Foi numa das minhas visitas ao Rio de Janeiro que esse texto nasceu. Eu e minha esposa havíamos desembarcado de um transatlântico vindo da Europa, direto no velho porto da cidade — aquele mesmo que, décadas atrás, era reduto de figuras lendárias, boêmias e cheias de ginga. Caminhar por ali foi como atravessar um portal: o cheiro do mar, os prédios antigos, os ecos de um tempo em que o samba ainda se escrevia em papel de pão e a malandragem era uma arte.
Durante as primeiras décadas do século XX, o Rio vivia uma transformação urbana acelerada. A especulação imobiliária empurrava populações para os morros, criando favelas que redesenhariam o mapa da cidade. E foi ali, entre becos e ladeiras, que o samba encontrou novos lares e vozes — subindo as encostas e se espalhando pelos subúrbios com força e identidade.
O bairro do Estácio de Sá, em especial, tornou-se um celeiro de talentos e inovações. De origem popular, com forte presença de pretos e mulatos, o Estácio foi o berço dos “antigos malandros” — homens vistos com desconfiança pelas elites, mas que carregavam uma elegância própria, uma esperteza refinada e um gosto musical apurado. O malandro daquele tempo não era apenas um personagem da boemia: era também um artista, capaz de compor um samba inspirado no simples deslizar de uma mulata pela calçada.
E foi ali, naquele bairro que ainda guarda ecos do passado, que viveu o último deles.
O Último Malandro — Meu Poema
É de manhã no último reduto
Sol a pino, como manda o figurino
O botequim abre suas portas Para receber o famoso malandro!
Chega cheio de pose e prosa...
Terno de linho branco, rosa na lapela Chapéu panamá com moldura preta Sapato bicolor, salto carrapeta Passos cadenciados na chegada Saúda o velho garçom no balcão Naquelas gírias, com fala macia Senta-se à mesa de sempre Pede uma cerveja Joga um gole para as almas — Epaminondas... Cadê o repórter? — Aí do seu lado, mestre — Trouxe a grana? Que bom... Agora vou falar...
Fui boêmio cheio de bravata Do tempo da gravata Também bacana, lá de Copacabana Amigo da noite e de Noel Com jeito moleque Do samba de breque Do tempo em que se escrevia música no papel De embrulho ou de pão — e com a mão!
Recinto ritmado e perfumado Morena carioca rebolando Tudo preparado Para despertar o velho malandro Ficou em polvorosa Vendo aquela diva gostosa Velhos tempos...
Água na boca Inspiração divina Rabiscos no guardanapo Versos benditos, samba-enredo Escolas na avenida Nos dias de glória No bairro do Estácio...
Ainda ecoa sua história.
🎩
“Escrevo
como quem recolhe o tempo com as mãos.”
“Cada
linha é um gesto contra o esquecimento.”
“O
silêncio também tem voz — e às vezes, ela escreve comigo.”
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