![]() |
Hoje, tudo o que resta são fragmentos: duas placas amarelas, alguns
ladrilhos soterrados pelo mato e uma escadaria imponente que resiste ao tempo,
encostada a um barranco. Lá em cima, uma antiga caixa d’água metálica e
vestígios de um banheiro. Ao lado, as ruínas de uma igreja, com mármore e
granito revelando o êxodo rural que desfigurou essa terra de esperança.
Revisito agora, na memória, aquele cenário encantador dos anos 1950, época
de férias na fazenda dos meus avós. Era o refúgio do menino que buscava no
campo o que hoje só encontra na saudade. As fazendas eram pura vida e alegria.
Passeios de charrete, cavalos enfeitados e primos como guias dessas aventuras
inesquecíveis. Tudo culminava em visitas aos casarões coloniais, onde o aroma
do café torrado misturava-se com a língua materna, o dialeto da região de
Vêneto, que fluía como música entre os descendentes italianos.
Meu avô materno, Giuseppe Gasparotto, o querido “Beppo,” recebia todos com
entusiasmo. A fartura das mesas era de dar inveja: pão caseiro, broas, espigas
de milho, leite fresco, ovos cozidos e frutas da estação – tudo temperado com
mel do pomar. E o vinho! Ah, o vinho feito ali mesmo, que nem a molecada
resistia... embora alguns acabassem sendo carregados de volta para as
charretes.
O centro das conversas era sempre o café. Esse grão precioso era o sustento
das famílias que ocupavam as colônias ao redor das fazendas. Era uma época em
que as colheitas simbolizavam trabalho árduo, mas também união, festa e um
constante pulsar de vida.
E então, há algo irresistivelmente poético na visão da estação ferroviária de
banharão. Naqueles tempos, eu cavalgava pelas manhãs, guiado por meu avô Beppo,
para admirar o movimento da estação. Lá, aprendi sobre o telégrafo – a magia
tecnológica que conectava estações e permitia que o mundo se comunicasse em
pulsos sonoros. Fascinava-me o movimento frenético das sacas de café sendo
embarcadas nos vagões, destinadas ao porto de Santos. O ciclo de vida do café
começava ali, conduzido pelas mãos calejadas dos carroceiros e engrandecido
pelo fervor do povo.
O nome do meu avô paterno, Tonella, destacava-se entre os carroceiros. Ele
não apenas trazia o café da própria fazenda, como também era contratado para
transportar mercadorias de outras famílias. Seus famosos aboios, com comandos
para as mulas, ecoavam como poesia nas estradas poeirentas. Era a trilha sonora
da estação, do engenho de beneficiamento e do armazém abarrotado de histórias e
trabalho. O velho patriarca encerrava seu dia na Igrejinha de Santo Antônio,
agradecendo pela jornada concluída – a mesma igreja que, hoje, jaz em ruínas,
denunciando o abandono de um bairro promissor.
Agora, ao recordar tudo isso, é impossível não me transportar, como em um sonho, de volta ao tempo em que tudo era mais simples e verdadeiro. O trem de passageiros chega à estação banharão, e eu embarco como aquele menino cheio de curiosidade e esperanças. Volto como homem, pai de família, morador de Jundiaí, carregado de emoções que permanecem vivas em minhas lembranças – do tempo em que as ferrovias uniam o Brasil e o progresso ainda era sinônimo de identidade.
Às vezes, basta um clique para abrir novas
histórias — inclusive nos anúncios, que ajudam a manter este espaço vivo.
Explore mais nos links abaixo e contribua com cultura e amizade:
🎥 Canal
no YouTube
📷 Slides
e imagens no blog
🔹
Formal com
reconhecimento
Ultrapassamos 92 mil visualizações — o total pode ser conferido à direita,
próximo às fotos dos meus seguidores.