Uma assinatura chamuscada pelo fogo foi tudo o que restou naquele pedaço
de papel junto às cinzas depositadas na lareira da sala de estar; comprovando
ainda resquícios de um passado que tentou destruir.
Seu olhar se manteve fixo por alguns instantes naquele local, lentamente
começou a caminhar, carregando o enorme corpanzil, dando voltas ao redor do
tapete descolorido.
Afundado em pensamentos, lembrou que aquele documento continha, ainda,
revelações sombrias sobre seu passado, marcado pelas atitudes insanas, praticadas
ao longo de sua vida.
Depois da fuga desesperada de seu reduto, tomando caminhos tortuosos, esteve
sempre recluso. O medo de expor seu rosto entre as pessoas nas ruas da pequena
cidade onde instalou o seu refugio era assustador.
Já tinha destruído através do fogo todos os vestígios na forma de papel
que marcavam com letras sangrentas todo o seu passado. Queria agora modificar
sua face, para poder aproveitar incólume, alguns momentos que lhe restava de vida.
LOBO NA PELE DE CORDEIRO
Subiu ao poder e se mostrou como um caudilho, mascarando sua permanência
como um ditador, dizendo-se um salvador da pátria, apregoando que sua missão
era salvar o povo da miséria que ele mesmo proporcionou, durante a luta pelo
poder.
Assim sendo, tornou-se um soberano, mas com um governo fraco e sem
planejamento, permanecendo no poder à custa do extermínio das pessoas que se
opunham ao seu governo.
O POEMA DO SOFRIMENTO DE UM POVO
Ostentação
do poder e continuidade
Manipulação nos meios de comunicação
Propaganda enganosa pela saturação
Mentiras ao povo oprimido
Migalhas enganando a fome
Gente sofrida
Vozes do silêncio
Caminhos indefinidos
Passos e descompassos
A LIBERTAÇÃO
Nasceu um novo dia, um canto de esperança ecoou nas montanhas embaladas
pelo vento. Os caminhos se abriram para as forças amigas da paz a que vieram
libertar o povo e as matas, que ficaram com as folhas murchas, agora orvalhadas
e revigoradas com o verde.
A MORTE NO EXÍLIO
Chamou o seu único ordenança que o acompanhou na fuga e mandou que
apanhasse aquele pedaço de papel que não foi queimado totalmente na lareira.
Com as mãos tremulas, assoprou as cinzas e leu as últimas linhas com sua
assinatura. Amassou o papel, colocou na boca e engoliu, provocando um soluço
mortal. Acabava naquele momento, o último resquício de um poder que ficou
manchado na historia daquele povo.
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