Antonio Vendramini (era
o meu avô de apelido Tonella) nasceu na cidade de Treviso, na Itália..
Sua família embarcou na
oportunidade aberta aos europeus pelo governo imperial, na pessoa da princesa
Isabel, com a finalidade de, em um futuro bem próximo, substituir a mão-de-obra
negra e também branquear a raça, na ocasião composta por maioria de escravos.
A família e alguns
outros imigrantes foram parar em uma fazenda de café na cidade de Jaú, Estado
de São Paulo, mais precisamente no Distrito de Banharão, onde trabalharam
arduamente na colheita dos grãos que se transformavam na magnífica bebida de
fama internacional: o café.
Naquele solo,
considerado por meu avô como sagrado, tiraram o sustento sob um trabalho duro e
muito sofrido, até que, em um tempo razoável, conseguiram comprar pedaços de
terra do fazendeiro e ter o seu próprio plantio.
O menino Tonella, naquela
ocasião, teve sua atenção despertada para a montagem de um carro de boi que se
fazia em um depósito cujas sacas de café seriam levadas para o embarque nas
ferrovias, puxada pela saudosa “Maria-Fumaça”. Ali ficava horas e horas observando
o trabalho dos carpinteiros.
Quando chegava em casa, recebia as reprimendas dos irmãos porque não ia para a lavoura, mas, como era o mais novo, eles entendiam e faziam a sua parte.
Quando chegava em casa, recebia as reprimendas dos irmãos porque não ia para a lavoura, mas, como era o mais novo, eles entendiam e faziam a sua parte.
Ele ficou compenetrado
naquela construção, aprendendo os mecanismos do funcionamento e também a lida
com as parelhas de bois que iam sendo atreladas para o transporte de sacas de
café da colheita. Não demorou muito, foi promovido a “carreiro” que é nome que
se dá para o condutor do conjunto.
Sob muita emoção, ele
contava essas histórias que o menino Toninho (neto) ouvia com muita atenção e
fazia inúmeras perguntas. Dizia que para o carro “cantar” tinha que apertar o
eixo e engraxar, com um pincel, com banha de porco ou azeite que ficava no
azeiteiro, dentro de um chifre de boi, carregado pelo irmão mais velho de
apelido “Anduim”, que Tonella considerava como se fosse um pai.
O “canto” do carro era
uma grande atração; quando entrava na cidade, aglomerava muita gente pela
curiosidade de ver quem estava chegando e ouvir as “novidades”.
Mais para a periferia,
no Distrito, o chamado Banharão - terra que me viu nascer - a cantiga ia
atraindo especialmente as moças que corriam para a porta das casas, e os
condutores, Tonella e Anduim, sorriam e acenavam com o chapéu.
E assim, com gritos de
“comandos”, os bois iam à marcha rápida para o destino. Segundo ele, gostava de
trabalhar com boi “malhado”; era mais manso e de fácil aprendizado.
O trabalho de amansar
era feito aos poucos, com uma “canga” no pescoço, para o peso ser puxado por
igual, e assim podia trabalhar por muitos anos, se fosse bem cuidado.
Ele ficava com muita
tristeza quando falava sobre a aposentadoria de um boi.
“Quando o animal já estava velho e não aguentava mais puxar o carro e outros serviços, tinha que levar para o curral do matadouro... Dizia também que o velho boi pressentia a proximidade da morte e até lágrimas corriam dos olhos”.
Outra história que o
Velho Tonella contava muito animado era sobre o namoro com Dona Santa (minha
avó).
“Quando a gente passava de
proposito com o carro de boi na rua que ele morava, já estava na janela da casa
sorrindo e acenando, era o sinal de que a gente ia se encontrar”.
O carro de boi foi,
para a família Vendramini daquela época, um marco produtivo de crescimento. Foi
o principal meio de transporte utilizado para movimentar a produção das
fazendas e das cidades.
Entretanto, o aparecimento das tropas de burros - do qual meu avô foi um dos pioneiros em Jaú e, tornou-se muito conhecido por dotá-los de destreza no trabalho de tração - substituiu com mais velocidade o transporte das sacas de café, levando-as à estação de trem e de lá, através da Maria-Fumaça, para os navios no porto de Santos.
Entretanto, o aparecimento das tropas de burros - do qual meu avô foi um dos pioneiros em Jaú e, tornou-se muito conhecido por dotá-los de destreza no trabalho de tração - substituiu com mais velocidade o transporte das sacas de café, levando-as à estação de trem e de lá, através da Maria-Fumaça, para os navios no porto de Santos.
Mais adiante, na vida
dele, vieram os cavalos, fazendo a alegria de muitas pessoas com o treinamento
que lhes dava para que se apresentassem em espetáculos rurais, corridas,
terreiros e shows circenses.
Com muita emoção, concluo
que o carro de boi acompanhou as mudanças, o crescimento e o progresso das
cidades e das famílias.
Hoje, ele é apenas uma lembrança do passado de uma geração, que vai se acumulando em nossas memórias e na desse nosso país.
Hoje, ele é apenas uma lembrança do passado de uma geração, que vai se acumulando em nossas memórias e na desse nosso país.
Felizmente, pelo seu
valor cultural, o carro de boi ainda é homenageado em diversos festivais e
encontros, onde bravos remanescentes daquela época se reúnem para contar
“causos” desse meio de transporte rústico e, agora, simbólico do meio rural
brasileiro.