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terça-feira, 15 de abril de 2025

O MURO DAS LAMENTAÇÕES


O PEDIDO COMPRIMIDO ENTRE AS PEDRAS ANCESTRAIS




A ansiedade nos dominava. Eu e minha esposa, impelidos por uma emoção quase palpável, cruzávamos as vielas estreitas de Jerusalém como peregrinos em busca de um destino sagrado. O brilho em nossos olhos denunciava a expectativa de chegar ao coração da cidade antiga, um enclave histórico envolto por muralhas imponentes, testemunhas silenciosas de séculos de devoção.

Ali, onde o tempo parece se dobrar sobre si mesmo, encontramos o epicentro espiritual de Jerusalém. Nomeado pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade, essa região abriga as marcas indeléveis das principais crenças do mundo.

Cada um de nós trouxe consigo desejos e súplicas, convertidos em bilhetes humildes destinados a serem inseridos nas rachaduras do lendário Muro das Lamentações. À medida que caminhávamos, algo inexplicável começava a se insinuar em nossos corpos. Sentíamos uma presença, um arrepio profundo que percorria a espinha e tornava os passos mais lentos, quase reverentes.

O ar fervilhava com o som de vozes em murmúrio constante, enquanto cornetas esculpidas em chifres de carneiro ecoavam pelo espaço, conduzindo religiosos em procissões que carregavam o Torá. Ao fundo, entrelaçavam-se ao som desses rituais as preces muçulmanas que ecoavam dos minaretes, criando uma sinfonia única e avassaladora. O coração pulsava mais forte, acelerado pela intensidade do momento.

Era impossível não ser envolvido pela atmosfera contagiante que nos cercava. A euforia se instalava, misturada a uma reverência silenciosa. Queríamos avançar rapidamente, absorver cada detalhe, testemunhar o cenário tantas vezes visto em filmes e fotografias—mas que agora, finalmente, estava diante de nós.

Cercados por uma diversidade impressionante de pessoas, percebemos a predominância das vestes árabes, mulheres cobertas por trajes negros, revelando apenas os olhos que, em alguns casos, ainda se escondiam atrás de óculos escuros, criando um mistério fascinante e digno de ser registrado. Judeus ortodoxos e rabinos, igualmente envoltos em negro, caminhavam apressadamente, suas barbas longas e os tradicionais fios encaracolados sobre os ombros conferindo um ar quase cerimonial.

Ali, naquele instante, eu me perguntava sobre o significado dessa confluência de três grandes religiões, cada uma com sua história, suas tradições e suas dores, mas unidas por um mesmo ideal: a fé.

A criação do Estado de Israel foi fruto do destino e da luta de um povo que, ao mesmo tempo sofrido e determinado, luta incessantemente por seu direito de permanecer nessa terra sagrada—uma terra impregnada de misticismo, movida por crenças profundas. Mas os que perderam suas terras para essa ocupação encontram dificuldade em aceitar essa nova configuração.

Jerusalém, palco de tantas promessas e tantos conflitos, guarda em seus templos e ruas as pegadas do próprio Cristo. Jesus, o Astro-Rei, majestoso e soberano, contempla aqueles que vêm de todas as partes do mundo para reverenciá-Lo, buscar Suas lições, sentir Suas marcas eternizadas pela cidade. O Monte das Oliveiras, a Via Dolorosa, o Santo Sepulcro—todos testemunham a trajetória que há mais de 2000 anos inspira corações e esperanças.

E nós, diante desse cenário inigualável, depositamos nossos bilhetes entre as fendas do muro. Fé. Saúde. União familiar. Dignidade. Olhos atentos à beleza do mundo e à necessidade de estender a mão aos que mais precisam.

Antes de nos afastarmos, contemplei o oceano de pedidos comprimidos entre as pedras ancestrais. Se pudesse dar voz a todos aqueles bilhetes, talvez encontrasse ali as dores mais profundas e os anseios mais sinceros, como dobras do tempo registrando os dramas individuais e os clamores por paz em uma região marcada por fé, disputa e poder.


AGRADEÇO AS OPORTUNIDADES QUE NOS SÃO DADAS DIARIAMENTE PARA EVOLUIR.




sexta-feira, 1 de setembro de 2017

UM CONTO ABORDANDO O FINAL DO REINADO DO PAPA JOÃO PAULO II

UM CONTO ABORDANDO O FINAL DO REINADO DE JOÃO PAULO II


Essa narração não é bem a trajetória real dos acontecimentos... Na minha visão de escritor, a imaginação campeia solta em busca de um bom motivo para escrever uma crônica ou um conto, mas o fato da morte desse grande estadista foi verdadeiro. Estou falando do Papa João Paulo II, nascido Karol Jozef Wojtyla.

O seu longo reinado estava chegando ao fim. Sua morte se aproximava rapidamente. Aquele homem, já considerado pela humanidade como um santo, necessitava contar o segredo que guardou por tanto tempo. O povo, reunido em orações na monumental praça rodeada por  estátuas de santos, aguardava, em silêncio, o momento final.

Ele já enxergava a alma em levitação, querendo deixar o corpo terreno. Sua luta neste mundo foi produto de uma jornada de muita compreensão e perseverança entre os homens do povo e os Chefes de Estado com quem se reuniu inúmeras vezes, na busca incansável pela paz entre os seres humanos providos de bons pensamentos.

Sentia uma emoção incontrolável em razão da doença e do avanço da idade, mas tinha que revelar o que guardou por muito tempo. Imaginou como seriam os esforços de seu confessor para realizar a difícil tarefa da revelação, em razão de um mundo atormentado onde as religiões andam de olhos vendados, ignorando as vidas perdidas em guerras políticas e insanas dos fanáticos.

Em sua cabeceira encontravam-se seus assessores diretos, alguns em fervorosas orações, outros já providenciando o protocolo para os dias que se seguiriam ao seu funeral. Ele estava ali, inerte, e sem forças nos intramuros de seu reduto religioso.

Na porta de seus aposentos estavam seus soldados, com uniformes bufantes e coloridos desenhados por Michelangelo, com a arma medieval, a alabarda, uma espécie de lança com uma placa de metal em forma de meia-lua na ponta. São os tradicionais guardas suíços que fazem a proteção pessoal do Sumo Pontífice, no imenso palácio, há mais de quinhentos anos.

Na parede da minha memória sobrou uma lembrança e, em forma de “momentos do passado”, voltei a esse local, onde, com a minha esposa, assistimos a uma missa campal, com ele presidindo os sacerdotes nos procedimentos religiosos, embaixo de chuva e, mesmo assim, os fiéis permaneciam naquele solo sagrado. 

Ao fundo, enxergávamos a Basílica, erguida no mesmo local onde Simão Pedro, o primeiro Papa, havia sido crucificado no ano 67 d.C.. Foi daí que a Cidade do Vaticano começou a surgir, em 313, com a conversão do Imperador Romano Constantino ao cristianismo.

Foi a primeira grande aliança política da Igreja, que, a um só tempo, livrou-se das perseguições e pôde construir a Basílica de São Pedro com ajuda oficial.

A história da instituição religiosa, uma invejável trajetória de sobrevivência e expansão ao longo dos séculos, seguiu a lógica de qualquer país ou governo em busca do poder.
Nas vezes em que lá estive, consegui arrebanhar muitas informações, por ser um assunto de que gosto muito. Soube que, com apenas mil habitantes fixos, esse pequeno grande país, que é a cidade do Vaticano, realiza o milagre de falar em nome de mais de um bilhão de católicos, rebanho formado por uma em cada cinco pessoas da população mundial.

Chefiado pelo Papa, soberano com poderes absolutos, o Vaticano é uma inusitada monarquia em que o trono não é transmitido por herança, mas disputado no voto, em eleições quase sempre dramáticas, das quais os Cardeais, e só eles, participam na dupla condição de eleitores e candidatos.

Esse é o foco desse conto, com personagens reais e fatos imaginários, que abordarei daqui em diante. O enriquecimento do assunto se fez presente nas visitas internas que fizemos aos museus e outras dependências, culminando na Capela Sistina, que, além de ser um local de peregrinação, é onde se conhece um novo Papa, após os funerais do antecessor. Assim, vislumbrei um dia escrever sobre o assunto em forma de ficção, obra da fértil imaginação de quem começa a escrever.

Antes de seu suspiro final, João Paulo II mexe a cabeça para o lado esquerdo de sua cama onde, sobre um móvel centenário, havia uma antiga bíblia. Olhando firmemente, fez um sinal com os olhos ao assessor direto, o cardeal Joseph Ratzinger.

Este, sabendo e conhecendo todos os seus gestos transmitidos ao longo do secretariado, entendeu o recado e se aproximou com delicadeza e suavidade.

Apontou para a bíblia que continha um crucifixo separando algumas anotações feitas dias antes. Conversaram em voz praticamente inaudível, aos sussurros e lágrimas; ninguém se aproximou, compreendendo o colóquio religioso daquelas duas criaturas que se entenderam perfeitamente durante os longos anos de cumprimento do dever em nome de Jesus Cristo e Deus nosso Senhor.

Criou-se e instalou-se ali, O Peso de Um Segredo e o Limiar de Uma Nova Era.

Quase sem forças para andar tamanha era a carga que lhe pesava sobre os ombros, sentiu um baque profundo, empalideceu, suas pernas tremeram, sua voz recolheu-se em estado de profunda emoção e não conseguiu proferir uma só palavra aos demais presentes. Viu seu mentor partir, ajoelhou-se em grande respeito e recolheu-se em meditação na capela Sistina, fitando o painel do Juízo Final, de Michelangelo.

Olhando aquela magnífica obra de arte no teto da capela, bailou, em sua mente, a disposição que lhe pesou quando da revelação de João Paulo II, entregando-lhe a missão e a dificuldade que teria que desempenhar para a realização.

Imaginou que se fosse eleito Papa, deveria se espelhar no “drama” que viveu Miguelangelo com o Papa Julius II, transformando aquela empreitada em “agonia e êxtase” e pôde retratar, em um grande afresco, as pinturas na abóboda da capela.

Com esse pensamento, continuou em meditação, pediu ajuda celestial aos céus e desenvolveu um plano que começou arquitetar mentalmente. Não tinha muito tempo, pois, logo em seguida, vieram ao seu encalço, os representantes da sucessão, informando-lhe que, a partir daquele momento, se tornaria o “camerlengo’, figura que toma as rédeas da igreja até a eleição de um novo papa”. 

Essa condição foi uma das revelações; João Paulo já havia recomendado aos agentes da sucessão quem seria o camerlengo, fato que o ajudaria a se desincumbir da missão, pois ele seria o condutor da sucessão que aconteceria, na capela sistina, nos próximos dias após as solenidades do funeral.

La fora, na praça, o povo entoava canções de louvores ao seu belo reinado de vinte e seis anos; ao término, ecoavam as palavras na língua italiana, “Santo Súbito”.

Passadas todas as emoções do sepultamento, os cardeais de todo o mundo, que vieram para o funeral, começaram a se reunir na capela, sob a direção de Ratzinger, seus assistentes e a cúpula sucessória composta de cardeais com menos de oitenta anos.

Após vários dias de reuniões pela manhã, tarde e noite, o povo reunido na praça viu, finalmente, a fumaça branca sair pela chaminé da Capela. Antes, o que se viu durante dias foi a fumaça preta, informando que ainda não havia nenhuma decisão, mas, na manhã do quinto dia, saiu o veredicto; o representante da sucessão informou, da janela dos aposentos papal, a frase esperada por todo o mundo, uma vez que o evento estava sendo transmitido ao vivo por todos os meios de comunicação: “Habemus Papam!”.

O Cardeal Ratzinger tornou-se Bento XVI. Após alguns minutos, Sua Santidade chegou à janela, debruçou sobre a imensa toalha vermelha que forrava o local, aproximou-se dos microfones e disse: “Espero não me atrapalhar com a língua italiana, pois a emoção de conduzir esse enorme rebanho é muita”. Vou trabalhar como o meu antecessor, o querido João Paulo II.

Recolheu-se para seus aposentos e pediu, em baixa voz, ao seu camareiro que chamasse o Papa Ângelus Nero I. Como? Alguns dos seus íntimos assessores estranharam o fato. Mas o certo é que, na Capela Sistina, foram eleitos dois papas, dentro de muito mistério e segredo.

Começava a ser cumprida, pelas mãos da igreja católica e do novo Papa, a revelação do segredo informado ao então cardeal Ratzinger, por João Paulo II.

Como poderia ser a Igreja católica conduzida por dois Papas? O que se discutiu e foi acertado durante aqueles dias de reuniões e conferências dentro da capela foi o seguinte:

- O papa Bento XVI deveria e foi eleito o novo Papa, uma vez que era o sucessor natural de João Paulo II.

- O papa Ângelus Nero I (anjo negro), depois de conversar longamente com Bento XVI, despojou-se de suas vestes sacerdotais, travestiu-se de homem comum do povo e, já falando uma linguagem universal, saiu pelos subterrâneos do Vaticano, tomando rumo ignorado, com a missão de evangelizar os povos de todo o mundo para uma única religião.

Após anos de peregrinação pelo mundo, voltou ao Vaticano e ficou sendo o assessor direto de Bento XVI, sendo que, após a sua morte, será conduzido pelas mãos de representantes de todos os governos ao centro de um poder único, como Nações Amigas e Unidas, estabelecendo, finalmente, a paz no mundo.

E assim, o último Papa católico e o primeiro da raça negra transformar-se-ão em arautos da paz mundial, como símbolo de esperança de um mundo melhor.

Em seu discurso, falará daquela janela para o mundo em um único idioma; “Povos de todas as raças, hoje começa uma nova era: é o ano “I”; sem um Papa para conduzi-los, o mundo falará um único idioma e haverá somente uma religião para os povos de boa vontade”.



A INSENSATA MORDAÇA

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