ALGUMAS REMINISCÊNCIAS DE NOSSA VIDA PROFISSIONAL EM ARAÇATUBA-SP
Ao longo de nossa trajetória profissional, passamos por momentos que marcaram profundamente nossa experiência na implantação da filial da empresa de Conservas Alimentícias em Araçatuba, SP. A viagem até lá já foi um prenúncio das histórias que iríamos colecionar.
Partimos da capital por volta das 22:00 horas em um ônibus leito, seguindo as normas da empresa, que não priorizava deslocamentos aéreos na época. O grupo era formado por nós, Oscar, Jorginho Carvoeiro—também conhecido como Jorginho Carioca—e outros colegas, cada um com sua peculiaridade que tornava a jornada ainda mais memorável. Oscar, sempre meticuloso, carregava anotações sobre o projeto como se fossem um tesouro. Jorginho, com seu bom humor peculiar, era o responsável por manter o ânimo alto mesmo nos momentos mais tensos. E nós, entre risos e desafios, formávamos um time de profissionais dedicados a fazer a nova filial prosperar.
Em uma parada técnica em Bauru, aproveitamos para um rápido lanche antes de embarcar novamente. No entanto, ao chegarmos ao destino, percebemos a ausência de Oscar. O mistério foi desfeito quando soubemos que ele havia embarcado no ônibus errado, todos eram da mesma cor e organizados de forma idêntica na estação rodoviária. O episódio rendeu boas risadas e virou assunto entre nós e os colegas da matriz.
Ao desembarcarmos em Araçatuba, tivemos mais uma situação cômica. No escuro da madrugada, pegamos nossas malas e também a de Oscar, que seguia sem dono. Jorginho, determinado a chegar rápido ao ponto de táxi, segurou sua mala nas mãos, pois naquele tempo rodinhas ainda não eram comuns. De repente, um homem de aparência asiática começou a gritar desesperadamente: "MARA MIA, MARA MIA!" Chegando perto de Jorginho, tentou recuperar sua mala. A confusão foi generalizada, parecendo até um assalto, com pessoas correndo pelo corredor. Depois de muito bate-boca, conseguimos resolver a situação, mas a cena ficou eternizada na memória coletiva, especialmente pelo bordão repetido à exaustão por Jorginho: “MARA QUASE IGUARO NÉ?” Como se não bastasse, ao voltarmos para pegar nossas próprias malas, percebemos que o ônibus já havia partido e levado tudo para a garagem, o que exigiu um novo deslocamento para recuperar nossas bagagens.
Dentro da fábrica, os desafios continuaram. Nossa missão era recrutar e selecionar funcionários para dar início à produção da moagem de tomates, convertendo-os em polpa para fabricação de extratos e derivados. Porém, a mão de obra disponível era quase que exclusivamente rural e sem experiência na função. Iniciamos uma campanha na rádio local, mas os resultados foram tímidos. Optamos então por percorrer a cidade com uma Kombi equipada com alto-falantes, divulgando a oportunidade nos bares, feiras e lojas. Aos poucos, o número de candidatos aumentou, e conseguimos preencher as vagas essenciais para o funcionamento inicial da unidade.
A equipe recém-formada era composta por pessoas de perfis diversos, muitos deles sem nenhuma experiência prévia na indústria. Entre os colaboradores contratados, tivemos porteiros e vigilantes que enfrentavam desafios diários, além de operários que precisavam aprender rapidamente as técnicas de processamento. O ambiente era intenso e exigia muita adaptação por parte de todos.
Entre os muitos episódios marcantes, destacamos a história do porteiro apelidado de "Boca de Ouro", por possuir dentes dourados em sua dentadura. Ele enfrentava dificuldades de comunicação, o que gerava impaciência entre os motoristas que aguardavam para descarregar os caminhões. Quando a pressão aumentava, ele retirava sua dentadura e guardava na gaveta, tornando sua fala ainda menos compreensível. Certa manhã, ele apareceu no RH com as roupas e o rosto manchados de vermelho, resultado de uma tomatada lançada por um motorista irritado. Sem a dentadura, sua explicação era incompreensível, até que um colega lhe devolveu os dentes e finalmente conseguimos entender o ocorrido. Em meio à tensão do momento, ele se dirigiu ao grupo de motoristas e questionou: "Quero saber quem foi o filho-da-puta que atirou o tomate em mim!" Ao que um motorista corpulento respondeu: "Fui eu, por quê?" E Boca de Ouro, resignado, apenas disse: "O senhor tem uma pontaria, hein?" O episódio arrancou risadas pela fábrica e, dois dias depois, o porteiro pediu demissão.
A equipe que se formou ao longo desse período era resiliente e disposta a enfrentar desafios. Apesar dos obstáculos, conseguimos erguer um ambiente produtivo, onde cada membro contribuía à sua maneira para que a fábrica começasse a operar. Eram tempos difíceis, mas também carregados de aprendizado e histórias inesquecíveis.
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