Quando o Erro se Transforma em Euro
Roma amanhecia com uma luz dourada, e eu, ao lado da minha esposa, mal podia
imaginar que nosso passeio seria marcado por uma reviravolta quase cômica.
Ainda ressintindo o cansaço do voo noturno vindo de Tel-Aviv, nossa aventura na
Cidade Eterna começava de maneira inesperada.
Em meio à correria matinal, chamamos um táxi para alcançarmos nosso grupo
turístico, e o condutor, com seu inconfundível sotaque italiano, aliviava a
tensão com histórias sobre Massa e a Ferrari. “Segunda-feira em Roma é assim
mesmo”, afirmava com um sorriso despreocupado enquanto enfrentava o trânsito
caótico. No término da corrida, paguei com uma nota de cem euros – um bilhete
que, sem que soubéssemos, se transformaria na peça central dessa narrativa.
No ônibus turístico, já imerso em conversas e explicações em italiano e
inglês, a atmosfera se harmonizava, até que o inesperado irrompeu. O mesmo
taxista, agora em plena fúria, invadiu o veículo exibindo a nota como se ela
guardasse um segredo sombrio:
"Brasiliano senza vergogna! Il denaro è falso!"
Num instante, todos os olhares se voltaram para nós. Entre constrangimento e
incredulidade, desembolsei outras cédulas de menor valor para tentar apaziguar
a situação, ainda que o taxista apontasse insistente para uma delegacia
próxima, como se ali fosse imperiosa a justiça. E, ainda assim, o ônibus seguia
firme em seu percurso, indiferente à confusão.
Segurando a nota acusada, uma dúvida inquietante pairou: será que todas as
cédulas que guardávamos no cofre do hotel eram meras falsificações? A ideia de
recorrer apenas ao cartão de crédito e aos caixas eletrônicos passou a ecoar em
nossas mentes, enquanto o mistério se adensava na direção dos encantos do
Vaticano.
Na segunda parada, ao nos aproximarmos do Vaticano, um ambulante vendia
terços. Num gesto de fé e, talvez, busca por redenção, mostrei-lhe a nota em
questão e perguntei:
"Este dinheiro é verdadeiro?"
Sem hesitar, o homem respondeu com convicção:
"Si, questo denaro è vero."
Por um breve momento, ao contemplar a grandiosidade da Praça de São Pedro
com os seus santos altivos, pareceu que a própria Roma nos abençoava. Contudo,
a dúvida permanecia até que, ainda sedentos por esclarecimentos, adentramos uma
casa de câmbio. Lá, ao pedir a troca de outra nota de cem por duas de
cinquenta, a atendente examinou a cédula, conectou-a a um aparelho e declarou:
"Si tratta di soldi veri; podem gastar tudo em Roma."
E naquele instante, a ironia se revelou de forma surpreendente: o que parecia ser um erro, a fonte de toda a nossa inquietação, era – de fato – o autêntico EURO. Assim, Roma nos ensinou que, por vezes, o imprevisto transforma incertezas em verdades inusitadas, conferindo à vida seu toque singular de magia e irreverência.
💥
Acredito que a escrita é uma arte em constante evolução, refinada pelo hábito, pela observação e, principalmente, pelo desejo de transmitir emoções e ideias de forma mais autêntica.
Sempre que houver anúncios
disponíveis, você pode apoiar este espaço com um simples clique. Isso me ajuda
a continuar trazendo textos exclusivos e de qualidade para você. Caso veja um
anúncio, aproveite para explorá-lo e contribuir com o blog!
Compartilhe nos comentários
Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história.
📌 Acesse abaixo, links
para os meus espaços de cultura e amizade: