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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

DEPOIS DA CHUVA





Os últimos pingos da chuva ainda caiam desordenadamente sobre a calçada empoeirada. A água acumulada ia lavando suas impurezas; Uma criança caminhava por ela com uma das palmas da mão estendida, suplicando por alguma oferenda que alguém lhe pudesse entregar, para saciar sua fome.

Nada encontrando, voltou para junto da mãe que estava na esquina com a roupa molhada, tentando secar o cabelo que cobria a testa enrugada, marcada pela vida sofrida que lhe pesava sobre os ombros.

Em um dos braços, carregava outro filho menor que reclamava, como o primeiro, da dor da fome e, não sabendo se expressar de outra forma, gritava incessantemente, de tal forma que despertou, em alguns transeuntes, uma piedade sem tamanho e sem ação, observando o sofrimento daquela família, sem nada fazer.

Outros passavam apressadamente ainda correndo da chuva e reclamavam da obstrução da calçada causada pela mãe e as crianças, sentadas sobre o frio e úmido chão.

A tarde foi caindo, quase virando noite e ninguém se apiedou daquelas três criaturas que lá permaneciam, agora também com frio.
Do outro lado da rua, estava uma monumental praça da bela metrópole, ostentando ornamentos de uma cidade com uma situação privilegiada para as questões administrativas, mas de pouca solidariedade com as pessoas de menor posse e flagelados.

Na esquina, havia uma antiga igreja de fachada simples, mas com um nobre sacerdote, que avistou aquelas pessoas, na calçada, com as roupas ainda molhadas.

Pediu ao idoso sacristão que fosse até o local e que as trouxesse para dentro. O sacerdote estava contrariando as ordens superiores, levando aquelas criaturas para dentro da igreja e oferecendo abrigo noturno, mas não se importou: agiu com fé na religião e com o coração. Solicitou, então, ao ajudante que preparasse um café com bolachas, enquanto procurava, no depósito, roupas que haviam sido recolhidas na última campanha do agasalho, pois o frio já estava presente no corpo daquelas pessoas.

A jovem senhora e seus dois filhos foram para esse depósito onde receberam roupas secas e colchões colocados sobre algumas tábuas, para poderem passar a noite.
 A mulher se viu diante de um pequeno altar de origem barroca, com um santo olhando fixamente para ela, velando o sono daquela inocente família.

No dia seguinte, logo cedinho, o sacerdote se aproximou da senhora junto com o idoso sacristão e quiseram ouvir a sua história.

Após o seu relato, o sacerdote identificou a pessoa e constatou, por informações de tempos atrás, tratar-se de sua meia-irmã. Abraçaram-se muitas vezes... E, deixando os filhos com o sacristão, o sacerdote pediu-lhe que levasse os dois para uma creche mantida pela igreja, e ela ficou fazendo serviços de limpeza no humilde santuário.
Na visão daquela mulher simples, um milagre aconteceu, pois tudo a levou a esse pensamento e a uma exclamação de alegria e contentamento.

Mas o que é um milagre? Como saber, com certeza, que algo milagroso aconteceu?

As respostas não são simples e dependem do ponto de vista de quem as responde. Popularmente e principalmente nos povos de crença nativa, a definição de milagre é bem menos rigorosa, atribuindo a uma intervenção maravilhosa do Senhor Deus, um acontecimento que não segue o que é habitual na natureza e não tem outra explanação.   


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