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terça-feira, 14 de outubro de 2025

ILHÉUS: ENTRE CACAU E MISTÉRIOS



VOCÊ VAI VER DETALHES DOS BORDEIS DOS CORONÉIS. ´
 estátua de Jorge Amado

Nossa jornada nos levou a Ilhéus, a cidade que respira cacau e literatura, imortalizada por Jorge Amado. Atracamos em seu porto após cruzarmos o Atlântico, prontos para descobrir os mistérios que o tempo escondeu entre suas ruas 
e casarões.

"Quer saber mais? Clique no negrito das palavras."

Dizem que, se você nunca leu Gabriela, Cravo e Canela, ao pisar nesta cidade será inevitável: o romance está por toda parte. Hotéis, restaurantes e bares ostentam nomes retirados do livro, como se fossem personagens vivos que ainda percorrem as noites tropicais. O cheiro doce do cacau paira no ar, misturando-se ao sal da brisa marinha. As ruas de pedras antigas refletem o sol escaldante, enquanto o ritmo tranquilo da cidade convida à contemplação.

Casa da Cultura

No casarão neoclássico onde Jorge Amado passou a infância, as paredes guardam lembranças e história. A grandiosidade do imóvel, com pé-direito elevado e piso de jacarandá, remete aos tempos áureos do cacau. Convertido em museu, o local preserva trajes, documentos e vídeos sobre a vida do escritor. Cada cômodo parece conter um pedaço da alma do autor, como se suas histórias ainda flutuassem pelo ambiente.

Olha Nóis Aí.

Bar Vesúvio

O mais tradicional restaurante da cidade, ativo desde os anos 1920, mantém seu charme e sabor. Aqui, sentamos ao lado da estátua de Jorge Amado e lemos sua frase gravada no banco: “Baiano é um estado de espírito”. O perfume do café recém-passado se mistura ao aroma das especiarias dos pratos típicos. É impossível não imaginar as conversas que ecoavam naquele espaço, entre comerciantes, fazendeiros e viajantes.

Bataclan – O Bordel dos Coronéis

Há lugares onde o passado se recusa a desaparecer. Entrar no Bataclan é sentir que as paredes ainda sussurram segredos. O chão antigo, de madeira rangente, parece murmurar lembranças de noites longínquas. O cheiro levemente adocicado do perfume antigo ainda paira no ar, misturado à história que nunca se perdeu. Foi lá que Maria Machadão fez história: poderosa, amiga dos coronéis, e dona da casa mais disputada da cidade.

Mas entre as noites de festa e luxúria, havia um segredo. Subindo uma escadaria nos fundos do prédio, encontramos um contador de histórias, sentado no antigo quarto de Maria Machadão. Em voz baixa, ele nos revelou:

"Os coronéis subornavam o padre para prolongar a missa e diziam às esposas que iriam tratar de negócios no Bar Vesúvio. Mas no fundo do bar existia uma passagem secreta que levava direto ao Bataclan..."

O sino da igreja, tocado pelo padre, era o sinal para que voltassem ao Vesúvio e recuperassem suas máscaras sociais. O bordel viveu seus dias de glória até os anos 1940, desaparecendo depois. O prédio foi esquecido, mas Jorge Amado garantiu que sua história jamais fosse apagada.

Tombado como patrimônio histórico, o Bataclan renasceu em 2004, reformado para abrigar um restaurante e espaço cultural. Muitos dos detalhes originais foram preservados, ainda que a falta de registros tornasse o trabalho desafiador. Uma curiosidade que poucos conhecem é que, durante a reforma, alguns objetos foram encontrados escondidos entre as vigas e paredes – pequenos frascos de perfume, antigos sapatos femininos e até notas escritas à mão, testemunhos silenciosos de um tempo que se recusava a ser esquecido.

Até hoje, há quem jure ter visto sombras se movendo pelos corredores do Bataclan, como se espíritos das antigas noites ainda habitassem o prédio. Para alguns, é apenas imaginação. Para outros, uma prova de que certos segredos jamais desaparecem.

Outros Encantos de Ilhéus

Além do centro histórico, o interior da cidade remete a Tieta do Agreste, com suas paisagens de areia branca e coqueirais. A história das fazendas de cacau também é lembrada, repletas de riqueza e desigualdade. Até que a praga Vassoura de Bruxa devastou as plantações, levando Ilhéus a reinventar-se.

E para aqueles que buscam um refúgio paradisíaco, a Praia Pé de Serra, quase intocada, aguarda os amantes da natureza com seu mar esmeralda e vastas faixas de areia. O som das ondas quebrando na costa e o vento balançando suavemente os coqueiros criam um cenário perfeito para aqueles que desejam se perder na beleza natural do sul da Bahia.

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 Às vezes, basta abrir a janela para viver uma história. 

Antonio Vendramini Neto

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A JANELA DA VIDA


Ciclos vividos pela personagem através da janela que a conecta ao mundo.

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"O negrito nas palavras do texto é só o começo. O clique revela o mundo."


Era uma pequena cidade do interior, daquelas com uma única rua calçada e todas as outras de terra batida. Ali se concentravam o comércio, o correio e o ponto de ônibus, que fazia uma viagem semanal rumo à cidade grande.


Essa rua desembocava numa praça em frente à igreja. Nela, havia um casarão pertencente a um comerciante. Sua filha, muito bonita, era mantida reclusa em casa, observando a vida pela janela.


Mantinha esse mirante sempre florido, nutrindo a esperança de que algum rapaz viesse cortejá-la.

Antes mesmo do dia clarear, já se encontrava pronta, regando as flores da soleira e recebendo cumprimentos e saudações dos moradores que passavam.

Nesse mundo que lhe foi imposto, viu sua vida transcorrer em silêncio, e registrava suas ansiedades e aspirações numa caderneta encontrada entre seus pertences após sua partida para outra dimensão.



  O POEMA DE UMA VIDA SOLITÁRIA

A menina debruçou na janela...

Com a ajuda da cadeira da sala.

Viu o mundo desfilar!

Brincou de boneca papai e mamãe.


A menina-moça debruçou na janela...

Viu o mundo girar.

Aquarela colorida!

Vestiu o primeiro “soutien”, sentiu-se mulher.


A mocinha debruçou na janela...

Viu os sonhos dos adolescentes.

Quinze anos...


Primeiro baile, um beijo na face!

Voou pelas alturas!



Percorreu os bosques de Viena!

Navegou no Danúbio Azul!



A jovem debruçou na janela...

Viu o primeiro amor.

Desfraldou o seu segredo.

Um fruto do príncipe encantado!


A mulher debruçou na janela...

Viu a juventude ficar no passado.

Um filho habitou o seu mundo.

As fantasias terminaram, sentiu-se uma plebéia.


A senhora debruçou na janela...

Viu o mundo desabar.

Conversou com Jesus.

Confortou-se na religião.


Da cadeira de balanço da sala de estar.

Repassou toda sua vida.

Viu a janela se fechar.

Serraram-se as cortinas.

E a sua luz se apagou.
💫


Atuei nas áreas de Recursos Humanos e Gestão da Qualidade (Normas ISO 9001), com experiência como Auditor de Certificação de Sistemas. Em meus textos, compartilho reflexões sobre o cotidiano e relatos de viagens que me levaram a conhecer culturas e histórias ao redor do mundo. 

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 Antonio Vendramini Neto

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MARSELHA: AS PORTAS DO MEDITERRÂNEO.



UMA VISTA EMPOLGANTE DA CIDADE





Às vezes, basta um clique para abrir novas histórias — inclusive nosa Travessia Europa–Brasil: A Jornada Começa.

"Palavras no texto em negrito são portais — clique e explore."

Viajar é muito mais do que deslocar-se de um ponto ao outro — é permitir que a alma mude de paisagem.


Nesta travessia entre Europa e Brasil, embarcamos não apenas num transatlântico, mas numa jornada repleta de encantos, descobertas e memórias que se fixam como perfume no tempo. As cidades que se sucederam ao longo do caminho, cada uma com sua personalidade, nos brindaram com luz, história e arte. Marselha abriu as portas do Mediterrâneo com sua força portuária e seu mosaico cultural; Aix-en-Provence sussurrou com elegância e inspiração; Avignon nos envolveu com muralhas e séculos; os vilarejos da Provença pintaram nossa rota em tons de poesia; e L’Estaque traduziu o silêncio das águas em pinceladas eternas.

A seguir, os capítulos dessa jornada que não apenas percorremos — mas que também nos percorreu.

 Marselha: Portas do Mediterrâneo

A mais antiga cidade da França nos recebeu com sol e brisa salgada. Vibrante e multicultural, Marselha encanta por sua alma marítima e pela riqueza histórica:

O bairro Le Panier, com suas ruelas inclinadas e aroma de café fresco, é o coração antigo da cidade.

No Porto Velho, observamos os barcos dançando ao vento, admirando a vista do Fort Saint-Nicolas.

A subida à colina revelou a magnífica Notre-Dame-de-la-Garde, guardiã da cidade, com sua cúpula dourada reluzindo sob o céu azul.

Marselha é onde a cultura e o comércio se entrelaçam — cidade da arte, da resistência e da expressão popular. Foi aqui, em meio ao fervor revolucionário, que a famosa canção “La Marseillaise” ganhou força e nome, embora sua composição tenha ocorrido em Strasbourg. Assim, Marselha tornou-se símbolo e voz de um novo tempo, levando a melodia às ruas e aos corações.

 Aix-en-Provence: A Elegância da Luz

De Marselha seguimos a estrada até Aix-en-Provence, onde fontes borbulham em praças sombreadas e o charme provençal nos convida à contemplação.

Passeamos pela Cours Mirabeau, avenida arborizada pontuada por cafés e mansões históricas.

Em cada esquina, a memória de Cézanne pulsa nas paisagens suaves e luz dourada que tanto inspiraram suas telas.

A cidade é um poema em movimento — delicada, pensativa, elegante.

 Avignon: Os Muros do Tempo

Chegamos a Avignon envoltos pelas muralhas medievais que abraçam a cidade histórica. O Rio Ródano serpenteia ao lado, acompanhando nossa caminhada.

O imponente Palácio dos Papas se ergue com sua arquitetura gótica — testemunha de um período em que a cidade foi o centro do mundo cristão.

A lendária Pont Saint-Bénézet, ainda que incompleta, nos transporta para canções e lendas antigas.

Cada pedra conta uma história, e o tempo parece caminhar mais devagar por ali.

 Vilarejos Encantados da Provença

Nosso tour pela alma da Provença nos levou a três tesouros escondidos, onde a vida pulsa em outros ritmos:

Isle-sur-la-Sorgue: Com canais cristalinos e mercados de antiguidades, é chamada de a “Veneza provençal”.

Gordes: Empoleirada sobre colinas rochosas, revela construções de pedra dourada e paisagens de tirar o fôlego.

Roussillon: Pintada em tons de ocre, é um espetáculo geológico e cromático — o solo parece uma tela impressionista.

Cada vila parecia uma pausa encantada em nossa jornada.

 L’Estaque: Pinceladas sobre o Mediterrâneo

Fechamos com L’Estaque, o porto tranquilo que seduziu gigantes das artes. Renoir, Braque, Dufy e Cézanne encontraram ali refúgio, inspiração e silêncio para pintar os reflexos do mar.

Os ângulos do Mediterrâneo foram eternizados em cada estação, e ali, a arte parecia conversar com o horizonte.

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 Depois de muitos anos atuando nas áreas de Recursos Humanos e Gestão da Qualidade (ISO 9001), inclusive como auditor de certificação, troquei os relatórios por passagens aéreas e os manuais por mapas. Hoje, escrevo sobre o que vejo, vivo e sinto — misturando histórias do cotidiano com experiências de viagens que me levaram dos desertos ao gelo, das vielas escondidas às grandes avenidas do mundo. Cada texto é uma bagagem aberta, cheia de curiosidades, reflexões e encontros que merecem ser compartilhados.

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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

DA GRAN VIA À GUERNICA: UMA JORNADA PELA HISTÓRIA E ARTE DE MADRI




Uma das obras mais emblemáticas do artista cubista espanhol Pablo Picasso. 

"O negrito nas palavras não está aí por acaso — clique e veja por quê."

Depois de uma imersiva visita panorâmica pela vibrante cidade de Madri, fomos conquistados por seus bairros repletos de vida e monumentos emblemáticos. Passamos pela Plaza de España, admirando sua grandiosidade, seguimos pela espetacular Gran Vía, uma verdadeira vitrine de arquitetura imponente, e nos perdemos nas belezas da Praça Cibeles, com sua fonte majestosa dedicada à deusa grega da fertilidade. O Paseo Del Prado nos levou à porta do famoso museu, onde a arte se entrelaça com a história. Logo, nossa rota nos conduziu à monumental Estação Ferroviária Atocha, com sua arquitetura magnífica e um jardim tropical que contrasta com o passado sombrio. Foi aqui, onde em 2004, a cidade foi abalada por um terrível ataque terrorista, que encontramos um memorial tocante em homenagem às vítimas daquele trágico dia.

Esta estação, além de ser um ponto de chegada e partida, também serviu como nosso guia para o próximo destino: o Centro Nacional de Arte Rainha Sofia. O lugar estava no radar de todos desde o início da nossa jornada, especialmente por ser o lar de uma das obras mais emblemáticas do artista cubista espanhol Pablo Picasso.

Ao falarmos de Picasso, é impossível não pensar imediatamente no seu painel mundialmente famoso: GUERNICA. Ele é, sem dúvida, o coração pulsante do museu e a principal razão pela qual milhões de visitantes de todos os cantos do mundo se deslocam até lá. A foto que ilustra esse relato foi retirado da internet, já que no local, a fotografia é estritamente proibida e as câmeras são cuidadosamente vigiadas.

Ao chegar ao museu, fomos informados de que o ingresso custava 30 euros, mas por sorte, a entrada se tornava gratuita a partir das 19h. Como faltava apenas meia hora para a isenção, decidimos ficar nas proximidades, observando a movimentação suave, porém apressada, de outros turistas que, como nós, se apressavam para aproveitar a concessão.

Subimos pelo elevador e, ao adentrar o espaço, a sensação de estar no epicentro da arte contemporânea nos envolveu imediatamente. Caminhamos pelos corredores, imersos nas obras de Picasso, até que, de repente, uma multidão se formou à nossa frente, diante de uma imponente parede. Estávamos frente a frente com Guernica.

A cena era pura intensidade. O silêncio absoluto, respeitado por todos, e a vigilância rigorosa dos seguranças tornaram o momento ainda mais impactante. Guernica, pintada em 1937, é mais do que uma obra de arte – é um grito visual contra a brutalidade da guerra, uma representação angustiante do bombardeio que devastou a cidade durante a Guerra Civil Espanhola.

Com suas linhas arrojadas e cores sombrias, Picasso capturou em tela o horror, o desespero e a destruição. A obra, que foi originalmente exibida no Pavilhão Internacional de Paris, no contexto da República Espanhola, exala o sofrimento de um povo e a dor das vidas perdidas. O pintor, em parceria com outros artistas como Miró e Dalí, foi uma voz ativa contra a violência e a desumanização, e Guernica se tornou um símbolo universal de resistência.

Ao deixar o museu, a visão da estação de Atocha, agora lindamente renovada e iluminada, me fez refletir sobre o poder das imagens. Assim como Picasso usou sua arte para protestar contra a guerra e o sofrimento, percebi a mesma revolta e o mesmo grito de resistência nas ruas de Madri, onde o povo espanhol, marcado pela tragédia do terrorismo, ainda encontra força para seguir em frente, com dignidade e coragem.

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As palavras fluem por entre os meus textos, desfilando um rosário de contos, crônicas e poemas, narrados em prosas e versos, brotando do coração, os mais puros sentimentos, deixando os textos cheios de muitas emoções.

domingo, 12 de outubro de 2025

OBELISCO INACABADO: UMA VIAGEM ENTRE PEDRASS E SURPRESAS


🏺 
O Obelisco Inacabado de Assuã: Uma Pedra Gigante, Uma História Surreal

"Não apenas leia — clique no negrito nas palavras e mergulhe."


O impressionante obelisco inacabado em Assuã — uma obra monumental que revela os segredos da engenharia antiga e rende boas histórias de viagem. 

"Não apenas leia — clique no negrito nas palavras e mergulhe."
Durante nossa viagem ao Egito, minha esposa e eu vivemos uma daquelas experiências que misturam fascínio histórico com situações inesperadas — e, claro, boas risadas. Tudo começou em Assuã, onde nos deparamos com o famoso obelisco inacabado. Imagine uma pedra gigantesca, com quase 43 metros de altura e mais de mil toneladas, largada na pedreira como quem desistiu de ir à academia no meio do treino. Pois é, foi mais ou menos isso.

Segundo nosso guia, o carismático Sr. Sahid — um egípcio simpático e surpreendentemente fluente em português, que aprendeu o idioma durante seus estudos na Universidade do Cairo — esse obelisco foi abandonado por causa de uma falha na rocha. Acredita-se que tenha sido iniciado na época da rainha-faraó Hatshepsut. Sim, uma mulher no poder numa época em que isso era praticamente um escândalo. Para disfarçar, ela se vestia como homem, usava até um cone na barba — o que, convenhamos, deve ter gerado muita confusão nos salões do palácio.
 
O obelisco, apesar de inacabado, revelou muito sobre as técnicas de construção da época. Ao redor dele, foram encontradas bolas de diorito — pedras duríssimas usadas para alisar a superfície do granito. O processo incluía fazer fogo na rocha, jogar água para causar rachaduras e depois vir com as bolas como se fosse uma sessão de spa... só que para pedras. Depois, vinham ferramentas de bronze para aprofundar os cortes e escavar túneis laterais para remover o monólito. 
Um trabalho que exigia força, paciência e, provavelmente, muito café (ou o equivalente egípcio da época). Se tudo desse certo, o obelisco ganharia hieróglifos pintados com pigmentos de ocre vermelho ou carbono preto. 

Esses monumentos eram dedicados ao Deus Sol e tinham uma forma elegante e pontiaguda, como se apontassem para o divino — ou para o próximo raio de sol que iluminaria a glória dos faraós.

 Mas os obeliscos não ficaram só no EgitoQuando o Império Romano dominou a região, o imperador Augusto se encantou com essas obras e decidiu levar algumas para casa — como quem visita o Egito e volta com um souvenir... só que de 40 toneladas. O maior deles, o Lateranense, foi construído na época dos faraós Tutmosis III e IV e hoje está em Roma, na Praça São João de Latrão. Depois de algumas reformas e mudanças de endereço dignas de novela, foi erguido novamente em 1588 por ordem do Papa Sisto V.

Outro obelisco famoso está na Praça de São Pedro. Para colocá-lo lá, foram necessários 150 cavalos e 47 guinchos — e provavelmente muita fé. Ele veio do Egito no tempo do imperador Nero e está lá desde 1585. Tive o privilégio de contemplá-lo ao lado da minha esposa, em um dia de espiritualidade sob a proteção do Papa João Paulo II. Um momento que misturou história, fé e admiração.

E não para por aí. Em 1831, o Vice-Rei do Egito, Méhémet Ali, presenteou a França com dois obeliscos que marcavam a entrada do palácio de Ramsés II. Segundo nosso guia (que já parecia nosso tio egípcio de tanto que conversamos), esse mesmo vice-rei cogitou destruir as pirâmides da quarta dinastia para construir pontes sobre o Nilo. Sim, você leu certo. Ainda bem que alguém o fez mudar de ideia — talvez um engenheiro sensato ou um faraó bravo em espírito.

O primeiro obelisco chegou a Paris em 1823 e foi erguido na Place de La Concorde em 1836, diante de 200 mil pessoas. O rei e a família real, com medo de um desastre, assistiram tudo de longe e só apareceram na varanda quando o monólito ficou de pé — como quem espera o bolo crescer no forno antes de chamar os convidados.

 Reflexão Final:

Hoje, olhando para tudo isso, percebo que os imperadores romanos queriam eternizar seus nomes roubando monumentos alheios — como quem leva o vaso da casa da sogra e diz que foi “herança cultural”. Já o vice-rei egípcio parecia não ter a menor noção do valor histórico do que estava doando — talvez achasse que obelisco era só uma pedra decorativa.

Felizmente, o Egito aprendeu com esses episódios e hoje protege com rigor seu patrimônio. E nós, viajantes curiosos, seguimos colecionando histórias, risadas e reflexões — como essa, que começou com uma pedra gigante abandonada e terminou com uma aula de história, cultura e comédia involuntária.

Porque no fim das contas, viajar é isso: descobrir o mundo, se encantar com o passado e rir do presente — especialmente quando o guia diz que quase derrubaram as pirâmides pra fazer ponte. Aí você percebe que a história da humanidade é mesmo uma mistura de genialidade e maluquice.

 Toninho Vendramini — viajante curioso, contador de histórias e apaixonado por cultura.


 Suspiros de lugares distantes

Crônicas que nasceram de viagens reais .

Cidades que deixaram cheiro, sons e saudade.

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ILHÉUS: ENTRE CACAU E MISTÉRIOS

VOCÊ VAI VER DETALHES DOS BORDEIS DOS CORONÉIS. ´   estátua de Jorge Amado Nossa jornada nos levou a Ilhéus , a cidade que respira caca...

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