Após
uma saída tumultuada e desgastante da alfândega do aeroporto Ben-Gurion em
Tel-Aviv, a minha esposa comprou refrigerantes no local, com as cédulas que
restaram do “shequel”, palavra que denomina o dinheiro dos Israelenses. Em
seguida, embarcamos em um longo vôo noturno para Roma.
Levamos
do Brasil cédulas de Euros adquiridas na casa de câmbio, com o certificado de
garantia para não termos problemas na troca no aeroporto ou na cidade de Roma.
No
dia seguinte, logo pela manhã, já tínhamos adquirido antes mesmo da viagem, um
passeio pelos pontos principais que deveria sair de uma praça bem longe do
hotel em que nos encontrávamos.
Pedimos
ao recepcionista para providenciar um táxi com bastante urgência porque a nossa
saída da empresa de turismo estava marcada para as 09h00min e já eram 08h30min.
Pegamos
o táxi e fomos conversando com o motorista, bem
simpático por sinal. Falamos que éramos brasileiros,
que tínhamos vindo de Israel etc, só para puxar assunto... E eu dizia que
estávamos atrasados, que tinha que ir mais depressa.
Ele
falava do piloto Massa, da Ferrari, que era torcedor da escuderia e ele havia vencido
uma corrida no dia anterior e continuava andando lento, gesticulando com as
mãos como todo bom Italiano. O trânsito realmente estava horrível, ele nem se
importava e dizia que, na segunda-feira, era assim mesmo, mas chegaríamos a
tempo no local.
Chegamos
em cima da hora, paguei a corrida com uma nota de cem euros, recebi o troco, fizemos
as despedidas e avistei o ônibus especial estacionado e com o motor ligado, que
nos levaria ao passeio.
Constatei
que já havia muitas pessoas a bordo. Pedi para a esposa Dija, “segurar” a
situação e aguardar na entrada do veículo, até que eu fosse perguntar para a recepcionista
que estava atendendo ao publico, onde deveria entregar os bilhetes. Falou que
teríamos que tomar aquele ônibus lá fora que estava preparando-se para sair, e
que os entregasse durante o percurso, apressando-nos a tomar os nossos
assentos.
Entramos
e tomamos os lugares demarcados enquanto ouvíamos algumas explicações “tudo em
Italiano e depois em Inglês”. Conseguimos entender o conteúdo e percebemos que o
coletivo já começa a se locomover.
Em
seguida já parou! E então entrou aquele motorista do taxi, gritando que nem um
louco e procurando por nós. Quando percebeu a nossa presença, chegou
esbravejando com a nota de cem euros nas mãos.
Então
escutei: Brasiliano senza vergogna che il denaro è falso (brasileiro sem
vergonha esse dinheiro é falso), todos os turistas olhavam em nossa direção. Dentro
do ônibus foi formada uma tremenda confusão; devolveu a nota “falsa” e paguei a
corrida com outras notas de menor valor.
Quando
o taxista voltava pelo corredor apontou uma delegacia de policia logo em frente,
que era para onde deveríamos ir. Fiquei muito nervoso e o mandei para aquele
lugar (em português) e pedi ao motorista do ônibus seguir rápido e não
interromper o itinerário, que já estávamos fora o horário da partida.
Passado
o susto, ficamos olhando aquela maldita nota nas mãos. O taxista maluco disse
que tinha “um friso na vertical” e mais alguma coisa. O pensamento era de que
tínhamos outras notas guardadas no cofre do hotel e pensamos: será que é tudo
falso? Como vamos fazer? O certo era usar o cartão de crédito daí para frente e
sacar dinheiro no caixa eletrônico.
Nessa
altura a guia de turismo falava alguma coisa sobre o assunto, em Inglês, que
não conseguimos entender ao certo. Só sabemos que viramos os “mafiosos” do
ônibus até o final do passeio.
Descemos
na primeira parada em frente ao Pantheon e fomos lá curtir o passeio, deixando
a bronca de lado. Então eu disse para companheira “quando chegarmos ao Brasil vai
ser preciso processar a casa de câmbio, pois tínhamos o recibo e a carta de autenticação”.
Na
segunda parada, descemos próximo ao Vaticano e fomos fazer as visitas e
passeios.
Mas aquele mórbido pensamento não saía de nossas cabeças.
Vimos
então um ambulante vendendo terços com a figura no papa Bento VXI e também do
João Paulo II. Perguntamos quanto custava etc. Mostrei aquela famigerada nota
ao senhor e perguntei se ela era boa, que estava bem etc.
-”Si,
questo denaro è vero (Sim, esse dinheiro é verdadeiro)”.
Rapidamente
compramos os terços, recebemos o troco e fomos à frente da Praça de São Pedro
do Vaticano, que estava repleta de
pessoas e achamos que fomos “benzidos” por todos aqueles santos
enfileirados no alto dos edifícios, e o dinheiro falso virou verdadeiro.
Ficamos
contentes e, nesse momento, passamos em frente a uma casa de câmbio, conversamos
com a atendente pelo microfone, pois havia vidros à prova de projéteis de arma
de fogo.
Dissemos
que queríamos trocar uma nota de cem (outra) por duas de cinqüenta. Falou que
não podia trocar só cambiar. Solicitamos, então, uma autenticação daquela nota;
ela olhou, passou o dedo, colocou em um aparelho e disse: Si trata di soldi
veri, si può spendere tutto qui a Roma (trata-se de dinheiro verdadeiro, podem
gastar tudo em Roma).
Saímos
de lá soltando palavrões: motorista maluco, desgraçado, e outras coisas mais.