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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O ANDARILHO


Em um dia desses qualquer, o Prefeito de uma cidade grande parou o seu carro, por pouco tempo, em um cruzamento, aguardando o sinal de abertura para seguir o seu caminho habitual.
Sobre a calçada oposta, avistou uma pessoa maltrapilha e de idade avançada, parecendo ser da raça oriental, caminhando com dificuldade, sem um calçado para aqueles pés sujos, encardidos e machucados.

Estendia a mão para as pessoas e pedia uma ajuda, tinha fome e necessitava de um pedaço de pão ou de outra substância qualquer, para acalmar a dor.

Seu andar era lento, carregava sobre as costas um saco contendo quinquilharias, que um dia, certamente, fora de alguma utilidade. O Prefeito seguiu o seu caminho e ficou durante o trajeto, pensando naquela figura que, pelo espelho do retrovisor, foi ficando cada vez menor, até que, virando à esquina, não o viu mais.

Depois de alguns dias, iria passar no mesmo local e logo veio a sua mente a figura daquele homem: estaria ainda lá? Logo chegando, avistou-o. Desta feita, não seguiu;

Estacionou o carro no meio-fio e ficou observando suas atitudes.

Quando recebia uma atenção de uma pessoa caridosa, alisava a barbicha branca quase rala e fazia uma reverência, própria da raça oriental. Usava um capote marrom até os joelhos, uma calça preta e os pés continuavam sem calçados e aquelas feridas estavam em uma condição pior.

Outra pessoa ao seu lado também observava aquele personagem, que intrigava com seus gestos; logo mais, se acercou outra e já eram cinco indignados com a situação.

Trocaram algumas ideias e, no final, o prefeito solicitou a presença do SOS. Depois de uma meia hora, chegou uma assistente social, que se dirigiu ao senhorzinho.

O recolhimento foi feito sob os olhares de muitas pessoas. Entre os presentes, um senhor, que se chamava Salvador, foi consultado pela assistente se poderia acompanhá-lo até a entidade, para dar um apoio e conversar com o velhinho. Chegando ao recinto, foi explicado que o ancião poderia permanecer por lá, no máximo, dois dias.

No dia seguinte, comovido com o fato, Salvador foi até o local para conversar e verificar suas condições, encontrando-o com uma aparência melhor, sem aquele capote horrível e com calçados.

Começou então a ouvir a sua história...

Tinha uma família, esposa e seis filhos, que foram se casando e deixando o seu lar, até que o último, que era um filho adotivo, também se foi. Ficou com a mulher até a sua morte, o que o deixou em depressão e foi se sentindo muito sozinho; os outros filhos moravam distante, não vinham visitá-lo.

De vez em quando, o adotivo, que morava na mesma cidade, fazia uma visita, mas não podia ajudar, porque não tinha posses, diferente dos outros irmãos, que estudaram e estavam bem de vida.

Já doente e com depressão, não conseguia mais pagar o aluguel, até que, um dia, foi despejado e não teve outra opção a não ser viver pelas ruas; falou bem sobre o adotivo, mas reconheceu que ele não tinha recursos para cuidar dele.

Perguntado sobre sua religião, disse que frequentava um templo budista na cidade onde constituiu a família, onde estão os seus filhos legítimos.

Salvador solicitou uma conversa com o responsável pela entidade, para que pudesse permanecer mais um tempo, enquanto ele verificava se podia resolver melhor aquela situação e foi-lhe respondido que só com autorização do prefeito. Ele não teve dúvidas: solicitou uma audiência e obteve a permissão para mais alguns dias, pois o prefeito se lembrou do caso.

Com o desenrolar dos dias, Salvador foi à procura do filho adotivo, descobrindo que ele, Felício, trabalhava em sua própria fábrica de móveis, como ajudante, e não podia trazer o pai porque não tinha renda suficiente.

Salvador melhorou sua condição financeira, porque era um ótimo funcionário; e lhe deu uma cama para acomodar o Pai.

Depois de uma semana, foi até a casa de Felício para ver como estava a situação e se deu conta de que o velhinho ainda permanecia com aquele saco de quinquilharias que tinha quando vivia pelas ruas. De lá, tirou uma estatueta de um monge budista e entregou a Salvador, como prova de gratidão.

Neste momento, falou: “Eu me chamo Kenzo; agora, estou contente aqui com o meu filho adotivo, que me acolheu com sua ajuda”.



quinta-feira, 28 de setembro de 2017

DEPOIS DA CHUVA





Os últimos pingos da chuva ainda caiam desordenadamente sobre a calçada empoeirada. A água acumulada ia lavando suas impurezas; Uma criança caminhava por ela com uma das palmas da mão estendida, suplicando por alguma oferenda que alguém lhe pudesse entregar, para saciar sua fome.

Nada encontrando, voltou para junto da mãe que estava na esquina com a roupa molhada, tentando secar o cabelo que cobria a testa enrugada, marcada pela vida sofrida que lhe pesava sobre os ombros.

Em um dos braços, carregava outro filho menor que reclamava, como o primeiro, da dor da fome e, não sabendo se expressar de outra forma, gritava incessantemente, de tal forma que despertou, em alguns transeuntes, uma piedade sem tamanho e sem ação, observando o sofrimento daquela família, sem nada fazer.

Outros passavam apressadamente ainda correndo da chuva e reclamavam da obstrução da calçada causada pela mãe e as crianças, sentadas sobre o frio e úmido chão.

A tarde foi caindo, quase virando noite e ninguém se apiedou daquelas três criaturas que lá permaneciam, agora também com frio.
Do outro lado da rua, estava uma monumental praça da bela metrópole, ostentando ornamentos de uma cidade com uma situação privilegiada para as questões administrativas, mas de pouca solidariedade com as pessoas de menor posse e flagelados.

Na esquina, havia uma antiga igreja de fachada simples, mas com um nobre sacerdote, que avistou aquelas pessoas, na calçada, com as roupas ainda molhadas.

Pediu ao idoso sacristão que fosse até o local e que as trouxesse para dentro. O sacerdote estava contrariando as ordens superiores, levando aquelas criaturas para dentro da igreja e oferecendo abrigo noturno, mas não se importou: agiu com fé na religião e com o coração. Solicitou, então, ao ajudante que preparasse um café com bolachas, enquanto procurava, no depósito, roupas que haviam sido recolhidas na última campanha do agasalho, pois o frio já estava presente no corpo daquelas pessoas.

A jovem senhora e seus dois filhos foram para esse depósito onde receberam roupas secas e colchões colocados sobre algumas tábuas, para poderem passar a noite.
 A mulher se viu diante de um pequeno altar de origem barroca, com um santo olhando fixamente para ela, velando o sono daquela inocente família.

No dia seguinte, logo cedinho, o sacerdote se aproximou da senhora junto com o idoso sacristão e quiseram ouvir a sua história.

Após o seu relato, o sacerdote identificou a pessoa e constatou, por informações de tempos atrás, tratar-se de sua meia-irmã. Abraçaram-se muitas vezes... E, deixando os filhos com o sacristão, o sacerdote pediu-lhe que levasse os dois para uma creche mantida pela igreja, e ela ficou fazendo serviços de limpeza no humilde santuário.
Na visão daquela mulher simples, um milagre aconteceu, pois tudo a levou a esse pensamento e a uma exclamação de alegria e contentamento.

Mas o que é um milagre? Como saber, com certeza, que algo milagroso aconteceu?

As respostas não são simples e dependem do ponto de vista de quem as responde. Popularmente e principalmente nos povos de crença nativa, a definição de milagre é bem menos rigorosa, atribuindo a uma intervenção maravilhosa do Senhor Deus, um acontecimento que não segue o que é habitual na natureza e não tem outra explanação.   


sábado, 5 de dezembro de 2015

FALA-MOÇO

FALA-MOÇO

Amanheceu um banco vazio naquela praça de muito movimento defronte à Catedral da cidade, mostrando aos personagens daquela época, uma ausência de uma figura floclórica que fazia do trabalho de engraxate o seu meio de vida. Destacava-se dos demais por ser o mais velho e da raça negra. Tinha um “bordão” que os outros não ousavam imitar. Era sua característica; sentado no banco tendo à frente a caixa de ferramentas de trabalho, jogava no ar sua frase famosa quando passava alguém trajado de terno e com bonitos sapatos de couro. Apontava com o dedo indicador da mão direita para os sapatos e dizia: FALA MOÇO! Era o seu modo de oferecer os seus serviços aos que topavam perder alguns minutos para lustrar os sapatos, sim, porque naquela época ainda se usavam, hoje caiu de moda, na praça só passam pessoas que ostentam belos tênis e para eles não existem graxa.

Foi com essa modificação dos novos tempos, que os engraxates sumiram da praça e perderam lugar para os “marreteiros” que vendem suas bugigangas sem nenhum alarde, ficam silenciosos esperando o freguês parar e começar a bisbilhotar suas mercadorias de segunda, terceira e até de quinta categoria.

O FALA MOÇO não existe mais, ficou um banco vazio na praça, não ouviremos mais suas gargalhadas e os sambas-de-breque do Germano Matias (antigo cantor) que imitava enquanto engraxava, fazendo um “batuque” com o pano no calçado do freguês. Quando terminava o serviço, levantava e fazia um rodopio agradecendo uma gorjeta que era oferecida pela sua simpatia e o belo “lustro”

Testemunha dos anos, de lá do banco quando não tinha “serviço” ficava com o olhar disperso parecendo atravessar as paredes da memória e do tempo, buscava coisas que não podia enxergar. Ia além delas. Atravessava ruas, cidades e oceanos, até tornar-se um menino de alguma cidade, pois sempre agradecia ao Prefeito, por permitir que trabalhasse vindo de outro lugar.

Com a passar do tempo, veio a bebida em sua vida e tudo se transformou, tornou-se um velho ranzinza e começou a mexer com as mocinhas que passavam em frente a sua caixa de panos e graxas. Assobiava fazendo gracejos, pois estava com umas pingas na cabeça, falava alguns palavrões, ferindo a suscetibilidade das meninas, o que causou sua retirada do local, através de um movimento dos motoristas de carros-de-praça (assim se chamava os taxistas de outrora).

Enveredou-se para as ruas adjacentes trafegando pelos bares pedindo bebida e dizia que não tinha dinheiro para pagar. O dono para se ver livre do incomodo, dava uma dose e pedia para sumir do local.

Soube depois de algum tempo que morreu em uma noite de muito frio, na porta de um bar. Não deixou parentes, ou filhos; somente um banco vazio no canto da praça.

Hoje, no final da tarde, por ali transitarão apressados pedestres, caminhando pela praça com uma sinfonia de pardais alegrando o entardecer. Lá do alto os sinos da catedral badalarão solenemente, convocando os fiéis para o culto religioso. Quem sabe alguma alma generosa solicitará uma prece para o infeliz engraxate. 

Foi-se o tempo, passou pela cidade um personagem daqueles tempos, o FALA-MOÇO, engraxate da praça da matriz. Equilibrou-se no fio do tempo, nos lembrando que a vida é feita de encontros e instantes...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

San Carlos de Bariloche




No retorno a essa cidade maravilhosa encontramos logo na chegada ao aeroporto, à neve caindo. Foi maravilhoso ver aquela condição que não tínhamos visto da primeira vez. O frio era intenso com a temperatura chegando a dois graus abaixo de zero.

É uma cidade da Argentina localizada na província do Rio Negro, junto à Cordilheira dos Andes na fronteira com o Chile.
Toninho, Dija, Orlando, Iza, Norma e Nilza, e mais duzentas pessoas oriundas de um voo fretado por uma empresa de turismo, foram recepcionados por uma banda, que tocava músicas brasileiras no aeroporto. Depois falou o representante do prefeito e seus bajuladores, em um português cheio de sotaque, mas foi muito bom; o clima era de alegria e de muito entusiasmo com aquela neve caindo. Logo após, fomos buscar os nossos pertences para dirigirmo-nos ao ônibus que nos levaria ao hotel. Fomos recebidos por um rapaz muito alegre, e que a coordenadora dos passeios que seguiriam semana adiante informou-nos seria o nosso guia. 


O frio era arrasador, pedia um chocolate quente com conhaque, uma bebida característica da cidade, tanto que possuem inúmeras casas especializadas no trato. Fomos à procura de uma no aeroporto, mas percebemos que demoraria pela grande quantidade de pessoas presentes no local; preferimos deixar para fazê-lo em uma casa especializada na cidade.

A cidade está rodeada pelo magnífico lago Nahuel Hualpi, que, na linguagem dos índios Mapuche, habitantes do lugar, quer dizer ”O pulo do tigre”. Há também o Gutierrez e o Mascardi. O nome Nahuel soa confortável aos ouvidos, tanto que escolhemos um hotel que lhe emprestou o nome, aliás, tudo por lá o homenageia, porque é carismático, de águas gélidas e harmoniosas, tão belo, que, da janela do nosso hotel, pudemos deslumbrar em uma noite (pela vidraça), enquanto tomávamos um precioso vinho local, já que a região iniciou recentemente a produção.

Está rodeada por montanhas (cerros em espanhol), como o Tronador, com mais de 3.000 metros de altura, com fronteira com o Chile; depois vem o famoso cerro Catedral, (que movimenta a badalada estação de esqui), em seguida o Cerro Lopes.

A cidade atualmente possui cerca de 100 mil habitantes e abriga um espetacular museu, encravado no exuberante portal de entrada, cuja construção lembra a de cidades alemãs e austríacas, sendo esse panorama extensivo às casas da cidade, protagonizando ares de uma arquitetura secular. Ali está presente e o passado da cidade, seus descobridores e cultivadores da cultura *mapuche*, quando o passado encontra o presente com recordações e informações vividas intensamente e cheias de cultura milenar. 


O nome Bariloche prove da palavra “Vuriloche” que na língua nativa, significa “povo de trás da montanha”. Isto porque seus primitivos habitantes, os índios, eram originários do outro lado da cordilheira. Devido a um erro de ortografia, já que em espanhol a letra V é pronunciada como B, o nome da cidade foi registrado como Bariloche.


E, de tanto ouvir o nome, os brasileiros que reinam soberanos em termos de turistas, batizaram a cidade de Brasiloche, para desespero dos 

Argentinos, tanto é verdade, que encontramos um restaurante como essa junção nominal.


A altitude menor nesse local, nos Andes, permitiu que os indígenas migrassem há séculos do Sul do Chile para essa região Patagônica. Uma das atrações são os cachorros São Bernardo que trafegam com seus donos pela cidade à procura de pessoas para serem fotografadas ao lado dos enormes cães, por 10 a 15 pesos. Para não escaparmos à regra, fomos lá para a tal foto que ficou no emaranhado de outras em nossos arquivos.


A fundação deu-se em 1895 quando um imigrante alemão criou ali um armazém. Em 1902, tornou-se a cidade de San Carlos de Bariloche. Sua arquitetura, principalmente na área central, como já disse, lembra os povos germânicos.


No inverno (junho a agosto), as temperaturas caem abaixo de zero e a maior quantidade de neve nas montanhas (cerros) altas, dá o início à temporada e badaladíssima temporada de esqui. Eu e meu cunhado Orlando nem precisamos de apetrechos para a neve, com os blocos de gelo endurecidos no chão, caímos em horas separadas e ficamos com pontadas nas costelas, necessitando de cuidados médicos, que a cidade oferece através da operadora de viagem, sem custo nenhum.


Depois que nos recuperamos, a turma toda foi almoçar em um restaurante todo envidraçado e com uma calefação aconchegante, de onde víamos os esquiadores rodopiando neve abaixo. No local, pedimos pratos característicos, regados de muito vinho branco, servidos por alegres argentinos que nos “elogiavam” pelo desempenho como esquiadores sem esquis.


A principal atividade econômica é o turismo; em anos recentes, a aquicultura especialmente de trutas e salmões e a criação de animais silvestres como javali e cervos, tornou-se um rico prato dos restaurantes. 


É também o centro de produção de alguns vegetais de clima frio como a rosa mosqueta e alfazema, em cuja oportunidade, tivemos o privilégio de visitar a fábrica, cujos produtos eram fabulosos. É um ambiente aromático estupendo, serviram aos presentes um quentíssimo de chá de rosa mosqueta.


Á noite, após os maravilhosos jantares, saímos todos encapotados, encolhidos, para chegar logo a uma chocolataria, onde ergueríamos aquelas canecas todas decoradas, cheias de chocolate com conhaque, sorvido a enormes “goles” deixando as nossas orelhas mais quentes.

E assim se foi uma das maravilhosas férias. Que venham outros passeios esplendorosos, parecidos com esse na bajudadíssima Brasiloche.




Os Mapuche são um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina, conhecidos também como araucanos.


Vive hoje em dia em zonas urbanas, muitas mantendo, entretanto, vínculos com suas comunidades de origem.


De maneira geral lutam pela recuperação de seu território ancestral, por mudanças constitucionais em prol dos direitos indígenas e reconhecimento por parte dos Estados de suas especificidades culturais.


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A CIÊNCIA ADIVINHATÓRIA

Desde os tempos imemoriais, tem o homem procurado antever os efeitos de origem física, biológica e de inúmeras outras, surpreendendo as leis...