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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Os Sonhos dos Emigrantes Italianos







A taça de vinho repousava sobre a mesa, a preguiçosa cadeira de balanço embalava os meus sonhos. Naquele mágico ambiente, soavam belas e antigas músicas, uma delas com o título de Lágrimas Napolitanas. Falava da partida angustiada dos imigrantes italianos do velho porto de Nápoles para terras desconhecidas, buscando um futuro melhor para os seus descendentes.

O destino era a América do Sul, mais precisamente o Brasil, onde a princesa Isabel abrira fronteiras para substituir a mão-de-obra escrava, por imigrantes europeus.

Em devaneio, lembrei-me que lá estive a caminho da Ilha de Capri. Naquela ocasião, enquanto aguardava a chegada ao navio, fiquei “plantado” no cais, imaginando como tinha sido a partida daquelas criaturas.

Enquanto minha mente divagava, enxergava ao fundo, na Baía de Nápoles, o velho vulcão Vesúvio, que expelia um pequeno rolo de fumaça, levando-nos a crer que, a qualquer momento, poderia abrir fogo, como na ultima vez em 1944.

A canção entorpecia meus ouvidos, culminando em um trecho que dizia:

E nce ne costa lacreme st’ América
Quantas nos custa lágrimas esta América

A nuie napulitane…
A nós, Napolitanos!

Pe nuje ca ce chiagnimmo’o cielo’ e Napule,
A nós aqui que choramos do céu de Nápoles,

Comme’ é amaro stu ppane!
Como é amargo este pão!

Ca a poco a poco
Que pouco a pouco...

Me consuma o core
Consome o meu coração

Paura ca me strue’sta malatía
Medo que me atormenta, esta doença.

Senza vedé cchiu Napule
Sem poder ver mais Nápoles

Tanto meus avôs paternos e maternos não eram Napolitanos, mas vieram, com muito sacrifício, de seus vilarejos, com crianças no colo e na barriga, cujas “comunas” eram as cidades de Veneza e Treviso, para embarcar do Porto de Nápoles.

A Itália de antigamente, que ainda não era um País, tinha suas terras habitadas em pequenos reinos por vários povos, muitas etnias, espalhados pelas planícies e montanhas.

Tinham o seu próprio governo, através de homens guerreiros, com um líder, que se perpetuava no poder até a morte. Os objetivos eram as conquistas dos lugarejos por onde passavam, agregando tudo o que encontravam pela frente.

Imperava a lei do mais forte: o comando ficava com o patriarca da família onde estavam os guerreiros, que se destacavam nas lutas. A ampliação do poder se desenhava na ambição da conquista do povo mais próximo, até que foram ficando regiões poderosas.

Constituídas as regiões, veio a necessidade de um único reinado, que se transformou na Itália dos nossos dias. Em 1860, ocorreu a unificação política; desde então, os membros da família real da casa de Savóia tomaram o poder.

Após o fim da era Mussolini, em 1948, entrou em vigor a nova Constituição, que adotou o sistema parlamentar para a forma republicana do governo, com o rei da Itália, Vittorio Emmanuele III, exilando-se voluntariamente.

A Itália é a terceira economia da Europa e a quinta do mundo. Deve boa parte deste seu sucesso ao grande trabalho feito pelos seus filhos e descendentes que lá vivem e de outros espalhados pelo mundo afora.

Minha contribuição é quase nada para tudo isso, mas o sangue europeu fala alto nessa hora, ainda mais que estive por lá várias vezes, fascinado com suas tradições.

Quando caminhei por Veneza (que fica na região de Veneto) pela primeira vez, com a minha companheira que também descende da raça, ficamos emocionados ao pisar o solo dos nossos antepassados. Por força do destino, fiquei sabendo, após o regresso, que existe um antiquíssimo castelo, atualmente revitalizado, em que funciona, hoje, um museu/hotel, bem atrás da catedral da Praça de São Marcos, que pertenceu à família Vendramini. Planejamos, então, visitá-lo em uma próxima viagem, para fazer uma pesquisa da origem.

Depois de algum tempo, retornamos a bela Veneza de forma rápida, somente um dia e, desta vez, avistamos essa maravilhosa cidade do alto de um transatlântico.

No desembarque, percorremos, com um “vaporetto”, o Grande Canal, na esperança de vê-lo, mas o tempo foi cruel conosco, não restava mais tempo para fazer a busca, porque já era noitinha e o transatlântico partiria dentro de hora e meia.

Mais uma vez estivemos naquela terra, só que agora em outra direção, percorrendo Roma, Milão, Verona, Como, Bellaggio e Malpesa. Assim sendo, a visita ao castelo certamente vai ficar para outra oportunidade e com mais tempo.


Essa forte referência da terra e do idioma fez com que lhes dirigisse uma homenagem, escrevendo e contando suas memórias, que eu ouvia com muita atenção, quando eu era um adolescente, sentindo agora a necessidade de falar dessa forte ligação através de um livro, que se encontra em andamento, intitulado “A Última Visão de Um Caboclo”.


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