Quem sou eu

Mostrando postagens com marcador Jaú. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jaú. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O ÚLTIMO TREM DO SANTO

HOJE É DIA 

SANTO

"Palavras no texto em negrito são portais — clique e explore."



O dia 29 de junho amanheceu meio nublado, “ruspioso”, como diria Santo Sebastião Gasparotto. A notícia de seu falecimento chegou como um silêncio pesado, daqueles que fazem a gente parar e lembrar. Para mim, para nossa família, e para tantos outros, sua vida foi sinônimo de alegria. 
Nunca o vi bravo, nunca o vi aborrecido.
 
Educou seus filhos com firmeza e ternura, sem nunca recorrer à palmada. Ao lado de Hionícia, companheira incansável, construiu um lar onde o amor e a educação eram pilares.

Vieram à memória tantas passagens do “Tio Santo”.
Nas festas de fim de ano, vestido de mulher com meu pai Vico, arrancava gargalhadas da criançada no salão do Tio Nicola.
Nos jogos de bocha, naquele campo feito em mutirão pela turma que meu avô liderava.
Nas jogatinas de truco, com gritarias e impropérios em italiano que mais divertiam do que ofendiam.

Nas pescarias com o Tio Nivaldo, Vico, Gueta e a turma de Banharão, às margens do rio Jaú.

E em tantas outras histórias que ainda vivem em nossas conversas.
Santo viveu com simplicidade e dignidade. Foi um trabalhador exemplar, marceneiro de mão cheia. Suas mãos moldaram peças que ainda hoje habitam os lares de parentes, amigos e desconhecidos — testemunhos silenciosos de seu talento e dedicação.
Guardaremos essas lembranças em nossas gavetas mais íntimas. E, em algum lugar especial, estará a fotografia do Santo sorrindo, como quem diz: “Estou bem, não se preocupem.”

Salve Santo. Teremos muitas histórias para contar.
Hoje deixo aqui meu registro em forma de poema — uma procissão de versos para quem soube viver com leveza e partir com honra.

 
A Procissão do Santo

Vestiu o terninho azul e arrancou aplausos da família
Uma foto da comunhão marcou o acontecimento
Cresceu para a vida e aquele mundo tornou-se pequeno
Olhou para trás e acenou para Giuseppe e Domenica
Amassou com os pés aquele barro vermelho
Deixou na ponte de madeira as marcas de um tempo vivido
O rio foi um divisor de águas e levou embora suas fantasias
Carregou poucos pertences
Embarcou no trem azul
Ouviu os sons de ferro e aço
O ranger de madeira dos velhos vagões
Acalentou seus sonhos de carpinteiro
O apito disparado pelo maquinista e o anúncio do fiscal
Informaram a estação de Jundiaí em sua vida
Início de outra era — a de marceneiro
Construiu peças com gavetas que guardaram suas roupas e fotografias
Que foram mudando com o tempo e a moda
Dos vinte, trinta, quarenta, sessenta, e noventa e um
Não há mais estações em sua vida
A última foi a do inverno
Não há mais Santo aqui na terra
Agora é o Santo lá do céu
Vinte e nove de junho permanece em nossa memória
E São Pedro guiará seus passos.

💥

 Escrevo cartas que nunca foram enviadas

Palavras escritas para quem partiu, para quem ficou, para quem nunca soube.

Cartas que não pedem resposta — apenas repousam no papel.

✍️ 

Se este caderno tocar alguém, mesmo que por um instante,

então ele cumpriu seu destino:

ser ponte entre o que fui e o que ainda sou.

 Toninho Vendramini

Se quiser apoiar, clique em postar um comentário no final (após minha caricatura de criador de conteúdo digital) e nos anúncios. (se desejar).

É simples, mas ajuda muito.

Às vezes, basta um clique para abrir novas histórias, que ajudam a manter este espaço vivo.

📌 Acesse meus espaços de cultura e amizade:

 🔗 YouTube 🔗 Slides e conteúdos 🔗 Blog Vendramini Letras

domingo, 20 de julho de 2025

O TREM QUE FICOU NA SAUDADE, EM: BANHARÃO E JAÚ-SP.


Hoje, os trilhos estão cobertos de mato

Às vezes, o tempo não nos permite reviver os lugares que amamos, mas nos concede o privilégio de guardar memórias como relíquias. Escrevo para preservar uma delas — a de um primo que, mesmo tendo partido, permanece presente nos gestos, nas histórias e nas lembranças de uma geração que viu o trem passar... e parar por amor.

Este texto é uma homenagem àquele que viveu intensamente cada chegada e partida. Um retrato vivo do Banharão — um bairro que hoje é apenas topografia, mas outrora pulsava como estação de encontro, sonhos e pandeiro. Que essa história sirva de afago à sua família, e ao Brasil que silenciou suas ferrovias, mas não suas lembranças.

A História

Era fim de tarde, céu tingido em tons laranja queimado. O trem da cidade onde residia e que levaria o jovem ao Banharão estava quebrado. O compromisso, no entanto, não era negociável: a amada o aguardava na estação de tijolos e madeira, de olhar ansioso e coração acelerado lá no Banharão.

Perguntou ao chefe da estação se havia outro trem. O homem, de boné gasto e olhos de quem já vira muitos amores passarem por ali, respondeu:

— Há, sim. Mas ele não para no Banharão. Vai direto pra Jaú.

O jovem olhou para os trilhos como quem procura resposta em linhas paralelas.

— Então vou. Depois me viro.

O chefe hesitou, depois soltou um suspiro longo:

— Boa sorte, rapaz. Que São Bento guie seus passos.

Durante a viagem, cada rangido dos trilhos soava como um lembrete da distância. Ao se aproximar do vilarejo do Banharão, correu pelos vagões como quem carrega pressa e esperança. Encontrou o maquinista na cabine dos controles.

— Senhor! Preciso que pare na estação do Banharão. Minha noiva está lá, esperando. Não há outro meio de chegar. É só por hoje.

O maquinista olhou o rapaz com olhos de compaixão.  Um aceno breve. O trem, então, freou diante da estação. Só ele desceu.

— Ei! — gritou o guarda da estação, espantado — Como conseguiu descer aqui? Não é parada programada.

O jovem ergueu a cabeça, sorriu com ironia e respondeu:

— Sou o presidente.

O guarda soltou uma risada cansada e acolhedora.

— Vá com paz, meu irmão.

 Agora, em silêncio, presto minha homenagem: 

Banharão é mais do que um ponto no mapa — é o lugar onde nasci. E toda vez que falo sobre ele, é como se voltasse aos trilhos da minha própria origem. Talvez por isso essa história mexa tanto comigo: ela não é só do Nego, é também um pouco minha.

Hoje, os trilhos estão cobertos de mato, a estação virou memória... mas quem teve o privilégio de viver aquele tempo sabe: algumas histórias não precisam de cimento para permanecerem erguidas. Meu primo — o Nego — não era apenas alguém que pegava o trem. Ele era o próprio apito da locomotiva, o som do pandeiro nas festas, a gargalhada que ecoava nos corredores da vida.

Ele se foi, sim. Mas segue entre nós, sempre que alguém se apaixona com coragem, enfrenta obstáculos por amor, ou faz do impossível um motivo pra sorrir.

Eu desejo a ele — como o guarda lhe disse naquela noite — que vá com paz, meu irmão. E que o Banharão o receba lá em cima, como estação que acolhe quem chega depois de longa viagem.

🚧

Quer me apoiar de verdade? 

Inscreva-se no blog e clique nos anúncios — dois gestos simples que impulsionam essa jornada rumo aos 100 MIL! 

 Falta pouco! Já ultrapassamos as 93 mil visualizações — veja o número total à direita, ao lado das fotos dos meus seguidores, vocês são incríveis! 

Às vezes, basta um clique para abrir novas histórias, que ajudam a manter este espaço vivo.
Explore mais nos links abaixo e contribua com cultura e amizade:

🎥 Canal no YouTube
📷 Slides e imagens no blog 

ILHÉUS: ENTRE CACAU E MISTÉRIOS

VOCÊ VAI VER DETALHES DOS BORDEIS DOS CORONÉIS. ´   estátua de Jorge Amado Nossa jornada nos levou a Ilhéus , a cidade que respira caca...

POSTAGENS MAIS VISITADAS