terça-feira, 28 de outubro de 2025

O CORONEL GALO PRETO E OS SABORES DO PODER



Bem-vindo ao Vendramini Letras — um espaço onde a palavra é servida com café, pão e saudade. Aqui, cada texto vem depois de um gesto simples: uma receita compartilhada, uma flor plantada, uma lembrança acesa. 

É um convite à pausa, à escuta e ao sabor da vida como ela é — com afeto, raízes e poesia. Sinta-se em casa.

Senta que vem mais um "causo" daqueles tempos

O Safadão

No coração do interior paulista, onde o aroma do café se misturava ao cheiro da terra molhada, não eram apenas os grãos que decidiam o rumo da economia — mas também os homens que os negociavam. Entre eles, um se destacava: o temido e folclórico Coronel Galo Preto, figura lendária que comandava a bolsa cafeeira com mão de ferro e hábitos… peculiares.

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Este conto resgata não só os bastidores das negociações que moviam o Brasil, mas também os sabores que acompanhavam o poder — como os bolinhos de bacalhau e o frango frito que o coronel devorava entre uma baforada de charuto e outra. Ao final, você encontrará uma receita inspirada nesses tempos de coronéis, para reviver um pouco da história à mesa.

Em uma importante cidade do interior de São Paulo, região de extensas plantações de café reconhecidas por sua qualidade excepcional, os grãos eram disputados por compradores do ramo, transformando-se na famosa bebida conhecida no Brasil e mundo afora. Negociantes internacionais frequentemente visitavam o local para adquirir as safras, enquanto os fazendeiros da região se reuniam em uma espécie de bolsa cafeeira, onde os preços eram estabelecidos e cotados em dólar. Grande parte da produção era exportada, deixando pouco para consumo interno.

À frente dessas reuniões, estava o temido Coronel Tertuliano Telles Noronha Mangabeira, conhecido como Coronel Galo Preto. Nascido em Pernambuco, o apelido veio de sua reputação de bravura e liderança entre seus jagunços. Ele resolvia problemas de forma imediata, não hesitando em delegar punições ou eliminar adversários.

Essas reuniões, que contavam com a presença dos cafeicultores da região, eram lideradas pelo coronel, então presidente da bolsa cafeeira estadual. Dotado de um corpanzil imponente, o coronel tinha hábitos bastante peculiares. Sentava-se na cabeceira da mesa com os bolsos recheados de pedaços de frango e bolinhos de bacalhau, que devorava enquanto limpava a gordura na gravata. Depois, acendia seu charuto e soltava baforadas que impregnavam o ambiente com uma fedentina insuportável. Apesar do desconforto, os produtores suportavam tudo em busca da aprovação dos preços.

Sua postura grosseira não parava por aí. Ao fumar, pedaços de fumo ficavam em sua boca e, para aliviar, ele pigarreava e cuspia no chão até que o zelador providenciou uma escarradeira para conter os estragos. As cadeiras pesadas de madeira maciça arrastavam-se pelo assoalho sempre que alguém se levantava, causando barulho ensurdecedor. E o coronel, frequentemente com a barriga cheia, tinha o hábito de soltar discretos, porém malcheirosos, peidos durante as reuniões. Para disfarçar, ele alegava que os sons vinham do arrasto de sua cadeira.

Nas reuniões com estrangeiros, o zelador advertiu o coronel sobre seus hábitos desagradáveis. Porém, em um momento inesperado, o coronel soltou um peido ensurdecedor e sem cheiro, causando escândalo. Ele insistiu que o barulho era causado pela cadeira, mas os participantes já desconfiavam de sua estratégia. O zelador, então, pregou sua cadeira no assoalho, deixando o coronel sem alternativas para disfarçar.

Quando chegou o dia da reunião final, o coronel, ao comer seu habitual frango, foi acometido por um novo episódio. Tentou disfarçar, mas sem sucesso: o peido soou alto e todos perceberam. Furioso, ele descobriu que o zelador havia pregado a cadeira. Pouco depois, o coronel ordenou que seu jagunço punisse o zelador, que nunca mais foi visto.

O Coronel Galo Preto faleceu dias depois, e no sepultamento, o zelador “apareceu” para revelar a verdade aos presentes. Após sua morte, as reuniões nunca mais foram as mesmas. A sede foi transferida para a capital, e as histórias sobre os peidos e peculiaridades do coronel tornaram-se lendárias, arrancando gargalhadas daqueles que as relembravam.

🍽️ Receita da Época dos Coronéis: Bolinho de Bacalhau & Frango Frito do Galo Preto

🐟 Bolinho de Bacalhau

Ingredientes:

500g de bacalhau dessalgado e desfiado

500g de batata cozida e amassada

1 ovo

1 colher de sopa de salsa picada

Sal e pimenta-do-reino a gosto

Óleo para fritar

Modo de preparo:

1. Misture o bacalhau com a batata, o ovo e a salsa.

2. Tempere com sal e pimenta.

3. Modele os bolinhos com as mãos.

4. Frite em óleo quente até dourar.

5. Escorra em papel toalha e sirva quente.

🍗 Frango Frito do Coronel

Ingredientes:

1 kg de coxas e sobrecoxas de frango

Suco de 1 limão

2 dentes de alho amassados

Sal, pimenta-do-reino e páprica a gosto

Farinha de trigo para empanar

Óleo para fritar

Modo de preparo:

1. Tempere o frango com limão, alho, sal, pimenta e páprica.

2. Deixe marinar por 1 hora.

3. Passe os pedaços na farinha de trigo.

4. Frite em óleo quente até ficarem dourados e crocantes.

5. Sirva com uma boa dose de coragem — como fazia o coronel.

☕ Final empolgante: 

Entre peidos e bolinhos, o poder se decidia à mesa

Naqueles tempos, o café era ouro, e os coronéis eram reis. Mas por trás das cifras e dos contratos, havia frango frito, bolinho de bacalhau e histórias que hoje viraram lenda. Que esta receita traga à sua mesa um pouco do sabor — e do humor — de uma época em que até um peido podia mudar os rumos da economia.

💫

Esse meu BLOG 

É um passeio por memórias, afetos e encantamentos, não tem capa dura nem páginas numeradas.

Ele vive nas entrelinhas do tempo.

Cada texto é uma fresta — por onde escapa o que ainda pulsa.

Escrevo como quem conversa com o silêncio.

Como quem guarda o mundo em palavras pequenas.

Como quem acredita que lembrar é uma forma de amar.

Antonio Toninho Vendramini Neto
Escritor | Pensador | Criador de conteúdos culturais

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