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sábado, 5 de abril de 2025

UM BANCO VAZIO NA PRAÇA "FALA-MOÇO"



“FALA-MOÇO”

 

Amanheceu um banco vazio naquela praça de muito movimento, defronte à Catedral da cidade. A ausência era sentida por muitos, pois ali não estava mais um personagem marcante: o engraxate conhecido como “FALA-MOÇO”.

Esse apelido vinha de sua característica única. Sentado no banco, com sua caixa de ferramentas de trabalho, ele chamava os passantes de terno e sapatos elegantes, apontando para o calçado e, com entusiasmo, lançava seu famoso bordão:

— FALA MOÇO!

Era sua marca registrada, algo que ninguém mais ousava imitar. Seu jeito único de abordar os clientes, aliado ao talento em deixar qualquer sapato brilhando, fazia dele uma figura querida entre os fregueses. Enquanto engraxa, ele não apenas trabalhava, mas também entretinha: imitava sambas-de-breque do cantor Germano Matias, batucando com o pano na sola do sapato. Quando concluía o serviço, fazia um rodopio e, com um sorriso, agradecia uma gorjeta que muitas vezes era dada não apenas pelo brilho do calçado, mas pela simpatia contagiante.

Mudança dos tempos

Com o passar dos anos, os tempos mudaram. Sapatos de couro perderam espaço para tênis esportivos, e os engraxates começaram a desaparecer das praças. No lugar deles, apareceram vendedores ambulantes silenciosos, que expunham suas mercadorias sem o mesmo charme ou conexão com os passantes.

O FALA-MOÇO, que antes era símbolo de alegria e dedicação, começou a sentir o peso da solidão e da mudança. Nos momentos de calmaria, sentado no banco, seu olhar parecia atravessar paredes invisíveis, revisitando memórias de sua infância em uma cidade distante. "Graças ao Prefeito, posso trabalhar aqui", dizia ele com gratidão, lembrando que havia sido acolhido naquela cidade.

Mas a vida, às vezes, toma rumos difíceis. Com a chegada da bebida, o FALA-MOÇO tornou-se outra pessoa: um homem ranzinza, que assobiava para as moças e soltava gracejos inconvenientes. Foi uma transformação triste para quem, um dia, fora a alma daquela praça. A pressão dos motoristas de carros-de-praça, incomodados com seu comportamento, resultou em sua retirada dali.

O vazio na praça

Sem o banco da praça, ele vagava pelas ruas adjacentes, pedindo doses nos bares. Sua vida terminou em uma noite de frio intenso, na porta de um desses estabelecimentos. Não deixou família, filhos, ou herdeiros. Só restou o banco vazio na praça, um testemunho silencioso de sua história.

Hoje, quando o entardecer se instala, a praça se enche do canto alegre dos pardais. Pedestres passam apressados, talvez sem perceber a melancolia daquele banco. Lá do alto, os sinos da catedral badalam solenemente, convocando os fiéis para o culto. Quem sabe, entre eles, alguém se lembre do FALA-MOÇO e ofereça uma prece por sua alma.

O banco vazio ainda está lá, mas guarda ecos de um passado que parece distante. Alguns juram que, ao cair da noite, podem ouvir uma voz familiar ecoando na memória:

— FALA MOÇO!


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sábado, 26 de dezembro de 2015

O ÚLTIMO MALANDRO




Durante as primeiras décadas do Século passado, a especulação imobiliária se espalhava pela cidade do Rio de Janeiro. Com isso, formaram-se diversos morros e favelas no cenário urbano carioca.

O samba que havia nascido no centro da cidade galgaria as encostas dos morros e se alastraria pelos subúrbios.

Estes locais formaram o celeiro de novos talentos musicais e da consolidação do samba urbano.

Foram inovações tão importantes que perduram até os dias atuais dentro do samba, mais tarde, alçados à condição de "nacional".


O grande propulsor dessas mudanças foi o bairro de Estácio de Sá, de origem popular e com grande aglomeração de pretos e mulatos; onde nasceu o reduto dos “antigos malandros” considerados naquela época pelas classes dominantes, como "perigosos"; muito diferente dos atuais, não cabendo mais uma rotulação, tamanha foi à modificação acontecida.

Naqueles tempos a figura do “malandro” era entendida apenas como uma pessoa esperta e, muitos deles, com um extremo e refinado gosto musical, compondo um samba no simples olhar para uma mulata descendo ladeira abaixo.

Naquele local, ainda vivia o último remanescente de uma época.


O ÚLTIMO MALANDRO

É de manhã no último reduto
Sol a pino como manda o figurino

O botequim abriu suas portas
Para receber o famoso malandro!

 Chegou cheio de pose e prosa...
Terno de linho branco... Rosa na lapela...
Chapéu panamá com moldura preta
Sapato bicolor com salto carrapeta

 Passos de forma cadenciada na chegada...
Saudou o velho garçom no balcão
Naquelas gírias. Com aquela fala macia...

 Sentou-se naquela mesa...
Pediu uma cerveja
Jogou um pouco para as almas

Epaminondas... Cadê o repórter?
Aí do seu lado mestre
Trouxe à grana? Que bom...
Agora vou falar...

 Fui boêmio cheio de bravata
Do tempo da gravata
Também bacana, lá de Copacabana.

 Amigo da noite e de Noel
Com jeito moleque
Do samba de breque...

Do tempo que escrevia musica no papel...
De embrulho ou de pão e com a mão...

 Recinto ritmado e perfumado
Morena carioca rebolando
Tudo preparado...
Para despertar o velho malandro

 Ficou em polvorosa
Vendo aquela diva gostosa.
Velhos tempos... Água na boca...

 Inspiração divina...
Rabiscos no guardanapo
Versos benditos... De samba enredo
Escolas na avenida
Nos dias de glória.


A INSENSATA MORDAÇA

  O SUPLÍCIO DE UM EXÍLIO Uma crise se instalou. Povo assustado! Revolta estudantil. Para mudar o país. A força da caserna se apresentou. Av...