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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

QUE PONTARIA HEIN? - SEGUNDO CAPITULO REMINISCENCIAS FCA ARAÇATUBA









Uma das minhas responsabilidades no projeto Fábrica de ARAÇATUBA, consistia em efetuar o recrutamento e seleção de pessoas para alavancar o início da produção da moagem de tomates, convertendo-os em polpa, para futura fabricação de extratos e seus derivados.

Fomos até a rádio local e apresentamos um texto para ser veiculado de hora em hora, fazendo o chamamento para os interessados. A apresentação seria no endereço de uma casa que a empresa alugou para nos acomodar. A solicitação do gerente recém-contratado, seria em torno de 300 pessoas para dentro de uma semana. Na fábrica, o pessoal técnico, deslocados da matriz para montagem dos equipamentos, estava a todo vapor, trabalhavam dia e noite atendendo o apertado cronograma de montagem.

Na cidade, a mão de obra era quase que rural, não havia gente com a mínima experiência para o trabalho especificado, teria que ser até sem experiência e pouca qualificação, pois se fossemos levar ao pé da letra, não contrataríamos ninguém.

No dia seguinte, compareceu pouquíssimas pessoas, pois não entendiam ao certo como era o trabalho. Tivemos que lançar mão de um texto gravado com nossa imaginação, em uma fita cassete, rodando pela cidade em uma Kombi, com o som reproduzido por um alto-falante meio improvisado, despertando entre os transeuntes, muita curiosidade. 

Parávamos nos bares, feiras, lojas, juntando muita gente, então a notícia foi se espalhando. Nos dias que seguiram, antes da data de inauguração, começou a comparecer mais pessoas. O material humano era péssimo.

Como prazo estava muito apertado, começamos a selecionar o que dava para fazer. Nessa confusão, recrutamos dois porteiros, três vigilantes, muitas moças e rapazes.

No dia marcado, a fábrica começou a virar, os caminhões traziam os tomates em caixotes e ficavam em uma fila na rua da portaria, aguardando as descargas. Havia muita demora para entrar os caminhões carregados no local da desova dos tomates. E assim, foram passando os penosos dias. 

Algumas pessoas, não ficavam no local nem algumas horas, já iam embora e não vinham fazer o acerto no RH, levavam até o cartão de ponto para a casa e sumiam, os acertos de contas eram intermináveis.

Em um determinado dia, um dos porteiros veio até a mim, dizendo que não dava mais para ficar aguentando os insultos dos motoristas pela longa espera. Esse porteiro, falava com dificuldade, então pedíamos que melhorasse a sua comunicação. O problema da demora, não era de nossa alçada, e sim do gerente da fábrica e fomento agrícola, mas não queriam nem saber, vinham querendo falar com o RH de Cajamar (era eu).

Então, comparecia a portaria e ficava ali, com uma enorme paciência, explicando que estávamos no começo etc. Esse porteiro, que apelidamos de boca de ouro, (porque tinha em uma das dentaduras, alguns dentes de ouro), quando a situação apertava, tirava as dentaduras e as colocava na gaveta da escrivaninha da portaria, então, o seu linguajar tornava-se mais confuso, o que deixava os motoristas sem paciência.

Todo dia era essa ladainha. Certa manhã, chegou nervoso até o RH com o rosto e roupas manchadas de tons vermelhos. Perguntei o que tinha acontecido. Falou que um dos motoristas atirou um tomate em sua direção e explodiu em seu rosto. Mas tudo de forma confusa, porque estava sem a dentadura. Daí chegou o segundo porteiro com as dentaduras “do boca” nas mãos e entregou-as. Colocou-as, então começamos a entender o que havia acontecido.

Quando recebeu a “tomatada”, foi em direção ao grupo de motoristas e disse: - Quero saber quem foi o filha-da-puta que atirou o tomate em mim? Daí um dos motoristas saiu do meio do grupo; era um mulato de corpo avantajado e disse: - Fui eu porquê? Ao que o glorioso porteiro boca de ouro respondeu; - O senhor tem uma pontaria hein? Foi só risada. O assunto ficou rodando pela fábrica o dia todo. Passados dois dias pediu demissão.

aa) Antonio Toninho Vendramini Neto

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