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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O ETERNO APAIXONADO





Tudo o que ele mais queria era a calma da noite no seu pensamento. Cheio de mistérios, colheu uma flor no jardim de sua casa e a trouxe aos seus aposentos, admirando-a, em suaves devaneios. Sua mente divagava em sonhos jamais caminhados. Imaginava olhando aquela flor, a mulher amada de quem ele nunca se aproximou, mas, na sua visão, a tinha nos braços, acariciando-a sempre com a lisura que lhe era peculiar, num amor platônico e soberano.

Manteve-se assim por muito tempo, até que, um dia, a viu passar sobre a sua calçada, trajada de uma forma diferente do habitual. Percebendo a mudança, debruçado em sua janela, cumprimentou-a com um sorriso harmonioso, daqueles que transmite algo de aproximação no pensamento, que por si só diz muita coisa de quem quer reciprocidade.

E assim foi mais um dia na vida daquele admirador fervoroso. Mas ele também começou a mudar em suas atitudes, embora silenciosas. Vestia-se melhor, aparou os cabelos e a barba que estava sempre crescida, tentando passar uma imagem mais atraente, para que calasse no pensamento daquela mulher que, para ele, ainda era uma anônima.

Em outro dia, depois que ela passou em frente a sua casa com destino ignorado, desceu rapidamente e foi até o portão da admiradora para saber mais detalhes, queria saber o seu nome. Não achou nenhum indício. Desesperado, perguntou a um garoto vizinho da moradia se sabia o nome daquela mulher. Recebeu como resposta que se tratava da moça por nome Rosa...

Seu coração se encheu de alegria, pois, em seu jardim havia muitas; e, cultivando o seu costume, quando chegava em seu jardim, sempre colhia uma flor que, coincidentemente, tinha o seu nome, e acariciava-a no anonimato e no silêncio do seu quarto de dormir.

Para se aproximar de sua amada, embora sem lhe dirigir a palavra, colheu rosas de seu jardim, colocou em uma caixa, escreveu um cartão com algumas frases de amor e solicitou ao garotinho, seu vizinho, que lhe entregasse, quando chegasse da rua.

Para saber a reação, ficou do outro lado da rua tomando um café na mesa externa do estabelecimento, que tocava músicas românticas e que embalava seus devaneios sublimes, cheios de amor, de poesias e encantamento que tinha pela moça.

A menina-moça Rosa abriu a caixa e olhou as homônimas. Encheu-se de alegria! Ele, observando à distância, travestiu-se em fortes emoções, percebendo que ela havia gostado. Mas... e a aproximação? Era para ele muito perigosa, poderia não o aceitar, pois era uma pessoa madura e aquela moça poderia não retribuir.

Travou-se, então, uma imensa batalha em sua mente com seu pensamento inclinado, fortemente, em passar uma imagem de pessoa mais moça. Foi até o banheiro, apanhou o aparelho de barbear, raspou a barba e tirou o cavanhaque e o bigode. E, olhando-se no espelho, achou que ganhou alguns anos de jovialidade.

No dia seguinte, ficou esperando-a já sobre a calçada e não mais na janela.

Ao aproximar-se a cumprimentou elegantemente, oferecendo uma rosa que estava em suas mãos. “E, com aquele trocadilho meio cafona, próprio de seu tempo, disse: “Uma rosa para outra Rosa”.

Ela aceitou e seguiram caminhando em direção à igreja onde ela fazia oração todos os dias, sabe-se lá por quem.

Ele, para começar a prosa, perguntou para quem seriam suas orações, recebendo como retorno que era para ele, pois tinha também um grande apreço por sua pessoa.

E assim a Rosa se viu nas mãos daquele senhor, protetor de sua vida dali para frente, embalando os seus sonhos para resto de sua vida.    



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