O FENÔMENO MAIOR
O Sol, inclemente, abraçara a terra em seu calor abrasador, como se as
garras de uma atmosfera intransigente apertassem este mundo em transe. Nós?
Ah, meros viajantes limitados em um microcosmo ínfimo, hesitávamos até em contemplar
as engrenagens desse fenômeno maior.
Ao cair da noite, no grande teatro da natureza, as cortinas do firmamento se
fechavam. Bordadas pelos cúmulos que se retorciam em formas inquietas,
desenhavam a promessa de um espetáculo sem igual.
Eu, expectador inerte, via toda essa orquestra celestial sem ainda compreender
a grandiosidade do que estava por vir. E então, como em um devaneio, já não
havia eu, não havia céu ou terra—tudo era Unidade! O Absoluto! O indivisível!
Para os que conseguiam se perder na vastidão daquela majestade, ali estava
Deus, assinando com relâmpagos sua caligrafia divina no pergaminho do céu. Cada
trovão, um eco mal traduzidos de fé, força e coragem. Entre as densas muralhas
de nuvens, os clarões pareciam um farol divino, tremulando sua lanterna em um
balé de luz róseo-alaranjada, como se indicasse o caminho para a Verdade.
A chuva, como dedos de uma mão gentil, apagava as marcas de medo e desespero
que o homem deixara gravadas. Enquanto isso, o vento, severo, acariciava as
folhas das árvores, limpando-as da poeira de blasfêmias e pensamentos
corrosivos.
O corpo, ah, esse ainda tremia. Mas o espírito? Sereno e altivo, sentia-se
invencível, admirando sua própria grandiosidade diante da transitoriedade de
tudo.
E, de repente, o silêncio. A calma. A sensação de alegria inesperada em
nossos corações. A tempestade se dissipara. À noite, já avançada, parecia
cúmplice de minha percepção tardia: tudo passara.
Onde estive durante todo esse tempo?
Seria mesmo realidade?