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Na vastidão das noites brasileiras, onde o silêncio é quebrado pelo canto dos grilos e o estalo das fogueiras, vivem histórias que não cabem nos livros — mas que se perpetuam nas bocas dos antigos. Esta é uma delas. Uma lenda que mistura desejo, floresta e mistério. E no final, como manda a tradição da roça, uma receita que aquece o corpo e a alma.
Na pequena cabana do lenhador, a tarde se fez noite. Pela janela do casebre, via-se o clarão da vela sobre a mesa, iluminando o pedaço de pão endurecido que saciaria a fome daquele homem de músculos vigorosos. Seus golpes com o machado mantinham o fogo aceso para aquecer o ambiente nas noites frias e chuvosas de inverno. Morava sozinho. Como o sétimo filho de uma família que deixara o vilarejo, ficou para colher a última safra de milho a mando do pai, prometendo se reunir com os parentes ao término da colheita. Mas os meses se arrastavam, e sua solidão crescia.
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Era um homem de modos estranhos, arredio e inquieto nas noites de luar. Contemplava a escuridão com olhares soturnos voltados à montanha que dominava o vale cortado por um riacho. Em uma dessas noites, enquanto aguardava algo inexplicável, acendeu um cigarro de palha. O luar crescente despertou algo em seu interior. Arrepiado, com sangue fervendo, saiu de seu casebre como um foguete, rumo à montanha. No cume, contemplou o vale e o riacho caudaloso. Foi então que avistou o corpo de uma mulher com um canto hipnotizante às margens da água.
Era a Mãe D’Água — criatura de beleza arrebatadora, olhos verdes e cabelos longos — que se banhava nas águas. Ele já percebia os pelos que cresciam em seus braços. Uivou ao céu e desceu em um trote desenfreado até o riacho. A mãe sabia de seu segredo, mas não estava ali para acalmá-lo. Seus instintos tomaram o controle. Pulou na água sem tirar a roupa — afinal, já estava coberto de pelos — e uniu-se à Mãe D’Água, embalado por sua dança nas ondas e por um desejo monstruoso que saciou sua sede de volúpia.
Quando o sol nasceu, o homem correu para refugiar-se da luz em seu casebre. A Mãe D’Água desapareceu, escondendo-se em uma caverna onde, meses depois, deu à luz a uma criatura única: o Caipora. De pés virados para trás e olhos penetrantes, tornou-se o protetor das matas e da caça. Pequeno e ágil, montado em um porco-do-mato, usava seu riso estridente para aterrorizar os caçadores desrespeitosos. Aqueles que encontravam seus rastros eram enganados por sua habilidade de despistar seguidores, deixando-os perdidos.
Com o tempo, o Caipora tornou-se uma figura lendária. Nos vilarejos, histórias de suas aparições em noites de luar alimentavam o imaginário popular. Os viajantes diziam vê-lo fumando cachimbo e pedindo cachaça, sempre com o propósito de preservar o equilíbrio das matas. Embora temido, era também respeitado como guardião da vida selvagem.
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Inspirada na colheita do lenhador e nos sabores da roça, esta pamonha é perfeita para acompanhar histórias contadas à beira da fogueira.
Receita da roça:
“Pamonha de milho verde com queijo”
Ingredientes:
• 6 espigas de milho verde
• 1 xícara de açúcar
• 1 pitada de sal
• 1 colher de sopa de manteiga
• 150g de queijo minas cortado em cubos
• Palhas de milho para embrulhar
Modo de preparo:
1. Retire as palhas das espigas com cuidado e reserve.
2. Rale os grãos ou bata no liquidificador com um pouco de água.
3. Misture o milho com açúcar, sal e manteiga até formar uma massa homogênea.
4. Coloque uma porção da massa sobre a palha, adicione um cubo de queijo e feche como um envelope.
5. Cozinhe em água fervente por cerca de 40 minutos.
6. Sirva quente, com café coado ou cachaça artesanal — como faria o Caipora.
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Antonio Vendramini é um contador de histórias do cotidiano. Escreve
crônicas que brotam da terra, do fogo e da memória — entre receitas simples e
flores cultivadas com afeto. Em Vendramini Letras, compartilha palavras que
aquecem como pão no forno e perfumam como lavanda ao sol.
Antonio Toninho Vendramini Neto
Escritor | Pensador | Criador de conteúdos culturais
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