AS FAÇANHAS
DO CORONEL GALO PRETO
Em uma importante cidade do interior do Estado de São Paulo,
em uma região com muitas plantações de café, conhecidas por possuírem um DNA de
muita qualidade, razão pela qual seus produtos eram disputados por muita gente
do ramo, os famosos compradores dos grãos, que se transformariam na bebida
nacionalmente conhecida no Brasil e mundo afora.
Muitos negociantes do ramo vinham do exterior fazer as compras,
onde estavam os senhores do café, em sua sede de construção de alto padrão, uma
espécie de bolsa cafeeira, onde os preços tinham o seu valor e eram cotados em
dólar para os estrangeiros, que em sua maioria, levavam toda a safra, não
sobrando quase nada para os do Brasil.
Quem liderava as reuniões para o estabelecimento dos
preços, era o Coronel Tertuliano Telles Noronha Mangabeira, nativo do Estado de
Pernambuco, e conhecido pela alcunha de Coronel Galo Preto. Alcançou esse
apelido por sua braveza e liderança entre seus jagunços, assim o tratavam,
porque com ele, não havia o depois, era tudo na hora, se tinha que surrar ou eliminar
alguém, chamava um de seus e mandava fazer o serviço.
Havia então, as reuniões com os fazendeiros do café de toda
a região, onde o coronel se destacava pois era o Presidente da Bolsa cafeeira
que alcançava todo o Estado. Tinha um corpanzil que carregava com muita
dificuldade, e quando se sentava na cabeceira da mesa para falar dos assuntos
relacionados, trazia nos bolsos, pedaços de frango, bolinhos de bacalhau que ia
comendo e limpava tudo com a gravata, depois já apanhava um dos charutos e
ficava soltando aquelas baforadas e ninguém mais aguentava aquela fedentina,
mas como havia o interesse dos demais produtores para venderem seus produtos,
aguentavam o rojão. Como o charuto deixava em sua boca pedaços do fumo,
pigarreava e soltava algumas cusparadas do chão. Então, o zelador do prédio,
logo providenciou uma escarradeira para que ele cuspisse ali, e não mais no
assolho do casarão sede.
As cadeiras ao redor da mesa, em madeira maciça, eram
pesadas, então se arrastavam pelo assoalho toda vez que alguém saia para fazer
uma necessidade, e quando voltava, acontecia com aquele arrasto, um enorme
barulho. La pelo meio da reunião, o coronel sentado a cabeceira da mesa, utilizava
uma cadeira maior, e se arrastava com dificuldade quanto tinha que sair por
alguns momentos, pois estava com a BARRIGA CHEIA e com vontade de soltar alguns
peidos, o que fazia com cuidado para que não acontecesse aqueles sons tipo
corneta, eram silenciosos e malcheirosos. Os cafeicultores aguentavam esses
desaforos pois dependiam da aprovação dos preços pelo coronel.
Na outra reunião para valer, onde estavam presentes os
estrangeiros, ele foi avisado pelo zelador para não soltar mais aqueles peidos fedidos.
Então de repente ele soltou um tipo corneta, daquele tipo de abertura de parada
militar, forte e sonoro e sem cheiro. Foi um escândalo, os demais participantes
repreenderam o coronel, que já chamou um de seus jagunços para apaziguar os reclamantes.
Mas o coronel achou um meio de despistar o som dos peidos, então ele arrastava aquela
pesada cadeira que fazia um barulho semelhante ao peido e dizia que não era ele
que peidava, era o arrasto da cadeira quando necessitava se ausentar para ir ao
banheiro, mas nesse momento, ele aproveitava e soltava aquele peido enrustido
achando que estava enganando os presentes.
No dia seguinte, para chegar ao preço final das sacas de
café, a sala foi preparada, não queriam mais passar vergonha, pediram então ao
zelador que pregasse a cadeira no assoalho, assim, o coronel não tinha mais
como disfarçar e o peido iria sonar e todos ficariam sabendo que aquela história
de arrastar a cadeira era falsa.
Chegou o dia da reunião final, todos acomodados, chegou o
momento em que o coronel começou a comer aqueles pedaços de frango que trazia
nos bolsos, logo sentiu uma fisgada predominando a vontade de peidar, veio o som
e não conseguiu arrastar a cadeira, pois estava pregada no assoalho, todos
olharam para o coronel que ficou com uma cara desgostosa porque alguém lhe havia
passado para trás
Terminou a reunião, todos foram embora, o coronel chamou o
jagunço líder que lhe informou que tudo foi obra do zelador, mandou de imediato
que dessem um corretivo no zelador. Que nunca mais foi visto nas reuniões, o
que teria acontecido? Ninguém ficou sabendo das artimanhas exceto o zelador e o
jagunço. O Coronel morreu alguns dias depois e no seu sepultamento “apareceu” o
zelador e contou toda aquela de falsidade para os presentes.
Nos anos seguintes as reuniões nunca mais foram as mesmas, não havia mais o coronel, os peidos, bolinhos de bacalhau e tudo mais. A sede foi transferida para a capital e os novos integrantes contavam com gargalhadas aquelas histórias dos peidos “presos “do coronel Galo Preto.
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Toninho Vendramini Slides - Sergrasan