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quinta-feira, 24 de abril de 2025

A "PRACA" do PREFEITO DA CIDADE.

lendas e mitos urbanos


Durante muitos anos, alimentava o desejo de viver uma pequena temporada em um hotel fazenda. Após muitas pesquisas em sites especializados, deparei-me com um local que atendia exatamente às nossas expectativas. Fizemos as malas e partimos rumo a uma cidadezinha remota, em busca de nosso destino.

À medida que o cenário se desenrolava diante de nossos olhos, acompanhávamos atentamente o GPS, garantindo que estávamos no caminho certo. Algumas horas depois, a voz do dispositivo nos orientou: "Siga pela estrada de terra". O aviso trouxe um curioso ar de antecipação, como se algo inesperado nos aguardasse.

Foi então que, ao lado da estrada, surgiu um menino trajando apenas um calção, segurando uma vara de pescar. Paramos e perguntamos:
– Onde fica o Hotel Fazenda chamado "O Último Berro"?
– Sei não, seu moço. Só vou pescar no rio ali adiante – respondeu com desinteresse.
– Não tem por aqui um hotel antigo que hospeda pessoas? – arrisquei novamente.
– Ospeida? O que é isso? Não sei não. Só vou pescar e levar os peixes lá pra dona do casarão. Vocês vão lá? Tudo lá é mal-assombrado. Meu pai trabalhou lá e ficou todo quebrado, diz que saiu correndo com medo do fantasma do antigo dono. Naquele tempo, o tal coronel Biguá Dente de Ouro mandava em tudo e possuía muitos escravos. Agora meu pai trabalha na oficina ali, lá perto de onde eu moro.

A conversa deixou uma sensação inquietante no ar, mas seguimos o trajeto. Encontrar o local revelou-se uma tarefa difícil; tudo parecia deserto e envolto em uma atmosfera de estranheza. Seria mesmo assombrado?

Antes de chegar, cruzamos uma pequena propriedade com uma porteira peculiar: apenas dois mourões sem a parte móvel que a sustentava. No topo de um dos mourões, uma placa desgastada indicava que ali funcionava uma oficina de conserto de carros – certamente do pai daquele menino. A cena era tão singular que decidi fotografá-la. Contudo, ao me aproximar, um cão enorme correu em minha direção, feroz. Não tive alternativa senão retornar ao carro apressado, deixando a foto para trás. Mesmo assim, as palavras da placa ficaram gravadas em minha memória.

Mais adiante, passamos por uma pracinha minúscula, quase esquecida pelo tempo. Ali, uma outra placa destoava completamente de qualquer padrão:

"Proibido jogá lixo nesce local. Multa di R$ 500,00. Por ordem do sinhor prefeito."

A escrita grotescamente errada era intrigante e despertava um misto de curiosidade e desconforto. Alguém teria deixado aquela placa propositalmente, como um aviso ou brincadeira macabra? O mistério apenas crescia, fazendo aquele lugar parecer ainda mais inusitado.

Ao finalmente chegarmos ao casarão/hotel, a inquietação continuava. Conversando com uma funcionária, perguntei sobre a propriedade e as curiosas placas que havíamos encontrado pelo caminho. Ela me respondeu:
– Ah, aquele era o lugar onde o Coronel Dente de Ouro maltratava os escravizados. Vocês viram o Dente? Dizem que é ele quem vem assustar os clientes à noite. O Coronel morreu há anos, mas as histórias dizem que ele e o neto aparecem em noites de lua cheia, com aquele sorriso sinistro e o brilho do dente refletindo. Foi assim que o carro do neto caiu na ribanceira, e ele também morreu... Lá não resta mais ninguém.

Nota do Autor
Lendas e mitos urbanos são pequenas histórias de caráter fabuloso ou sensacionalista muitas vezes com elementos de mistérios ou também com temas horripilantes, amplamente divulgadas pelos personagens da velha guarda, de forma oral, que constituem um tipo de folclore moderno. 

                  

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Toninho Vendramini Slides - Sergrasan



terça-feira, 22 de abril de 2025

AS FAÇANHAS DO - "CORONé" - GALO PRETO

O Coroné Safado 


Em uma importante cidade do interior de São Paulo, região de extensas plantações de café reconhecidas por sua qualidade excepcional, os grãos eram disputados por compradores do ramo, transformando-se na famosa bebida conhecida no Brasil e mundo afora. Negociantes internacionais frequentemente visitavam o local para adquirir as safras, enquanto os fazendeiros da região se reuniam em uma espécie de bolsa cafeeira, onde os preços eram estabelecidos e cotados em dólar. Grande parte da produção era exportada, deixando pouco para consumo interno.

À frente dessas reuniões, estava o temido Coronel Tertuliano Telles Noronha Mangabeira, conhecido como Coronel Galo Preto. Nascido em Pernambuco, o apelido veio de sua reputação de bravura e liderança entre seus jagunços. Ele resolvia problemas de forma imediata, não hesitando em delegar punições ou eliminar adversários.

Essas reuniões, que contavam com a presença dos cafeicultores da região, eram lideradas pelo coronel, então presidente da bolsa cafeeira estadual. Dotado de um corpanzil imponente, o coronel tinha hábitos bastante peculiares. Sentava-se na cabeceira da mesa com os bolsos recheados de pedaços de frango e bolinhos de bacalhau, que devorava enquanto limpava a gordura na gravata. Depois, acendia seu charuto e soltava baforadas que impregnavam o ambiente com uma fedentina insuportável. Apesar do desconforto, os produtores suportavam tudo em busca da aprovação dos preços.

Sua postura grosseira não parava por aí. Ao fumar, pedaços de fumo ficavam em sua boca e, para aliviar, ele pigarreava e cuspia no chão até que o zelador providenciou uma escarradeira para conter os estragos. As cadeiras pesadas de madeira maciça arrastavam-se pelo assoalho sempre que alguém se levantava, causando barulho ensurdecedor. E o coronel, frequentemente com a barriga cheia, tinha o hábito de soltar discretos, porém malcheirosos, peidos durante as reuniões. Para disfarçar, ele alegava que os sons vinham do arrasto de sua cadeira.

Nas reuniões com estrangeiros, o zelador advertiu o coronel sobre seus hábitos desagradáveis. Porém, em um momento inesperado, o coronel soltou um peido ensurdecedor e sem cheiro, causando escândalo. Ele insistiu que o barulho era causado pela cadeira, mas os participantes já desconfiavam de sua estratégia. O zelador, então, pregou sua cadeira no assoalho, deixando o coronel sem alternativas para disfarçar.

Quando chegou o dia da reunião final, o coronel, ao comer seu habitual frango, foi acometido por um novo episódio. Tentou disfarçar, mas sem sucesso: o peido soou alto e todos perceberam. Furioso, ele descobriu que o zelador havia pregado a cadeira. Pouco depois, o coronel ordenou que seu jagunço punisse o zelador, que nunca mais foi visto.

O Coronel Galo Preto faleceu dias depois, e no sepultamento, o zelador “apareceu” para revelar a verdade aos presentes. Após sua morte, as reuniões nunca mais foram as mesmas. A sede foi transferida para a capital, e as histórias sobre os peidos e peculiaridades do coronel tornaram-se lendárias, arrancando gargalhadas daqueles que as relembravam.


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A INSENSATA MORDAÇA

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