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quarta-feira, 21 de maio de 2025

A LEMBRANÇA DE UM AMIGO

A  LEMBRANÇA  DE  UM AMIGO

Páginas Amareladas

Remexendo os guardados do tempo,
encontrei um livro que dormia em silêncio,
seus versos respirando na poeira dos anos.

Na contracapa, uma caligrafia antiga,
uma dedicatória como um sussurro preso ao papel:

"À Dijanira, para que, junto com a sensibilidade do meu amigo Vendramini, possa caminhar pela estrada da minha poesia."

Afonso Celso Calicchio, outubro de 1982.

Ele, poeta e crítico, navegava mares de letras,
trilhava caminhos na Rádio Bandeirantes,
falava de escritores como quem desenha constelações.

E na política, um estrategista de sonhos,
tecendo destinos no Palácio dos Bandeirantes,
até que nossas vidas se cruzaram.

Eu trabalhava na área de Recursos Humanos
de uma grande empresa do setor alimentício,
quando um dos donos decidiu lançar sua candidatura, na área política.

Fui convocado para ajudá-lo,
mergulhando, sem perceber, em um novo universo,
o intricado jogo das alianças e dos interesses políticos.

Onze meses de estrada,

onde fiz de tudo um pouco:
santinhos impressos, camisas distribuídas,
discursos ensaiados e promessas guardadas no vento.
Ao final, o Empresário, ficou à margem—um suplente,
um nome na sombra do poder.

E eu voltei ao meu posto,
mais experiente, mais calejado,
com lições que só o tempo ensina.

Mas hoje, ao tocar estas páginas amareladas,
não é a política que me emociona,
não são as estratégias, os encontros, as campanhas.

É a poesia.

Pois foi por ela que encontrei minha esposa,
por versos perdidos que nos enamoramos,
pelas palavras que seguimos lado a lado,
criando filhos, saudando netos,
escrevendo nossa própria história.

Hoje espalho minhas crônicas pelo mundo,
na esperança de que alguém, em algum lugar,
remexa seus guardados e encontre nelas
um pedaço da sua própria memória.

E ao querido Calicchio, onde quer que esteja,
envio este abraço feito de palavras,
de saudade, de gratidão, de poesia.

Antonio Vendramini Neto

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quarta-feira, 14 de maio de 2025

UMA VIAGEM PARA ATENAS NA GRÉCIA ANTIGA

 

A PROCURA POR DIONISIO, O TEATRO.

O teatro, na Grécia antiga, teve suas origens ligadas a Dionísio, divindade da vegetação, da fertilidade e da vinha. Durante as celebrações em honra ao ‘Deus’, em meio a procissões e com o auxílio de fantasias e máscaras, eram entoados cantos líricos, que, mais tarde, evoluíram para representações plenamente cênicas, como as que, hoje, conhecemos através de peças consagradas.

Seu florescimento ocorreu e foi cultivado em Atenas, que também conheceu o seu esplendor, e espalhou-se por todo o mundo de influência grega.
Sua tradição foi herdada pelos romanos, que a levaram até as suas mais distantes províncias, sendo uma referência fundamental na cultura do ocidente até os dias de hoje.

Essa introdução que fala do teatro grego é para relatar uma situação curiosa e engraçada acontecida nas ruínas desse local, em uma viagem que eu e minha esposa realizamos, quando visitamos a Grécia.

Iniciamos nossa viagem saindo do porto de Pireaus em Atenas, em um transatlântico com bandeira grega chamado de Royal Olimpic Cruises, navegando pelo mar Jônico, parando, inicialmente, na ilha grega de Corfu. Posteriormente, veio a romântica italiana Veneza e também a medieval Dubrovnik, na Croácia.

No mar Egeu, o transatlântico cruzou o pitoresco estreito de Dardanelos, navegando pelo mar de Mármara até o estreito de Bósforo, aportando na exótica Istambul, na Turquia. No retorno, rumamos até as famosas ilhas gregas Mykonos e Santorini e, depois, para Atenas.

Em terra firme, visitamos Atenas, capital da Grécia e berço da civilização. É uma cidade cheia de vida, onde o antigo e o moderno coexistem. Começamos o primeiro dia de passeios, partindo do centro da cidade em uma viagem de metrô, com destino à estação de Acrópolis. Ali fica todo o complexo das ruínas, destacando-se o majestoso Parthenon, erguido por cima da cidade cuja glória ainda é visível nas suas pedras gastas.

Antes de iniciarmos o passeio, realizado em dois longos dias, adquirimos uma cartela em forma de bilhete que é fracionado para cada templo ou ruína do complexo visitado.

O primeiro local foi o templo Erechtheion, de onde se podia desfrutar um visual magnífico; logo, em uma de suas extremidades, nos detemos no belo pórtico de Karyatids, em que as deusas em forma de estátuas “seguram” o que restou da cobertura; depois, veio o teatro de Odeon, no qual, até hoje, acontecem espetáculos noturnos de rara beleza, em um palco adaptado nas ruínas.

No local, notava-se, desde muito longe, os focos de luzes sobre as muralhas, com o som reverberando por todo o morro, dando a impressão de que os deuses todos se reuniram naquele momento para anunciar toda a magnitude de uma época que ficou distante do nosso atual calendário.

No segundo dia, começamos pelo templo Athena Nike e outros mais, até que encontramos o tão aguardado museu da Acrópolis. Foi tanta emoção que quase perdemos o fôlego ao ver os vestígios de extrema beleza! Entrava em nossas mentes uma mistura de emoção e culto à cultura que, armazenando imagens, ficarão para sempre gravadas em nossas lembranças. Foi tudo muito deslumbrante, a história desfilava ante nossos olhos.

Caminhando pelos corredores, vislumbramos um portal esplendoroso onde contemplamos as estátuas dos deuses que estavam no alto do Parthenon e que foram derrubadas por um forte terremoto; os fragmentos foram montados e expostos no museu, onde estavam sob uma robusta proteção eletrônica.

Nesse momento, o som estridente de uma sirene ecoou pelo local; alguém deve ter tocado em um dos artefatos e o alarme foi disparado. Olhando para frente, percebi que fora minha esposa quem havia tocado em um dos objetos, pois vi um dos seguranças do local advertindo-a, explicando que, em todo o recinto, havia alarmes extremamente sensíveis.

Depois do corre-corre, falamos em “enrolês” (mistura de inglês e português), que não sabíamos ler aqueles cartazes na língua grega alertando sobre o alarme. Foram muitas risadas, mas seguimos adiante para uma última parada que seria o teatro Dionísio.

Anda para lá, para cá, perguntávamos alguma coisa e só recebíamos informação na língua grega. Ali, naquele momento, percebemos que o ditado existente no Brasil “tá falando grego?” é a pura verdade, pois não entendíamos uma só palavra.

Descemos um morro e chegamos à entrada do complexo e perguntamos de novo para um transeunte - parecia uma figura de outros tempos, vestindo trajes da antiquíssima civilização.

Arrisquei um inglês meio maroto e ele respondia em grego; ou seja: não entendíamos nada! Depois de muitas tentativas, começamos só a falar: DIONÍSIO, DIONÍSIO, DIONÍSIO! Nesse momento, apontou com o dedo para o outro lado do complexo; era uma rua com muitos veículos e, para atravessar, foi um sufoco, pois o trânsito grego é de arrebentar qualquer pedestre e motoristas estrangeiros que se metem a dirigir por lá.

Fomos para lá ver o tão aguardado teatro, mas percebemos que saímos do complexo; estávamos em uma rua com aquele trânsito louco... Então, avistamos um letreiro bem grande “DIONISIO’S – TYPICAL RESTAURANT, GREEK FOOD” (Restaurante Dionísio, comida típica grega).

Demos belas gargalhadas e retornamos ao complexo, em busca do teatro, até que vimos umas estátuas simbolizando a época, emoldurando o palco que se parecia com uma arena; enxerguei até uma placa escrita em grego, (só entendi Dionísio), indicando o local. 

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domingo, 6 de abril de 2025

O ENCONTRO E AS MEMÓRIAS

 

O Encontro e as Memórias

A noitinha entrava pela janela como uma visitante discreta, anunciando o fim do dia. Os últimos raios de sol despediam-se lentamente, levando consigo um brilho suave que ainda percorria minha mente. Naquele instante, pensamentos inesperados começaram a surgir, trazendo consigo reflexões que há muito eu não fazia.

Foi então que um som repentino da campainha interrompeu minha divagação. Olhei pela janela e enxerguei uma figura encapotada, protegida contra o frio que já começava a tomar conta da noite. Havia algo familiar na postura daquela pessoa, e minha curiosidade cresceu. Decidi ir até o portão.

Ao encarar o visitante, demorei alguns segundos para reconhecer sua figura, agora marcada pelos anos. Mas, ao ouvir sua voz, as lembranças inundaram minha mente. Era o Chicão! Um misto de surpresa e nostalgia tomou conta de mim. Afinal, depois de tantos anos, ele havia reaparecido. O que o teria trazido até aqui? Não éramos mais os jovens de outrora, e o tempo havia feito seu trabalho, mas o brilho de nossas memórias ainda estava intacto.

Com poucas palavras, Chicão iniciou um mergulho no passado.

— Lembra dos tempos do ginásio? Formávamos o grupo "Os OITO". Ah, como éramos inseparáveis! Passávamos tardes na lanchonete do Seu DADA, dividindo um refrigerante e um misto-quente, porque nossas mesadas mal davam para mais que isso.

Suas palavras trouxeram à tona as noites que passávamos no centro da cidade, rindo, sonhando e planejando o futuro. A última vez que estivemos juntos naquele lugar foi para celebrar o fim dos estudos. Fizemos um pacto, recordou ele: nos reencontraríamos 50 anos depois, para abrir aquele envelope guardado dentro do lustre da lanchonete. Lá haviam registrado suas previsões para o futuro – expectativas que agora se tornaram um mistério esquecido pelo tempo.

— Investigando, descobri que apenas nós dois sobrevivemos — disse Chicão, sua voz carregada de melancolia. — Foi difícil localizar você, mas aqui estamos. E, agora, precisamos cumprir nosso pacto.

Concordei. No dia seguinte, partimos rumo à cidade que nos viu crescer. Ao chegarmos, porém, encontramos um cenário transformado. A lanchonete havia sido substituída por uma casa lotérica. O Seu DADA, segundo o novo proprietário, havia levado algumas relíquias consigo ao sair da cidade.

Não desanimamos. Depois de algum esforço, encontramos o idoso, que se lembrou vagamente do envelope.

— Está na minha gaveta — disse ele, com um olhar curioso. — Achei que alguém viria buscá-lo um dia.

Chicão, com mãos trêmulas, abriu o envelope. Mas o papel, amarelado e desgastado pelo tempo, não guardava mais as palavras que havíamos escrito. Não havia nada além de manchas e traços apagados.

Diante do papel vazio, o silêncio nos envolveu. As palavras se perderam, mas as memórias permaneceram. Chicão e eu começamos a refletir sobre o significado daquela busca.

O passado, por mais distante que esteja, não é apenas um arquivo de momentos vividos. É também um convite à introspecção. Revisitar memórias não é apenas reviver o que foi, mas entender o impacto que esses episódios tiveram em nós, moldando quem somos hoje.

E, ao mesmo tempo, fica a pergunta: vale a pena tentar capturar o passado, ou é mais sábio seguir em frente, deixando que ele viva no coração e nas lições que nos ensinou? Talvez, afinal, o real valor do pacto que fizemos não estivesse no conteúdo do envelope, mas no reencontro e na jornada que ele proporcionou.


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