Agora um espectro do homem
que um dia aterrorizou uma nação, arrastava-se pela sala de estar, olhando
fixamente para a lareira onde as chamas haviam consumido os resquícios de seu
passado. Mas nem o fogo era capaz de apagar a verdade—ela continuava a arder em
sua consciência, sufocando-lhe o espírito.
Afundado na poltrona de couro envelhecido,
sentia o peso dos anos e das incontáveis injustiças que perpetrou. Sua própria
existência, antes sustentada pela força bruta, agora se esvaía como um fio de
fumaça. O silêncio opressor da casa exalava uma sentença já proferida: o
esquecimento.
Chamou sua ordenança, o único que restara ao seu
lado na fuga. Apontou para as cinzas espalhadas, ordenando que recolhesse o
último fragmento de papel que insistia em não desaparecer. Com as mãos
trêmulas, assoprou a fuligem e leu a assinatura distorcida pelo fogo—um nome que
já não significava nada.
O último ato. O último suspiro.
Olhou para
aquele fragmento como se pudesse devorá-lo e apagar sua própria história.
Engoliu o papel, sufocando-se com o gosto amargo de sua própria derrota. O
soluço fatal rasgou-lhe a garganta, e, no instante seguinte, o corpo pesado
tombou, finalmente vencido pelo tempo e pelo juízo que sempre evitara.
Lá fora, o vento agitava as folhas das árvores
revigoradas pela liberdade. Os murmúrios do povo ecoavam como um cântico de
esperança, enquanto o nome do caudilho se desmanchava nas brumas do
esquecimento.
Poema - O Último Eco da
Opressão
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Às vezes, basta abrir a janela para
viver uma história. E é essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento que
desejo compartilhar com vocês.