Entretanto, essa ideia tão enraizada na memória coletiva carrega seus
mistérios. Mesmo no inverno, estação tradicional do frio, muitas flores seguem
em plena exuberância. Basta observar a chácara onde moro, onde diversas
espécies desabrocham, desafiando a lógica das estações.
A presença constante das flores transforma qualquer ambiente, criando um
magnetismo no ar. Elas despertam sorrisos, inspiram gentileza e perpetuam uma
beleza poética que toca os sentimentos mais profundos. A simbologia das flores
exerce grande influência sobre nós, e por isso devemos cultivá-las com carinho,
oferecendo-lhes cuidado e até palavras de afeto, como se fossem amigas que
compartilham nossas emoções.
Entre todas, há uma flor que nunca deixo de admirar: a cerejeira. Lembro-me
de uma viagem pela rodovia Rio-Santos, onde me deparei com uma imensa florada
na serra, um espetáculo raro e inesquecível. Sensível por natureza, suas
pétalas caem ao menor toque, e sua floração ocorre apenas uma vez por ano. No
Brasil, encontramos cerejeiras em Campos do Jordão e até nas calçadas de
Bariloche, na Argentina, onde suas delicadas flores caem suavemente sobre a
neve.
Originária do Japão, a cerejeira se adaptou ao clima frio da Serra da
Mantiqueira, tornando-se um símbolo de resistência e beleza. Mas ela não está
sozinha. Outras árvores também proporcionam um espetáculo visual durante o
inverno, como o ipê, que colore ruas e avenidas com suas vibrantes flores
amarelas, roxas e rosas. Seu nome, na língua indígena, significa “casca
grossa”, uma referência à sua robustez.
Na entrada de nossa casa, no Villagio Di Treviso, temos dois ipês que, ao
florescerem, transformam a paisagem em um cenário digno de álbuns fotográficos.
Os vizinhos e visitantes não resistem a registrar sua beleza, que transmite
espiritualidade, leveza e encanto.
O inverno pode ser visto como uma estação de recolhimento, mas para muitas
árvores, ele é um momento de esplendor. Do Norte ao Sul do Brasil, milhares de
espécies desafiam o frio e enfeitam a paisagem, contribuindo para o equilíbrio
do nosso ecossistema e para a poesia da vida.
Compartilhe nos comentários — Às vezes, basta abrir a janela para
viver uma história. E é essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento que
desejo compartilhar com vocês.