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sábado, 26 de dezembro de 2015

O ÚLTIMO MALANDRO




Durante as primeiras décadas do Século passado, a especulação imobiliária se espalhava pela cidade do Rio de Janeiro. Com isso, formaram-se diversos morros e favelas no cenário urbano carioca.

O samba que havia nascido no centro da cidade galgaria as encostas dos morros e se alastraria pelos subúrbios.

Estes locais formaram o celeiro de novos talentos musicais e da consolidação do samba urbano.

Foram inovações tão importantes que perduram até os dias atuais dentro do samba, mais tarde, alçados à condição de "nacional".


O grande propulsor dessas mudanças foi o bairro de Estácio de Sá, de origem popular e com grande aglomeração de pretos e mulatos; onde nasceu o reduto dos “antigos malandros” considerados naquela época pelas classes dominantes, como "perigosos"; muito diferente dos atuais, não cabendo mais uma rotulação, tamanha foi à modificação acontecida.

Naqueles tempos a figura do “malandro” era entendida apenas como uma pessoa esperta e, muitos deles, com um extremo e refinado gosto musical, compondo um samba no simples olhar para uma mulata descendo ladeira abaixo.

Naquele local, ainda vivia o último remanescente de uma época.


O ÚLTIMO MALANDRO

É de manhã no último reduto
Sol a pino como manda o figurino

O botequim abriu suas portas
Para receber o famoso malandro!

 Chegou cheio de pose e prosa...
Terno de linho branco... Rosa na lapela...
Chapéu panamá com moldura preta
Sapato bicolor com salto carrapeta

 Passos de forma cadenciada na chegada...
Saudou o velho garçom no balcão
Naquelas gírias. Com aquela fala macia...

 Sentou-se naquela mesa...
Pediu uma cerveja
Jogou um pouco para as almas

Epaminondas... Cadê o repórter?
Aí do seu lado mestre
Trouxe à grana? Que bom...
Agora vou falar...

 Fui boêmio cheio de bravata
Do tempo da gravata
Também bacana, lá de Copacabana.

 Amigo da noite e de Noel
Com jeito moleque
Do samba de breque...

Do tempo que escrevia musica no papel...
De embrulho ou de pão e com a mão...

 Recinto ritmado e perfumado
Morena carioca rebolando
Tudo preparado...
Para despertar o velho malandro

 Ficou em polvorosa
Vendo aquela diva gostosa.
Velhos tempos... Água na boca...

 Inspiração divina...
Rabiscos no guardanapo
Versos benditos... De samba enredo
Escolas na avenida
Nos dias de glória.


sábado, 5 de dezembro de 2015

FALA-MOÇO

FALA-MOÇO

Amanheceu um banco vazio naquela praça de muito movimento defronte à Catedral da cidade, mostrando aos personagens daquela época, uma ausência de uma figura floclórica que fazia do trabalho de engraxate o seu meio de vida. Destacava-se dos demais por ser o mais velho e da raça negra. Tinha um “bordão” que os outros não ousavam imitar. Era sua característica; sentado no banco tendo à frente a caixa de ferramentas de trabalho, jogava no ar sua frase famosa quando passava alguém trajado de terno e com bonitos sapatos de couro. Apontava com o dedo indicador da mão direita para os sapatos e dizia: FALA MOÇO! Era o seu modo de oferecer os seus serviços aos que topavam perder alguns minutos para lustrar os sapatos, sim, porque naquela época ainda se usavam, hoje caiu de moda, na praça só passam pessoas que ostentam belos tênis e para eles não existem graxa.

Foi com essa modificação dos novos tempos, que os engraxates sumiram da praça e perderam lugar para os “marreteiros” que vendem suas bugigangas sem nenhum alarde, ficam silenciosos esperando o freguês parar e começar a bisbilhotar suas mercadorias de segunda, terceira e até de quinta categoria.

O FALA MOÇO não existe mais, ficou um banco vazio na praça, não ouviremos mais suas gargalhadas e os sambas-de-breque do Germano Matias (antigo cantor) que imitava enquanto engraxava, fazendo um “batuque” com o pano no calçado do freguês. Quando terminava o serviço, levantava e fazia um rodopio agradecendo uma gorjeta que era oferecida pela sua simpatia e o belo “lustro”

Testemunha dos anos, de lá do banco quando não tinha “serviço” ficava com o olhar disperso parecendo atravessar as paredes da memória e do tempo, buscava coisas que não podia enxergar. Ia além delas. Atravessava ruas, cidades e oceanos, até tornar-se um menino de alguma cidade, pois sempre agradecia ao Prefeito, por permitir que trabalhasse vindo de outro lugar.

Com a passar do tempo, veio a bebida em sua vida e tudo se transformou, tornou-se um velho ranzinza e começou a mexer com as mocinhas que passavam em frente a sua caixa de panos e graxas. Assobiava fazendo gracejos, pois estava com umas pingas na cabeça, falava alguns palavrões, ferindo a suscetibilidade das meninas, o que causou sua retirada do local, através de um movimento dos motoristas de carros-de-praça (assim se chamava os taxistas de outrora).

Enveredou-se para as ruas adjacentes trafegando pelos bares pedindo bebida e dizia que não tinha dinheiro para pagar. O dono para se ver livre do incomodo, dava uma dose e pedia para sumir do local.

Soube depois de algum tempo que morreu em uma noite de muito frio, na porta de um bar. Não deixou parentes, ou filhos; somente um banco vazio no canto da praça.

Hoje, no final da tarde, por ali transitarão apressados pedestres, caminhando pela praça com uma sinfonia de pardais alegrando o entardecer. Lá do alto os sinos da catedral badalarão solenemente, convocando os fiéis para o culto religioso. Quem sabe alguma alma generosa solicitará uma prece para o infeliz engraxate. 

Foi-se o tempo, passou pela cidade um personagem daqueles tempos, o FALA-MOÇO, engraxate da praça da matriz. Equilibrou-se no fio do tempo, nos lembrando que a vida é feita de encontros e instantes...

OS MESTRES DA SABEDORIA E COMPAIXÃO

Mahatma Gandhi foi um reconhecido ativista indiano que lutou durante as décadas de 1920 a 1940 pelo fim do regime colonial inglês e pela ind...