Ao findar,
em Roma, uma viagem pelo Leste Europeu, partimos para Gênova, a fim de conhecermos,
viajando de trem, algumas cidades da Riviera di Levante e também as famosas vilas
medievais denominadas de Cinque Terre.
Ficamos
baseados em um hotel próximo à estação ferroviária de Brignole para facilitar nossas
locomoções. Dali, partíamos, em dias alternados, da estação Gênova Brignole,
através da linha La Spezia. Levávamos uma hora e meia até o primeiro vilarejo,
Monterosso al Mare; as demais distam- se uma da outra uns dez minutos.
Os lugares
avistados durante a viagem foram magníficos. Não cansávamos de olhar as
encostas, onde ficam os famosos vinhedos, cujas uvas dão um sabor especial aos
vinhos, que saboreamos em todas as refeições, nos típicos restaurantes. O
Bianco Sciacchetrà é uma preciosidade que acompanhou os pratos à base de frutos
do mar, típicos da cozinha Ligure, o doce de limão e o melhor pesto genovês,
servidos em mesa ao ar livre e sob uma tenda amplamente confortável, proporcionando,
naquelas manhãs ensolaradas, uma visão espetacular do panorama.
As vilas ainda
estão intactas, transformando-se em lugares pitorescos. É um cenário que levou
um milênio para se construir e sua origem se perde no tempo: eram, inicialmente,
cinco castelos fortificados, próximos entre si, em torno dos quais surgiram
cinco aldeias, assentadas em minúsculas baías ou encravadas no alto de
rochedos.
Todas são
formadas por antigos predinhos coloridos e guardam preciosidades de sua
história, sobretudo nas igrejas e castelos, tornando-as, nos últimos anos, um
dos mais atraentes destinos turísticos italianos. Uma das atrações interessante
é a ‘estrada do amor’ (Via dell’Amore) que tem sua história ligada à ferrovia
Gênova – La Spezia. Era usada no início de 1900 para depositar o material
utilizado na construção da galeria ferroviária entre Riomaggiore e Manarola.
O melhor
modo de visitar Cinque Terre, após Monterosso al Mare, é a pé, percorrendo
assim, o chamado “Sentido Azzurro” (cerca de cinco horas), conhecendo todos os
vilarejos. Mas essa empreitada é para os jovens que vêm com apetrechos
apropriados e calçados especiais, etc. Para nós, bastou percorrer quinze
minutos e já nos sentamos no primeiro banco do caminho e ali ficamos apreciando
a paisagem até o sol afundar-se no horizonte, fazendo com que o mar ficasse
dourado.
Fizemos, em outros dias, através do trem, a
ligação com outras vilas, para não nos apressarmos na volta e ficarem sem
conhecer lugares imperdíveis.
Monterosso
al Mare: Dentre as aldeias é a que dispõe de melhor infraestrutura turística,
com a vantagem de ter uma praia de verdade e um porto, ambos pequeninos. Nas
suas ruazinhas, as casas são, às vezes, ligadas entre si por passagens nos
andares superiores, com ares românticos das medievais vielas. Para conhecer
melhor suas encostas, entramos em um micro-ônibus, dirigido por uma mulher que
nos dava informações sobre o trajeto na montanha e pudemos apreciar uma colheita
de azeitonas muito interessante: as pessoas colocavam uma manta sobre o chão e
um moleque chacoalhava as árvores para que caíssem e fossem coletadas.
Vernazza:
Fica em um vale estreito, por onde corre um rio do mesmo nome, num ponto bem
abrigado, protegido por um castelo no alto de um promontório. De sua torre se
tem uma excelente vista da região. É o principal porto dos vilarejos. Com seu
labirinto de pequenas ruas, escadarias e passagens cobertas, foi, para nós, a
mais graciosa. Ali, pudemos entrar em uma igreja gótica para agradecer por mais
essa viagem. É a mais popular e quase tão bela quanto Portofino. Possui um ar
majestoso e árvores cuidadosamente colocadas, que se alinham na beirada da
praça do cais. Ao passar de um local para outro através de um túnel, ouvimos ecos
de uma bela canção que vinha não sei de onde. Ao contemplar o final do túnel,
enxergamos um pianista que tocava canções lindas em troca de alguns euros que
as pessoas depositavam em seu chapéu colocado no chão.
Corniglia: Está a 100 metros acima do mar, é a mais antiga e
tranquila das vilas e tem vistas espetaculares. É a única que não possui um
ancoradouro; fica encravada no alto de um rochedo, no meio de vinhedos. Do alto,
escuta-se o som abafado dos trens passando pelos túneis. Aproveitando a vista
exuberante, paramos para almoçar ali.
Manarola:
Este vilarejo fica sobre uma falésia à beira-mar e é acessível, a pé, a partir
de Riomaggiore pela via dell’Amore. Está repleta de vinhedos em terraços, sobre
as colinas acima da aldeia, de onde avistávamos os barcos de pesca que, após
retornarem do alto mar, paravam nas ruas estreitas, uma vez que não tem
ancoradouro natural e nem edificado pelo homem.
Riomaggiore:
É um minúsculo povoado no fundo de uma baía apertada entre rochedos, com uma
rua principal subindo a encosta. O melhor jeito de chegar ao povoado é por mar,
mas há um acesso por terra a partir de La Spezia. De lá, há o caminho “via dell’Amore”
até Manarola, que pode ser percorrido em aproximadamente meia hora, passando
pelos rochedos perto do mar. Uma aventura que não nos propusemos a fazer.
Após
concluirmos todas as vilas de Cinque Terre, ficamos imaginando que um dos
desafios das autoridades é com o declínio de residentes, pois conta com uma
população antiga que, aos poucos, está desaparecendo e, os jovens não têm apego
à terra, buscando novas oportunidades em outras fronteiras, sendo necessário,
nas épocas turísticas, importar mão de obra temporária de outras localidades.
Penso que, com o correr do tempo, existe o perigo de se perderem as tradições
culturais, como ir à missa diária em uma das igrejas góticas, de que já falamos.
Foi bonito ver todas as janelas com uma rosa desenhada, indicando um símbolo de
prosperidade. Uma das culturas desse agrupamento de vilas é falar sobre vinhos
e também degustá-los, o que fizemos nos terraços naturais cultivados, após uma
pequena lição de um fabricante sobre o cultivo da uva.
Após
concluirmos as visitas em todas as vilas de Cinque Terre, programamos mais dois
lugares famosíssimos, sempre efetuando o percurso de ida e volta de trem.
Santa
Margherita Ligure: É bastante glamorosa, diferente das pequenas vilas
sossegadas de Cinque Terra.
Faz parte
da região da província de Gênova, com cerca de 10.000 habitantes. Possui uma
atmosfera animada, o que comprovamos em um dos bares onde tomamos um belo cappuccino
e também em um restaurante onde fizemos uma pausa para um almoço, no ‘ristorante
Antonio’. Possui lugarejos tranquilos exibindo uma estupenda praça com
monumentos típicos aos descobrimentos. Sua orla é maravilhosa, mostrando
magnificas casas de veraneio em suas encostas. Serve, para os turistas, como
uma base para alcançar Portofino.
Após um breve
descanso partimos para Portofino. Há apenas uma estrada que fica na ponta sul
do triângulo. A viagem entre as duas cidades foi feita de ônibus e levou cerca
de quinze minutos.
O PROMONTÓRIO
PORTOFINO
Esse
pedaço de costa com apenas 530 habitantes compõe um triângulo que divide o
Golfo Paradiso e o Tigullio. Na década de 1950, foi o lugar preferido das
estrelas do cinema e as vilas onde permaneciam ainda têm um charme sofisticado,
trazido pelo pessoal de Gênova que vem fazer turismo e contemplar o lindíssimo
mar e sua posição geográfica. Após um breve reconhecimento do local, fomos
caminhando até o pequeno cais onde está a maioria dos restaurantes. Sentamo-nos
em um banco perto da igreja e, virados para o Golfo Paradiso, observamos o vai
e vem de alguns poucos turistas que se aventuravam a comprar produtos nas
lojas.
Caminhamos
mais um pouco e, no final do cais, voltamos nossas vistas para o Mosteiro de
San Fruttuoso; é o resquício mais antigo do império beneditino que administrava
as igrejas do triângulo e ficou encravado na costa. O local só é acessível de
barco ou a pé.
Voltamos
já no período da tarde, de ônibus, pela mesma estrada, rumo a Santa Margherita.
De lá, apreciamos mais uma vez a orla, enquanto aguardávamos o trem que nos
levou para Gênova onde estávamos sediados, terminando assim, esses belos
passeios pela Riviera Ligure, quase todo montanhoso, caindo abruptamente sobre
o mar.