deu uma disfarçada e foi entrevistar outro jogador. Mas o fato não passou em brancas nuvens; foi alvo de muita exploração jocosa na rádio e no jornal local, tornando-se um mote esportivo, essa pérola que o Chicão soltou nessa noite.
Algumas semanas depois, outro jogo importante aconteceu, com o time da cidade precisando ganhar de qualquer jeito; se perdesse o jogo, seria rebaixado para a segunda divisão. Mas o astro maior do time, o valoroso Chicão, estava contundido e não podia jogar aquela partida.

Desgostoso, compareceu ao estádio para incentivar os companheiros e, ficou junto ao alambrado falando palavras de ordem ao time que estava em campo, um pouco antes do início da contenda. Gritava em especial ao jogador que o substituiu, falando sem parar para que ele desse de tudo, até a alma, para ganhar o jogo.

Nessa altura, o repórter que estava dentro do campo, vendo o Chicão lá no alambrado, veio correndo com o microfone, colocando-o em frente a sua boca e fez a seguinte pergunta:

- E aí Chicão, o time vai sentir muito a sua falta?
- De forma nenhuma, comigo ou “sem-migo” o time vai ganhar.

Novamente foi comentado na rádio e jornal, mais uma pérola do repertório do valente jogador. Mas as coisas não pararam por aí; em uma temporada de amistosos, o time foi jogar em Belém do Pará. E lá no campo, antes da partida, respondeu a uma pergunta do intrépido repórter.

- Olá, grande Chicão, é uma alegria muito grande ver você jogando aqui em Belém; diga algumas palavras para a nossa emissora.

E o Chicão soltou mais uma de suas célebres frases:

- É uma satisfação muito grande vir jogar aqui nessa terra de Belém aonde nasceu Jesus Cristo!
  
Depois dessas e muitas outras, chegou o momento do final da carreira. Quanto à de político, não decolou, e foi até eliminado, porque não apresentava projetos e comparecia esporadicamente às reuniões semanais.  O presidente do time, para ajudá-lo, uma vez que não tinha família e morava na concentração do estádio, “ajeitou” um trabalho na emissora local, para livrar-se da fera.

O dono da emissora não teve como recusar o pedido, pois era um torcedor fanático do time e gostava dele como jogador. Ficou com aquele “abacaxi” e “arrumou” um serviço para ele ser ajudante de repórter, do que ele gostou muito, porque não saiu do meio esportivo; e para complementar o trabalho e fazer jus aos mirrados trocos que recebia, durante a noite, tinha que ficar de vigia no prédio da emissora. Durante o dia, ele dormia em um quartinho dos fundos do edifício, sempre com umas “cachaças na cabeça”. Nos dias de jogos, quando ele tinha que “trabalhar”, o faxineiro assumia seu posto de vigia.

Então, ele foi fazendo os serviços de auxiliar ao titular dentro do campo. A alegria era grande e até brincava de entrevistar os jogadores, enquanto o repórter fazia anotações para a transmissão da partida. No decorrer do jogo, o repórter sentiu uma fisgada na barriga e precisou correr para o vestiário, para aliviar a pressão intestinal e lá ficou, não conseguindo voltar para o trabalho.

O locutor de nome Amaral, muito famoso por suas narrações e com um grito de gol de dar inveja a qualquer um, no alto da cabine de transmissão, ficou desesperado, pois não tinha informações do campo; foi quando mandou um recado para o Chicão assumir no lugar do “cagão”. Ele fazia tudo o que lhe mandavam; aumente o som do amplificador, regule o volume da sintonia, cuidado para não chegar perto e dar microfonia etc.

O jogo se desenrolava com muita intensidade; em um momento agudo do ataque do time da casa, em um chute muito forte do lateral direito, a bola explodiu na trave e foi para a linha de fundo. Amaral disse:

- Agora é com você, Chicão, descreva a jogada em que a bola bateu no travessão.
- Pois é, Amaral, o nosso lateral tem pé de bosta, se fosse eu teria marcado o gol.

O coordenador da equipe correu para dentro do campo e deu uma “dura”, dizendo:

- Você não pode falar ‘bosta’ no microfone, tenha cuidado.

De repente, começou uma chuva torrencial; era daquelas de dar medo em gente grande, muita água por todos os lados do campo. A drenagem não dava vazão e o jogo teve que ser paralisado.

Para entreter os ouvintes, o locutor Amaral falou da cabine:

- Chove torrencialmente pelos quatro cantos do gramado.

- Chicão entrou no ar e falou:

- Inclusive do meio!

Foi um silencio total, o coordenador correu novamente lá para o campo e disse:

- Ô Chicão, cuidado com as besteiras, estamos no ar!... Aquele negócio da ‘bosta’ já está dando o que falar. O presidente da rádio já ligou e está uma fera com você.

Ao que ele respondeu.

- Ué, mas foram vocês que me colocaram aqui, porque o Jarbas foi defecar no vestiário e ainda não voltou.

- Está bom, fique mais um pouquinho até terminar o primeiro tempo.

A chuva castigava o estádio, o Amaral já quase não tinha mais o que falar e estava apreensivo, pois se chamasse o Chicão, poderia sair mais besteira. Mas a voz dele começou a ficar em tom baixo. O jogo estava parado, então pediu para o Chicão ver se dava uma “arrumada” no aparelho.

Pois é, minha gente, vou pedir para a nossa equipe técnica verificar o que está acontecendo, para restabelecermos logo o bom tom para a transmissão ficar legal, no momento em que o jogo recomeçar.

- Alô, equipe, (era só o Chicão), é só mexer no amplificador, que o som vai melhorar.

Chicão “entendeu” a mensagem e começou a “fuçar” nos botões do amplificador.

Nessa altura, a chuva tinha parado e o jogo iria recomeçar.

Amaral soltou a voz e pediu à “equipe” para melhorar o som.

- Alô, meus técnicos de som, como está o amplificador?

Chicão, que era a “equipe”, falou em pleno ar:

- Amaral, aqui em baixo é uma merda só, é choque para tudo quanto é lado, não aguento mais, até o meu rabo está pegando fogo.

Nessa altura, o presidente da rádio já estava no estádio “espumando”; chamou o Chicão no alambrado e pediu para ele se retirar do campo e mandou-o embora e mais o “cagão”. No dia seguinte, o Amaral também recebeu o bilhete azul.

O prejuízo foi grande, todos os patrocinadores se desligaram da rádio e foram para a estação rival e nunca mais ouviram falar do Chicão. Ficou, então, como um anedotário na cidade, em termos de transmissões esportivas, repercutindo até na capital, tendo até matéria esportiva em jornais sobre essas frases. E a passagem do Chicão, pela cidade, virou uma lenda, com as pessoas atribuindo outras pérolas ao Chicão, que ninguém sabe aonde foi parar.                    

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Perolas Futebolísticas do Chicão Batata

                           A GORDUCHINHA BEIJOU A REDE...


Chicão foi um jogador de bola mediano, daqueles que na gíria esportiva do futebol é chamado de “boleiro”, Jogou em um dos times “grandes” da capital do Estado de São Paulo. Com o tempo e a idade chegando, decaiu de produção e acabou jogando no final de sua carreira em um time pequeno, de uma cidade do interior, que fazia parte da divisão principal.

Nesse time, jogava de médio volante, distribuindo as jogadas no meio de campo. Tinha inúmeros admiradores, inclusive o do público feminino que aos domingos assistiam emocionadas as suas jogadas.

Antes de entrar em campo, atendia a toda criançada que corria atrás pedindo um afago e um carinho e ele fazia com a maior boa vontade. Recebia também ramalhetes de flores das moças que elegantemente agradecia com um beijo na face e pedia licença para distribuir para uma torcida especial que ficava na curva da arquibancada, composta de senhores e de senhoras, moradores tradicionais da cidade.

Após os jogos quando o time ganhava, desfilava todo garboso pela praça principal, onde tinha um cinema, e as pessoas na fila de espera sobre a calçada, aguardando a entrada, lhe pedia autógrafos, que ele rabiscava em qualquer tipo de papel que lhe forneciam.

 Tinha uma escolaridade muito básica e se expressava com alguma dificuldade, fosse às entrevistas dentro e fora do campo, mas com o seu carisma esportivo, tudo superava e, tinha uma presença de espírito muito boa, que arrancava muitas gargalhadas das pessoas.

Era uma figura muito conhecida, e candidatou-se a vereador, elegendo-se com uma quantidade enorme de votos, mas nem sempre podia comparecer às seções da câmara, uma vez que privilegiava os jogos de futebol à noite.

Em um dos seus últimos jogos, foi entrevistado por uma emissora do time da outra cidade que fazia um jogo local e era no período noturno. O repórter com o microfone móvel na mão chegou até o Chicão e disse:

- Mas que maravilha vê-lo aqui meu companheiro, diga uma boa noite para o nosso microfone.
Ao que Chicão com a maior simplicidade desse mundo respondeu:
- Boa noite microfone!

O repórter deu uma disfarçada e foi entrevistar outro jogador. Mas o fato não passou em brancas nuvens, foi alvo de muita exploração jocosa na radio e no jornal local, ficando então, um mote esportivo, o fato dessa pérola que o Chicão soltou nessa noite.
Passado algumas semanas outro jogo importante aconteceu, com o time da cidade precisando ganhar de qualquer jeito, se perdesse o jogo, seria rebaixado para a segunda divisão. Mas o astro maior do time o valoroso Chicão, estava contundido e não podia jogar aquela partida.

Desgostoso compareceu ao estádio para incentivar os companheiros e, ficou junto ao alambrado falando palavras de ordem ao time que estava em campo, um pouco antes do inicio da contenda. Gritava em especial ao jogador que o substituiu, falando sem parar para que ele desse de tudo, até a alma, para ganhar o jogo.

Nessa altura, o repórter que estava dentro do campo, vendo o Chicão lá no alambrado, veio correndo com o microfone, colocando-o em frente a sua boca e fez a seguinte pergunta:

- E aí Chicão, o time vai sentir muito a sua falta?
- De forma nenhuma, comigo ou “semmigo” o time vai ganhar.

Novamente foi comentado na rádio e jornal, mais uma pérola do repertório do valente jogador. Mas as coisas não pararam por aí, em uma temporada de amistosos, o time foi jogar em Belém do Pará. E lá no campo, antes da partida, respondeu a uma pergunta do intrépido repórter.

- Olá grande Chicão, é uma alegria muito grande ver você jogando aqui em Belém, diga algumas palavras para a nossa emissora.

E o Chicão soltou mais uma de suas celebres frases:

- É uma satisfação muito grande vir jogar aqui nessa terra de Belém aonde nasceu Jesus Cristo!
  
 Depois dessas e muitas outras, chegou o momento do final da carreira. Quanto à de político, não decolou, e foi até eliminado, porque não apresentava projetos e comparecia esporadicamente às reuniões semanais.  O presidente do time, para ajudá-lo, uma vez que não tinha família e morava na concentração do estádio, “ajeitou” um trabalho na emissora local, para livrar-se da fera.

O dono da emissora não teve como recusar o pedido, pois era um torcedor fanático do time e gostava dele como jogador. Ficou com aquele “abacaxi” e “arrumou” um serviço para ele ser ajudante de repórter, o que ele gostou muito, porque não saiu do meio esportivo, e para complementar o trabalho e fazer jus aos mirrados trocos que recebia, durante a noite, tinha que ficar de vigia no prédio da emissora. Durante o dia ele dormia em um quartinho dos fundos do edifício, sempre com umas “cachaças na cabeça”. Nos dias de jogos quando ele tinha que “trabalhar, o faxineiro assumia seu posto de vigia.

Então ele foi fazendo os serviços de auxiliar ao titular dentro do campo. A alegria era grande, e até brincava de entrevistar os jogadores enquanto o repórter fazia anotações para a transmissão da partida. No decorrer do jogo, o repórter sentiu uma fisgada na barriga e precisou correr para o vestiário, para aliviar a pressão intestinal e lá ficou não conseguindo voltar para o trabalho.

O locutor de nome Amaral, muito famoso por suas narrações e com um grito de gol de dar inveja a qualquer um, no alto da cabine de transmissão, ficou desesperado, pois não tinha informações do campo, foi quando mandou um recado para o Chicão, assumir no lugar do cagão. Ele fazia tudo o que lhe mandavam; aumente o som do amplificador, regule o volume da sintonia, cuidado para não chegar perto e dar microfonia etc.

O jogo se desenrolava com muita intensidade em um momento agudo do ataque do time da casa, em um chute muito forte do lateral direito, a bola explodiu na trave e foi para a linha de fundo, Amaral disse:

- Agora é com você Chicão, descreva a jogada em que a bola bateu no travessão.
- Pois é Amaral, o nosso lateral tem pé de bosta, se fosse eu teria marcado o gol.

O coordenador da equipe correu para dentro do campo e deu uma “dura”, dizendo:

- Você não pode falar bosta no microfone, tenha cuidado.

De repente começou uma chuva torrencial, era daquelas de dar medo em gente grande, muita água por todos os lados do campo. A drenagem não dava vazão e o jogo teve que ser paralisado.

Para entreter os ouvintes, o locutor Amaral falou da cabine:

- Chove torrencialmente pelos quatro cantos do gramado.

- Chicão entrou no ar e falou:

- Inclusive do meio!

Foi um silencio total, o coordenador correu novamente lá para o campo e disse:

- O Chicão, cuidado com as besteiras, estamos no ar, aquele negocio da bosta já esta dando o que falar. O presidente da rádio já ligou e esta uma fera com você.

Ao que ele respondeu.

- Ué, mas foram vocês que me colocaram aqui, porque o Jarbas foi cagar no vestiário e ainda não voltou.

- Está bom, fique mais um pouquinho até terminar o primeiro tempo.

A chuva castigava o estádio, o Amaral já quase não tinha mais o que falar e estava apreensivo, pois se chamasse o Chicão, poderia sair mais besteira. Mas a voz dele começou a ficar em tom baixo. O jogo estava parado e então pediu para o Chicão ver se dava uma “arrumada” no aparelho.

Pois é minha gente vou pedir para a nossa equipe técnica verificar o que está acontecendo, para restabelecermos logo o bom tom para a transmissão ficar legal, no momento que o jogo recomeçar.

- Alô equipe, (era só o Chicão), é só mexer no amplificador, que o som vai melhorar.

Chicão “entendeu” a mensagem e começou a “fuçar” nos botões do amplificador.

Nessa altura a chuva tinha parado e o jogo iria recomeçar.

Amaral soltou a voz e pediu a “equipe” para melhorar o som.

- Alô meus técnicos de som, como está o amplificador?

Chicão que era a “equipe” falou em pleno ar:

- Amaral, está tudo uma merda aqui em baixo, é choque para tudo quanto é lado, não agüento mais, até o meu rabo esta pegando fogo.

Nessa altura o presidente da radio já estava no estádio “espumando”, chamou o Chicão no alambrado e pediu para ele se retirar do campo e mandou-o embora e mais o cagão. No dia seguinte o Amaral, também recebeu o bilhete azul.

O prejuízo foi grande, todos os patrocinadores desligaram-se da radio e foram para a estação rival e nunca mais ouviram falar do Chicão. Ficou então como um anedotário na cidade, em termos de transmissões esportivas, repercutindo até na capital e teve até matéria esportiva em jornais falando dessas frases e a passagem do Chicão pela cidade, que virou uma lenda, com as pessoas atribuindo outras perolas ao Chicão que ninguém sabe aonde foi parar.
                                              

A CIÊNCIA ADIVINHATÓRIA

Desde os tempos imemoriais, tem o homem procurado antever os efeitos de origem física, biológica e de inúmeras outras, surpreendendo as leis...