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quarta-feira, 30 de abril de 2025

LAMPIÃO, O BANDOLEIRO DOS SERTOES NORDESTINOS E OS MISTERIOS DE ARACAJU E DO SERTÃO




O "CABRA" LAMPIÃO VIRGULINO

 O bandoleiro dos sertões nordestinos 

Em uma viagem de recreio com a família à bela cidade de Aracajú, capital do estado de Sergipe, que foi fundada em 1855, uma das primeiras planejadas do país, percebemos que suas ruas centrais, são traçadas em forma de um tabuleiro de xadrez. Em um ‘city-tour’, fomos à Catedral, à Colina de Santo Antônio, de onde se tem uma visão de toda a cidade, à Praia de Atalaia e outras. Fomos também ao Mirante do Calçadão da 13 de julho, onde se encontra o Mercado Municipal que, aliás, me encantou. 

Então disse à minha esposa que deveríamos regressar lá, para nos determos mais em suas peculiaridades que observei serem de muita cultura, havia muito folclore e um contador de histórias que me agradou muito. Em um dos dias que se seguiram, fomos visitar os Cânions do Rio São Francisco, percorrendo terras áridas e secas; passamos pelo projeto de terras irrigadas chamado de Califórnia, onde o contraste é radical, com plantações de quiabo, uva, acerola, coco, maçã, feijão, etc. Às margens do “Velho Chico” está a imponente Usina Hidroelétrica de Xingó, com um reservatório de 60km² que formam imensos cânions. 

O passeio foi através de um catamarã. Vislumbramos muitas paisagens maravilhosas que a natureza, com a ajuda do homem, nos proporcionou, destacando a Gruta do Telhado. No retorno, fizemos uma visita ao fabuloso Museu de Arqueologia, com o acervo obtido nas escavações do reservatório da Usina. Após o embarque de volta, fomos ouvindo o Cicerone da embarcação, que deitava loas ao fato de ter havido, dois dias atrás, na cidadezinha de Piranhas, próximo dali uns 20 quilômetros, uma missa comemorativa ao aniversário de morte do famigerado Lampião. 

Foi uma concentração de muita gente, dizia ele, vindo de todos os cantos, em homenagem ao cangaceiro e ao seu bando, uma vez que, ali perto, ele foi morto com alguns de seus asseclas, tendo a cabeça decepada pelos policiais da época, chamados de “volantes”. Contou também algumas passagens do bandoleiro, o que me deixou bastante curioso, para saber mais desse incauto personagem que virou uma lenda no Sertão. 

O pacote turístico que compramos incluía um almoço, que seria servido após a parada final, em um restaurante rústico, à beira da represa. Quando nos aproximávamos das mesas, o cicerone lá do alto da embarcação, dizia: - Não deixem de conhecer, após o almoço, a Dona Expedita, a filha de Lampião, que os recepcionará junto com sua filha Vera. A velha senhora tem aquele restaurante e mora com a filha em Aracaju. Foi, sem dúvida, uma atração à parte.

Contou aos curiosos que, logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses, até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita, três vezes. Dizia ela:- “Eu tinha muito medo das roupas e das armas, mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo para conversar comigo”. No regresso a Aracaju, vim pensando em saber mais sobre a lenda que esse personagem fincou nas fronteiras dos Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia; lembrei-me, então, daquele contador de histórias do Mercado. 

Fomos até lá no último dia que nos restou da viagem. É um lugar fascinante, cheio de lojas, vários barbeiros, cabeleireiras, moças que fazem unhas das donzelas da cidade, vendedor de queijo, castanhas, manteiga de garrafa, artesanato, conjuntos cantando forró, dançarinos e tocadores de berimbaus: uma verdadeira festa nordestina. Rumei para a bancada do contador de histórias, causos e lendas. Lá estava ele cercado de muitas pessoas, tinha até repentistas. Acabei conhecendo a pessoa de João Firmino Cabral, um mestre da literatura de cordel, que tem todas as obras de sua autoria aceitas pelo povo. 

No momento, contava lendas de Lampião, lendo um livreto cujo título é: “Lampião – Herói ou Bandido”. Ouvi com atenção e no final acabei comprando um livreto, com uma dedicatória do João, trocamos cartões e falei da minha paixão também em escrever histórias. Confesso que, de herói, não vi quase nada, a não ser que, em uma ocasião, conta João Firmino, o Padre Cícero Romão Batista lhe mandou um recado que dizia:- Virgulino, meu digníssimo afilhado, venha aqui porque estou de você necessitado; a coluna Prestes quer invadir Juazeiro, saquear nossa cidade, carregar nosso dinheiro, queimar nosso mercado e matar o povo romeiro. Venha urgente com seus homens para nos dar proteção, espero sem falta meu amigo, Lampião. - Vou atender esse pedido, disse Lampião. Entrou na cidade santa e não houve ataque, pois ficaram sabendo que lá estava protegendo a cidade e as pessoas. 

O Prefeito da cidade, em agradecimento, lhe deu o título simbólico de Capitão. Antes de se retirar, saiu cantando pelas ruas: - “O meu nome é Virgulino, mas me chamam Lampião, e agora sou capitão”! Foi criado com mais sete irmãos, três dos quais foram seus companheiros de pistolagem; sabia ler e escrever e ainda tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês e era habilidoso na costura em couros; confeccionava os próprios chapéus e outras indumentárias. 

As armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço, daí o nome de cangaço, que vem de canga, peça de madeira para prender o boi ao carro. Na madrugada de 28 de julho de 1938, em seu acampamento na Grota do Angico, na margem Sergipana do Rio São Francisco, uma tropa de policiais de Alagoas avançou contra o bando de cangaceiros. Foram apanhados de surpresa e não tiveram chance, combateram apenas por alguns momentos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem dos sertões: Virgulino Ferreira da Silva. 

Era o fim da incrível história do pernambucano, pele queimada, cabelos crespos, braços fortes, praticamente cego do olho direito. Foi um “cabra” destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades. O que o levou a essa vida foi o assassinato de seu pai, em 1920, de forma equivocada, por um “volante”. A partir desse dia, ele e mais três irmãos, “juraram vingança” e assim, entraram para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira. Esse bandido, por estar sendo severamente perseguido pela polícia, deixou ao jovem Virgulino, com apenas 24 anos, o comando do grupo. Era o início do lendário Lampião. 

Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga, até que Lampião e seu bando fossem mortos; foram decapitados e tiveram suas cabeças expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas. Lampião estava, então, com 40 anos de idade. Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Quando morreu, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais; apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro. Mas a verdade é que, mesmo depois de sua morte, Virgulino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. Sua extraordinária história leva a crer que nunca o será. Depois de tudo o que ouvi por lá e li a respeito, não poderia finalizar essa crônica sem colocar alguma situação que veio à minha imaginação:

  O lampião e o lamparina

O povo de uma pequena cidade estava cansado de ser atacado pelo bando de Lampião, pois situava na sua rota de fuga e esconderijo; sempre que por ali passavam, arrasavam tudo e faziam com que o Prefeito liberasse seu depósito de mantimentos, que era para ajudar as famílias mais pobres. Além disso, na balbúrdia em que a cidade ficava, as casas eram invadidas, as mulheres violentadas, e ainda tinham que preparar comida para aquelas feras. 

Em uma das vezes, depois que o bando foi embora, o Prefeito contratou uns “jagunços” para defender, daqueles bandoleiros, a cidade e o povo. Ficaram, então, acampados no depósito da Prefeitura, de prontidão, para qualquer eventualidade, pois sabiam que, dentro em breve, Lampião estaria de volta e faria nova estripulia no local. 

O bando chegou perto da cidade e já era noite. Lampião resolveu acampar ali mesmo, ao pé do fogo; chamou um cabra por nome Azulão para entregar um bilhete ao Prefeito: Dizia o bilhete:- Seu filho de uma égua, amanhã, quero cinco contos de réis na minha algibeira e comida para os meus meninos; não tente me enganar, se não lhe corto as orelhas e a língua, seu corno dos infernos. E lá se foi Azulão...

Ao chegar à cidade percebeu alguma coisa diferente: havia em cada entrada, um “jagunço armado”; conversou com um deles e perguntou do que se tratava. - Estamos aqui a mando do Prefeito, para espantar o bando de Lampião. 

Mesmo assim, azulão foi até a Prefeitura e entregou o bilhete. O prefeito lhe disse: - Manda o Lampião ir tomar no rabo, aqui mando eu; venham, se vocês têm coragem, agora tenho proteção. Na volta, azulão contou a situação; Lampião virou uma fera e disse: - Quantos “cabras” tem na vila? - Sei não, capitão, tem gente “escondida”, não sei quantos. - Seu filho da puta, disse Lampião, não serve para nada, e deu um chute na bunda do desgraçado. Então, muito esperto, mandou mais uns “cabras” descerem o morro para ver e analisar a situação. 

Nesse momento, os jagunços do Prefeito perceberam que se tratava de homens de Virgulino. Todos deram no pé e acabou ficando somente o chefe que estava dormindo no galpão e não soube do acontecido. Deixaram o infeliz sozinho para enfrentar, no dia seguinte, o Bandoleiro Lampião. O bando desceu a serra, mas na frente foi “Bico-fino”, irmão de Lampião, verificar como estava o terreno. Voltou em seguida e falou: - Meu irmão, só tem um “cabra”, os outros foram embora. - Então vamos para lá ver a mulherada e encher a pança. 

O bando entrou de supetão dentro da Prefeitura; o “valente” Alcaide, chamou o chefe dos jagunços contratados e disse: - Dê um fim nesses bandidos insuportáveis, aproveitadores de mulheres. O chefe, que já estava sozinho, abriu a janela e chamou a turma: - Venham aqui, vamos acabar com eles. Nada foi respondido. 

Ele então correu para o meio da rua e lá estava Lampião, esperando-o com sua peixeira. O jagunço, até então valentão, começou a urinar nas calças. Lampião disse, então: - Ué seu “veado”, tu não és macho? Sabe com quem está falando? Sou o temeroso Capitão Virgulino, o Rei do Cangaço, e quem é tu? 

Todo encolhido e ajoelhado sob os pés de Lampião, falou: - Sou o Lamparina, o Rei do Cagaço. E assim acabei de criar mais uma “estória” como muitas outras que falam sobre essa fascinante figura que continua viva na memória das pessoas.

 

sábado, 26 de abril de 2025

PALERMO A CAPITAL DA ILHA DA SICÍLIA - ITÁLIA


MAIS UMA TRAVESSIA ATLÂNTICA
Visitamos a encantadora cidade de Palermo, a vibrante capital da Sicília/Itália, marcando a primeira parada de uma emocionante travessia atlântica iniciada em Civitavecchia, um centro vital para o transporte marítimo italiano.

FONTANA PRETORIA

Após desfrutar de uma última vista do hotel, seguimos rumo ao porto, onde nosso transatlântico aguardava ansioso para dar início a uma jornada de 20 dias inesquecíveis. Durante essa aventura, exploramos diversos países até finalmente chegarmos ao nosso querido Brasil, desembarcando em Salvador, Bahia.

O Deslumbrante Porto de Palermo

A costa italiana nos recebeu com braços abertos, revelando sua beleza ímpar. Caminhamos e dirigimos por paisagens de tirar o fôlego, comprovando a fama mundial que a Itália carrega tão merecidamente. Palermo, a maior cidade da Sicília, situada ao sul da "volta da bota" no mapa, é um verdadeiro tesouro cultural e histórico que encantou nossos olhos e nossos corações.

Monte Pellegrino e o Santuário de Santa Rosália

A subida ao Monte Pellegrino foi uma experiência sublime. No topo, nos deparamos com o Santuário de Santa Rosália, padroeira de Palermo, incrustado em uma gruta deslumbrante. A vista panorâmica de lá é simplesmente de tirar o fôlego! Além disso, a história das relíquias da santa adiciona um toque místico ao local.

O Magnífico Palazzo Reale

No nosso caminho, o impressionante Palazzo Reale, também conhecido como Palazzo dei Normanni, surgiu como um marco de grandiosidade. Sede da Assembleia Regional da Sicília, sua fachada renascentista e histórias envolventes reforçaram nossa admiração por este monumento tão importante.

Teatro Massimo: Um Gigante da Ópera

Entre as muitas surpresas, o majestoso Teatro Massimo Vittorio Emmanuele brilhou como uma joia incomparável. Famoso mundialmente e o maior da Itália, sua arquitetura é de encher os olhos. Além disso, o local foi cenário de momentos marcantes do cinema, incluindo uma das cenas mais icônicas de "O Poderoso Chefão III".

Fontana Pretoria: Beleza e Controvérsias

No coração histórico de Palermo, encontramos a elegante Fontana Pretoria, adornada com estátuas nuas que foram alvo de protestos no passado, rendendo à praça o apelido de "Piazza della Vergogna". Um cenário fascinante que misturou história e beleza artística.


Encerramos nosso dia com chave de ouro: apreciamos petiscos deliciosos acompanhados de vinho branco antes de embarcar. Do alto do mirante do navio, assistimos as manobras para deixar o porto, enquanto nos despedíamos da Sicília com vistas maravilhosas e rumávamos à próxima parada: Valência, na Espanha.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

PORTO SEGURO ONDE NASCEU O BRASIL






A cidade foi, oficialmente, o primeiro local onde aportaram os navegantes portugueses comandados por Pedro Álvares Cabral, quando do descobrimento, em 1500. Possui antigos monumentos históricos, além de paisagens naturais de rara beleza ao longo da costa.

Visitar o sítio histórico da cidade alta foi uma emoção muito grande; trouxe, ao nosso presente, momentos vividos por aqueles desbravadores portugueses, coragem e o discernimento dessa grande aventura chamada Brasil, deixando em seu rastro quase que uma obrigação de defendê-lo, em termos de história, para o meu pequeno neto, o Lucas, que nos acompanhou.

Vimos por lá inúmeros turistas em visita ao Monumento Nacional, instituído por decreto presidencial em 1973. Trata-se do primeiro núcleo habitacional do Brasil; além de ostentar o marco do descobrimento, desempenhou papel importante nos primeiros anos de colonização. Os prédios históricos que visitamos durante o dia são apreciados por muita gente à noite, conforme comentários que ali ouvimos, quando sob efeito de iluminação especial.

Iniciamos o passeio pelo marco do descobrimento de onde se descortina uma das mais belas paisagens do litoral. O marco veio de Portugal, entre 1503 e 1526, e simbolizava o poder da coroa, utilizado para demarcar suas terras. Tudo em pedra de cantaria, de um lado está esculpida a cruz da Ordem de Aviz e, de outro, o brasão de armas de Portugal.

Na mesma área está a igreja de Nossa Senhora da Penha, construída em 1535 pelo donatário da capitania, Pero do Campo Tourinho. Aí estão guardadas imagens sacras dos séculos XVI e XVII, entre elas a de São Francisco de Assis – primeira imagem trazida para o Brasil. Para se ter uma ideia de como era a capitania do século de Tourinho e a chegada dos jesuítas, basta ler alguns trechos das cartas escritas por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, padres da Companhia de Jesus, sobre a espetacular região.

Mais adiante, o Paço Municipal ou a Casa da Câmara e Cadeia, datada do século XVIII, uma das mais belas construções do Brasil colônia, ostentando uma arquitetura invejável para a época. Nesse prédio funciona, hoje, o Museu Histórico da cidade ou museu do descobrimento de onde compilei inúmeras informações para essa crônica. A igreja da misericórdia ou, como é chamada pelo funcionário do museu, “Igreja do Senhor dos Passos”, de estilo singelo, muito bonito, guarda imagens barrocas de um teor de inigualável beleza, destacando-se o Senhor dos Passos e um Cristo crucificado.

Ainda nesse meio de um visual gracioso, está o casario tombado como monumento nacional; e a igreja de São Benedito, ao lado das ruínas da antiga residência e o colégio dos jesuítas, dá um ar de imponência e respeito a um passado recente do jovem país que é o Brasil. Certamente dentro de algumas décadas sem dúvida, será uma das principais potências mundiais.
Em termos de defesa do patrimônio, os patrícios ergueram o primeiro fortim em 1504, edificado sob a égide de Gonçalo Coelho e reforçado no século XVIII.

Outros passeios realizados foram de espetacular grandeza e beleza, destacando-se dois deles: o primeiro no parque das águas, onde pudemos descarregar as emoções e aprimorar a esperteza, pois realizamos grandes aventuras pelas águas “calientes”. Em um dos momentos de caminhadas, constatei uma tribo de índios pataxós exibindo-se sob um imenso quiosque, despertando enorme curiosidade e alegria com suas danças tribais.

O clímax dos passeios certamente foi o da chalana, onde pudemos reunir todos os viajantes. A alegria foi contagiante, tendo como pano de fundo o simpático “tatu”, o homem das mil caras, com seus disfarces e vestimentas espalhafatosas, causando um furor nas pessoas, de dar inveja aos que não fazem o magnífico passeio. Foi entrelaçado de fatos pitorescos, como o “monstro do mangue”, anunciado como um gigante de 2,20 metros que emergia de suas águas barrentas, vindo assustar as pessoas, na embarcação. Mas o que vimos, foi à minúscula figura do Tatu disfarçado de monstro, proporcionando imensas gargalhadas aos presentes.

Outro momento engraçado foi após o almoço, às margens do belo rio, onde todo embarcado pôde ouvir sons do saudoso Michael Jackson. O som foi entrecortado com um anúncio de que ele estaria ali em forma de música e, para o nosso espanto, saiu, do restaurante, uma figura saltitante e com uma vasta cabeleira. Quem era? Oh! Era novamente o Tatu em forma de Jackson, pulando e esbanjando categoria com o “passo da lua”.

Enquanto alguns apreciavam a bagunça, outros admiravam a bela natureza, proporcionando momentos de rara magia em seu panorama verdejante e aquoso, deixando saudades para sempre... 

O clima que nos acompanhou foi sempre de verão, apesar de estarmos no inverno; lá é sempre quente, com picos de 42 graus e ameno no inverno, com média de 25 graus e mínimas de 15. Nos meses de julho e agosto, a possibilidade de chuva é maior, como aconteceu naquela noite no Toa Toa. Deslumbramo-nos também com a Passarela do Álcool e seus famosos drinks “capetas” e lojas de artesanatos, onde as mulheres se deliciaram com o visual e as compras.

Para finalizar, digo que o local conta com um extenso litoral, cerca de 90 km de praias magníficas como a de Trancoso, Coroa Vermelha e Arraial de Ajuda. Sempre com uma areia muito fina e branca e sem nenhum tipo de poluição (que continue sempre assim), está dividido pelo rio Buranhem, que conta com cerca de 500 metros de largura, por onde navegam as balsas.

A cidade é considerada um dos mais importantes pontos turísticos do Brasil, recebendo turistas de todos os estados brasileiros e de estrangeiros.

conheça outros textos formatados em meu site:

POR UM PAÍS MELHOR



CULTIVAR A ÉTICA O RESPEITO E A SOLIDARIEDADE


A educação é uma ferramenta essencial para transformar vidas e moldar um futuro mais promissor. Ela começa em casa, no afeto e nos valores transmitidos pela família, e se enriquece através do conhecimento, da convivência e do conteúdo aprendido nos bancos escolares. É o alicerce para um mundo repleto de oportunidades.

Uma pessoa que recebe uma base sólida de educação no ambiente familiar e tem acesso a uma formação escolar de qualidade tem um potencial extraordinário para impactar positivamente sua família, sua comunidade, sua cidade e até mesmo o mundo. Isso vai muito além de alcançar sucesso profissional ou financeiro; trata-se de cultivar ética, respeito, solidariedade e o cuidado com os outros, com o bairro, com a cidade e com o país.

Educação bem fundamentada não apenas abre portas, mas também constrói pontes para uma sociedade mais justa, igualitária e repleta de esperança. Juntos, podemos sonhar, realizar e construir um amanhã brilhante!


 

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O CAMINHO ERRANTE DO CAIPIRA PIRAPORA

O INÍCIO DE UMA LONGA JORNADA

A história da fundação de Bom Jesus de Pirapora remonta a 1725, quando alguns pescadores encontraram no rio Tietê uma imagem do Cristo, hoje disposta no santuário sobre uma pedra à beira do rio. Esse evento singular marcou o início da vila que mais tarde se tornaria a cidade.

De origem missionária, Bom Jesus de Pirapora começou como um vilarejo com forte papel religioso, tornando-se posteriormente destino preferido de romeiros atraídos pela fé e pela tradição. Seu nome, “Pirapora”, vem do tupi-guarani e significa “peixe que pula em águas limpas” — um cenário que, infelizmente, hoje está apenas na memória, já que os peixes desapareceram e as águas límpidas ficaram no passado.

O avanço desordenado trouxe um panorama desolador para quem atravessa a ponte sobre o rio ao se aproximar da cidade. A espuma química das indústrias flutua como icebergs, acompanhada de um cheiro nauseante de esgoto, tornando irreconhecível a beleza que antes encantava.

Mas vamos voltar ao passado! Ah, Pirapora dos tempos de adolescência, das romarias que partiam de lugares remotos, com familiares e amigos, enfrentando a jornada de 40 quilômetros com diferentes formas de locomoção: a pé, de bicicleta ou a cavalo.

Minha primeira romaria foi com primos que moravam na emblemática Rua Zacarias de Góes, reduto das famílias italianas. Optamos pelas bicicletas, o transporte que estava em alta na época. A aventura começou no Largo de Santa Cruz, onde o padre deu sua bênção coletiva aos romeiros. Equipados e animados, a estrada de terra nos aguardava, com um acampamento no famoso "Capão da Onça" programado para o meio da jornada.

Entre subidas e descansos, piadas para animar os menos dispostos, e lanchinhos preparados pelas mamães, a poeira levantada pelos tropeiros nos motivava a competir e ultrapassá-los. Ao cair da noite, chegamos ao Capão da Onça, onde o descanso foi interrompido pela sanfona e viola dos cavaleiros, o cheiro insuportável de bosta de cavalo e a sinfonia de suspiros intestinais dos animais. A noite foi marcada por histórias de medo e cansaço.

No ano seguinte, decidimos repetir a jornada, mas dessa vez montados a cavalo. Nosso plano? "Assustar" o contador de causos do Capão da Onça com um "fantasma". A preparação envolveu gravador com rugidos de onça e Nelsão Maluco, nosso ator principal, vestido de lençol branco. No auge da narrativa, rugidos ecoaram e provocaram pânico, mas um romeiro armado disparou para o mato, ferindo Nelsão, e nossa brincadeira terminou em correria e hospital.

Desde então, nunca mais participamos de romarias. Hoje, ao ouvir a música "Sou caipira Pirapora" de Renato Teixeira, esses momentos vêm à memória com gratidão por nada pior ter acontecido.

O retorno de vocês, leitores, me motiva a buscar sempre o melhor.

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 Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história. E é essa jornada de aprendizado e aperfeiçoamento que desejo compartilhar com vocês.

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A "PRACA" do PREFEITO DA CIDADE.

lendas e mitos urbanos


Durante muitos anos, alimentava o desejo de viver uma pequena temporada em um hotel fazenda. Após muitas pesquisas em sites especializados, deparei-me com um local que atendia exatamente às nossas expectativas. Fizemos as malas e partimos rumo a uma cidadezinha remota, em busca de nosso destino.

À medida que o cenário se desenrolava diante de nossos olhos, acompanhávamos atentamente o GPS, garantindo que estávamos no caminho certo. Algumas horas depois, a voz do dispositivo nos orientou: "Siga pela estrada de terra". O aviso trouxe um curioso ar de antecipação, como se algo inesperado nos aguardasse.

Foi então que, ao lado da estrada, surgiu um menino trajando apenas um calção, segurando uma vara de pescar. Paramos e perguntamos:
– Onde fica o Hotel Fazenda chamado "O Último Berro"?
– Sei não, seu moço. Só vou pescar no rio ali adiante – respondeu com desinteresse.
– Não tem por aqui um hotel antigo que hospeda pessoas? – arrisquei novamente.
– Ospeida? O que é isso? Não sei não. Só vou pescar e levar os peixes lá pra dona do casarão. Vocês vão lá? Tudo lá é mal-assombrado. Meu pai trabalhou lá e ficou todo quebrado, diz que saiu correndo com medo do fantasma do antigo dono. Naquele tempo, o tal coronel Biguá Dente de Ouro mandava em tudo e possuía muitos escravos. Agora meu pai trabalha na oficina ali, lá perto de onde eu moro.

A conversa deixou uma sensação inquietante no ar, mas seguimos o trajeto. Encontrar o local revelou-se uma tarefa difícil; tudo parecia deserto e envolto em uma atmosfera de estranheza. Seria mesmo assombrado?

Antes de chegar, cruzamos uma pequena propriedade com uma porteira peculiar: apenas dois mourões sem a parte móvel que a sustentava. No topo de um dos mourões, uma placa desgastada indicava que ali funcionava uma oficina de conserto de carros – certamente do pai daquele menino. A cena era tão singular que decidi fotografá-la. Contudo, ao me aproximar, um cão enorme correu em minha direção, feroz. Não tive alternativa senão retornar ao carro apressado, deixando a foto para trás. Mesmo assim, as palavras da placa ficaram gravadas em minha memória.

Mais adiante, passamos por uma pracinha minúscula, quase esquecida pelo tempo. Ali, uma outra placa destoava completamente de qualquer padrão:

"Proibido jogá lixo nesce local. Multa di R$ 500,00. Por ordem do sinhor prefeito."

A escrita grotescamente errada era intrigante e despertava um misto de curiosidade e desconforto. Alguém teria deixado aquela placa propositalmente, como um aviso ou brincadeira macabra? O mistério apenas crescia, fazendo aquele lugar parecer ainda mais inusitado.

Ao finalmente chegarmos ao casarão/hotel, a inquietação continuava. Conversando com uma funcionária, perguntei sobre a propriedade e as curiosas placas que havíamos encontrado pelo caminho. Ela me respondeu:
– Ah, aquele era o lugar onde o Coronel Dente de Ouro maltratava os escravizados. Vocês viram o Dente? Dizem que é ele quem vem assustar os clientes à noite. O Coronel morreu há anos, mas as histórias dizem que ele e o neto aparecem em noites de lua cheia, com aquele sorriso sinistro e o brilho do dente refletindo. Foi assim que o carro do neto caiu na ribanceira, e ele também morreu... Lá não resta mais ninguém.

Nota do Autor
Lendas e mitos urbanos são pequenas histórias de caráter fabuloso ou sensacionalista muitas vezes com elementos de mistérios ou também com temas horripilantes, amplamente divulgadas pelos personagens da velha guarda, de forma oral, que constituem um tipo de folclore moderno. 

                  

Veja outros contos e crônicas clicando no link abaixo:

Toninho Vendramini Slides - Sergrasan



quarta-feira, 23 de abril de 2025

MULHERES QUE A GUERRA APRISIONOU




Prólogo

A narrativa que coloco abaixo é o resultado de uma peça teatral que assisti a convite de minha concunhada, que também era uma das personagens da história. O desenvolvimento tinha como pano de fundo um gueto, em que as mulheres estavam confinadas e submetidas a trabalhos forçados pelo regime de um ditador, que, ao dar inicio à sua política expansionista, previu que uma guerra teria de acontecer e se preparou para isso.
 
Não se contentou em anexar à Áustria, sua intenção era dominar toda a Europa. Começava assim, com a Segunda Guerra Mundial devastando grande parte do continente. As mulheres Judias foram amontoadas em barracões cercados por arame farpado.
 
A situação tornou-se cada vez mais insuportável com a introdução de regulamentos, leis racistas, proibições e segregações. As sobreviventes recordam no palco, momentos passados naqueles dias, quando sete oito pessoas viviam em poucos metros quadrados, não havia respeito, imperando a truculência das guardas femininas, transformando um cenário monstruoso, contaminados pela fome, aperto e frio intenso.
 
 
3945 - O meu Poema.
Do Começo ao Fim
 
Família desfeita
Trabalhos forçados
 
Corpos usados e cansados
Pesadelos noturnos
 
Esperança tolhida e esquecida
Cercas farpadas
 
Mãos dilaceradas
Choque intermitente
 
Arame zunindo ao vento
Sons de esperança
Sonhos de liberdade
 
 
Epílogo
 
As luzes no local da apresentação se acendem, ouve-se um som sublime com a Lua prateada refletindo no rio; é a música Moon River que invade o recinto. As personagens com o semblante impávido e ainda amadoras, contando suas histórias ficam emocionadas ao ver a platéia aplaudir o resultado de seus esforços, de ensaios exaustivos e efusivos, ficando com uma sensação maravilhosa em seus sorrisos, enaltecendo a alma de artista.
 
Cada personagem tem nas mãos uma rosa vermelha, que vão despetalando, representando as mulheres judias ausentes, que foram levadas pelas circunstancias, encerrando assim, o espetáculo naquela noite memorável.
 
Há uma interação com o público, falam de suas experiências e a alegria de contracenar; sobe ao palco o autor, que agradeceu a participação de todos em um momento inesquecível.
 
As cenas apresentadas mostraram o holocausto, que foi uma das grandes catástrofes que afligiram toda a humanidade. Muitos ainda não acreditam nas atrocidades praticadas durante a Segunda Grande Guerra, onde foram constatadas terríveis crueldades cometidas num campo de concentração. Esta, talvez, seja uma história de dor ou de amor, como muitos irão afirmar, porem é mais que isso, é um esclarecimento, para que, através dos erros, a humanidade aprenda a amar e não errar mais.
 

terça-feira, 22 de abril de 2025

AS FAÇANHAS DO - "CORONé" - GALO PRETO

O Coroné Safado 


Em uma importante cidade do interior de São Paulo, região de extensas plantações de café reconhecidas por sua qualidade excepcional, os grãos eram disputados por compradores do ramo, transformando-se na famosa bebida conhecida no Brasil e mundo afora. Negociantes internacionais frequentemente visitavam o local para adquirir as safras, enquanto os fazendeiros da região se reuniam em uma espécie de bolsa cafeeira, onde os preços eram estabelecidos e cotados em dólar. Grande parte da produção era exportada, deixando pouco para consumo interno.

À frente dessas reuniões, estava o temido Coronel Tertuliano Telles Noronha Mangabeira, conhecido como Coronel Galo Preto. Nascido em Pernambuco, o apelido veio de sua reputação de bravura e liderança entre seus jagunços. Ele resolvia problemas de forma imediata, não hesitando em delegar punições ou eliminar adversários.

Essas reuniões, que contavam com a presença dos cafeicultores da região, eram lideradas pelo coronel, então presidente da bolsa cafeeira estadual. Dotado de um corpanzil imponente, o coronel tinha hábitos bastante peculiares. Sentava-se na cabeceira da mesa com os bolsos recheados de pedaços de frango e bolinhos de bacalhau, que devorava enquanto limpava a gordura na gravata. Depois, acendia seu charuto e soltava baforadas que impregnavam o ambiente com uma fedentina insuportável. Apesar do desconforto, os produtores suportavam tudo em busca da aprovação dos preços.

Sua postura grosseira não parava por aí. Ao fumar, pedaços de fumo ficavam em sua boca e, para aliviar, ele pigarreava e cuspia no chão até que o zelador providenciou uma escarradeira para conter os estragos. As cadeiras pesadas de madeira maciça arrastavam-se pelo assoalho sempre que alguém se levantava, causando barulho ensurdecedor. E o coronel, frequentemente com a barriga cheia, tinha o hábito de soltar discretos, porém malcheirosos, peidos durante as reuniões. Para disfarçar, ele alegava que os sons vinham do arrasto de sua cadeira.

Nas reuniões com estrangeiros, o zelador advertiu o coronel sobre seus hábitos desagradáveis. Porém, em um momento inesperado, o coronel soltou um peido ensurdecedor e sem cheiro, causando escândalo. Ele insistiu que o barulho era causado pela cadeira, mas os participantes já desconfiavam de sua estratégia. O zelador, então, pregou sua cadeira no assoalho, deixando o coronel sem alternativas para disfarçar.

Quando chegou o dia da reunião final, o coronel, ao comer seu habitual frango, foi acometido por um novo episódio. Tentou disfarçar, mas sem sucesso: o peido soou alto e todos perceberam. Furioso, ele descobriu que o zelador havia pregado a cadeira. Pouco depois, o coronel ordenou que seu jagunço punisse o zelador, que nunca mais foi visto.

O Coronel Galo Preto faleceu dias depois, e no sepultamento, o zelador “apareceu” para revelar a verdade aos presentes. Após sua morte, as reuniões nunca mais foram as mesmas. A sede foi transferida para a capital, e as histórias sobre os peidos e peculiaridades do coronel tornaram-se lendárias, arrancando gargalhadas daqueles que as relembravam.


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Toninho Vendramini Slides - Sergrasan

  

segunda-feira, 21 de abril de 2025

CHICÃO, O ETERNO BOLEIRO E SUAS PÉROLAS INESQUECÍVEIS

                           A GORDUCHINHA BEIJOU A REDE...


Chicão foi aquele tipo de jogador genuíno, o "boleiro raiz", que conquistava a torcida mais pelo carisma do que pelo talento. Atuou em um dos grandes clubes de São Paulo, mas, como acontece com todos os atletas, o tempo lhe cobrou o preço. Sua técnica já não era a mesma e, no final da carreira, encontrou espaço em um clube menor do interior, ainda na divisão principal. Mas isso não diminuiu seu brilho—pelo contrário, tornou-se ídolo local.

Jogando como volante, era peça fundamental na organização das jogadas, distribuindo a bola pelo meio de campo. A torcida adorava seu estilo aguerrido e, especialmente aos domingos, as moças suspiravam com sua presença em campo. O carinho da torcida era tão grande que ele recebia flores antes dos jogos, gesto que retribuía com simpatia e elegância. Sempre atento aos fãs, fazia questão de dar atenção especial às crianças que o abordavam pedindo um cumprimento ou um afago.

Mesmo com dificuldades na expressão verbal, sua espontaneidade compensava qualquer problema com as palavras. Nas entrevistas, ele arrancava risadas, e foi justamente essa autenticidade que o ajudou a construir sua aura lendária.

De boleiro a político—ou quase

A fama extrapolou os limites do futebol e Chicão decidiu se aventurar na política. Sua popularidade garantiu uma enorme quantidade de votos, tornando-se vereador da cidade. No entanto, sua vocação para a política era bem menor do que sua paixão pelo futebol. Faltava a muitas reuniões porque preferia estar nos gramados, e sem projetos concretos, sua carreira política teve vida curta.

Mas foi nos microfones que seu carisma se revelou ainda mais. Suas entrevistas geraram momentos icônicos, como quando um repórter pediu que ele saudasse o público e ele respondeu com toda simplicidade:
"Boa noite, microfone!"

Ou quando, lesionado e impossibilitado de jogar, gritou palavras de incentivo ao seu substituto no alambrado e garantiu:
"Comigo ou sem-migo, o time vai ganhar!"

A cidade inteira repetia suas frases como bordões! E quando sua equipe jogou em Belém do Pará, soltou outra pérola histórica:
"É uma satisfação muito grande jogar aqui nesta terra onde nasceu Jesus Cristo!"

Da bola ao microfone—e a confusão que virou lenda

Após o fim da carreira, o clube tentou ajudá-lo conseguindo um emprego em uma rádio esportiva, onde começou como assistente de repórter. Seu entusiasmo era enorme, e ele gostava de estar próximo ao campo, vivendo intensamente cada jogo. Mas seu jeito irreverente também gerou episódios memoráveis.

Certa vez, substituindo um repórter que teve uma emergência intestinal durante uma transmissão, foi chamado para descrever uma jogada e soltou sem pensar:
"Nosso lateral tem pé de bosta, se fosse eu teria feito o gol."

O coordenador correu para alertá-lo, pedindo para ter cuidado com as palavras. Mas Chicão era Chicão—e sua espontaneidade era incontrolável. Durante uma tempestade que interrompeu um jogo, ouviu o locutor dizer:
"Chove torrencialmente pelos quatro cantos do gramado."

E completou sem hesitar:
"Inclusive no meio!"

Mas foi seu último erro no microfone que selou seu destino. Ao ser chamado para ajustar o som da transmissão, sem perceber que estava no ar, disparou:
"Aqui embaixo é uma merda só! É choque para tudo quanto é lado, até meu rabo tá pegando fogo!"

O presidente da rádio, furioso, dispensou Chicão e toda a equipe envolvida naquele desastre de transmissão. Com o tempo, os patrocinadores abandonaram a emissora, e as frases do Chicão viraram folclore na cidade, sendo contadas e recontadas como verdadeiras pérolas do futebol.

Curiosidades sobre Chicão

  • Seus bordões eram citados até na capital, ganhando espaço em colunas esportivas de jornais.

  • Mesmo sem grandes habilidades políticas, seu carisma conquistava os eleitores, que ainda lembram dele com carinho.

  • Após sua saída da rádio, ninguém soube seu paradeiro, tornando sua história uma verdadeira lenda urbana.

A trajetória de Chicão é uma mistura de paixão pelo futebol, espontaneidade e humor involuntário. Um personagem marcante, que deixou sua marca no esporte e na cultura popular de sua cidade!

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domingo, 20 de abril de 2025

UMA DESPEDIDA SOB O LUAR E A TEMPESTADE


UM RELÂMPAGO RESGOU O CÉU

Era uma noite escaldante de verão. A lua cheia lançava sua luz prateada sobre a janela aberta daquele ranchinho, já castigado pelo tempo. O vento começou a soprar forte, anunciando a chegada de uma tempestade, e os estalos da madeira misturavam-se ao som dos trovões distantes.

No interior do quarto simples, sobre um colchão de palha sem nenhuma coberta, repousava um velho caboclo. O rangido da janela contra a parede de taipa ecoava pelo espaço, fazendo o reboco se desprender e se espalhar pelo chão de terra batida. Cada ruído despertava memórias de um tempo que parecia tão distante, mas que ainda ardia em seu peito.

Um relâmpago rasgou o céu e, por um breve instante, iluminou seu rosto marcado pelo tempo. As rugas contavam histórias de luta, de dias árduos sob o sol, de noites frias nas campinas. A idade pesava sobre seu corpo, suas pernas já não tinham o vigor de antes, mas sua mente permanecia lúcida, vagando entre lembranças que se recusavam a partir.

Mergulhado no passado, ele revivia os dias de vaqueiro—tempos que hoje são apenas poeira levada pelo vento. Seus olhos, marejados de saudade, fitavam o nada enquanto resgatava imagens de companheiros que compartilharam sua jornada, de laços forjados na dureza da lida. Gostava daquela vida. Amava sentir a brisa da manhã e o calor do gado selvagem em movimento, sua viola sempre a postos para entoar versos que nasciam do coração.

No canto do quarto, sob os pés de um cachorro magro—seu último companheiro de solidão—jaziam as cordas emudecidas da velha viola. O tempo parecia se curvar diante de suas recordações quando, de repente, um som do lado de fora o fez despertar: o trotar de um cavalo. Não era um simples ruído; era um chamado.

Uma força misteriosa começou a elevá-lo. Seu corpo frágil desprendia-se da cama como se fosse guiado por algo invisível. Uma sonolência inebriante o tomou, mas, ao mesmo tempo, sentiu uma leveza inexplicável. Flutuou até a porta, e com um esforço suave, conseguiu abri-la.

O que viu do lado de fora o deixou sem fôlego. A tempestade havia se dissipado, dando lugar a um dia radiante. O céu azul, pontuado por nuvens brancas, estendia-se infinitamente. Ali, entre as brisas que dançavam, ele avistou a alma de um velho companheiro: seu cavalo Pingo. O corcel, outrora destemido, havia sido ceifado por uma chifrada em plena perseguição a um boi. Agora, surgia diante dele transformado, altivo, alado, exalando bafos que se transformavam em flocos de neve no ar.

Pingo relinchou e, com um movimento de cabeça, convidou-o a montar. O velho caboclo não hesitou. Ao se aproximar do magnífico animal, sentiu seu corpo rejuvenescer, transformando-se novamente em um menino. Com a mesma alegria de outrora, saltou para o dorso do cavalo e, juntos, partiram rumo ao passado.

Voaram sobre paisagens familiares, sobre aquelas boiadas que tantas vezes conduziu. Em um rasante, viu as terras onde bravamente percorreu sob o sol abrasador, sob chuvas torrenciais, sob ventos impiedosos. Estava novamente inteiro, radiante.

Em meio à euforia, pediu a Pingo que pousasse diante de sua antiga escola, sob a sombra da velha paineira. Desceu do cavalo, recostou-se contra o tronco frondoso e, com um último suspiro, fechou os olhos para sempre.


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ZEZINHO MUÇAMBÊ O ARTESÃO E FOTÓGRAFO DE MIL FACES


UM CONTO INSPIRADO
 EM UM PERSONAGEM QUE VIVEU EM ALGUMA CIDADE DO INTERIOR

José Epaminondas de Albuquerque Martins, ou simplesmente Zezinho, partiu do Nordeste com um sonho: transformar sua vida em São Paulo. Com a bênção de sua mãe e o coração apertado por deixar o pai e os oito irmãos, ele seguiu viagem, carregando apenas uma matula e uma imensa vontade de vencer.

 

Desde cedo, Zezinho demonstrava talento. Em sua terra natal, criava peças de artesanato que encantavam nas feiras dominicais. Suas mãos habilidosas e sua imaginação fértil transformavam materiais simples em verdadeiras obras de arte. Mas ele queria mais. Inspirado pelo fotógrafo lambe-lambe da praça, sonhava em aprender a capturar momentos e eternizá-los em imagens.

 

Ao chegar à metrópole, Zezinho se deparou com desafios. Conseguiu um ponto na praça, onde expunha suas peças em caixotes improvisados. Para complementar a renda, fez sociedade com um mascate e comprou uma câmera fotográfica. Assim, entre o artesanato e as fotografias, começou a construir sua reputação.

 

Foi nesse vai-e-vem que conheceu uma mulher com quem dividiu teto e aflições. Mas a relação azedou ao descobrir que ela se prostituía enquanto ele trabalhava. Desiludido, Zezinho aceitou a proposta de um fotógrafo profissional, Sr. Cícero, para trabalhar em seu ateliê no interior. Lá, ele aprimorou suas técnicas e ganhou o apelido de "Zezinho das Artes", por nunca abandonar o artesanato.

 

Com o tempo, Zezinho abriu seu próprio negócio, inovando com fotografias coloridas e cobrindo eventos sociais, esportivos e religiosos. Tornou-se figura conhecida, participando de carnavais e campeonatos, e até colaborava com o jornal local. Mas sua saúde começou a dar sinais de alerta. Uma tosse persistente o incomodava, e ele recorria a um xarope caseiro de muçambê, que carregava em um frasco no bolso. O hábito lhe rendeu um novo apelido: "Zezinho Muçambê".

 

Apesar do sucesso, o destino foi cruel. Em um dia chuvoso, Zezinho não apareceu para trabalhar. Preocupado, um funcionário foi até sua casa e o encontrou sem vida, ao lado do frasco de muçambê. O velório foi marcado por homenagens emocionadas, mas o enterro virou um caos. Uma chuva torrencial interrompeu o cortejo, e o caixão foi abandonado na rua. Vagabundos o arrastaram para uma barraca de flores, e a polícia, sem opções, deixou o corpo ali até o dia seguinte.

 

Na manhã seguinte, o caixão havia desaparecido. O mistério permanece até hoje, alimentando histórias de assombração e curiosidade na cidade. Zezinho Muçambê, com sua vida cheia de altos e baixos, deixou um legado de talento, resiliência e um enigma que nunca será desvendado.





A INSENSATA MORDAÇA

  O SUPLÍCIO DE UM EXÍLIO Uma crise se instalou. Povo assustado! Revolta estudantil. Para mudar o país. A força da caserna se apresentou. Av...