Tudo o que ele mais queria era a calma da
noite no seu pensamento. Cheio de mistérios, colheu uma flor no jardim de sua
casa e a trouxe aos seus aposentos, admirando-a, em suaves devaneios. Sua mente
divagava em sonhos jamais caminhados. Imaginava olhando aquela flor, a mulher
amada de quem ele nunca se aproximou, mas, na sua visão, a tinha nos braços,
acariciando-a sempre com a lisura que lhe era peculiar, num amor platônico e
soberano.
Manteve-se assim por muito tempo, até que,
um dia, a viu passar sobre a sua calçada, trajada de uma forma diferente do
habitual. Percebendo a mudança, debruçado em sua janela, cumprimentou-a com um
sorriso harmonioso, daqueles que transmite algo de aproximação no pensamento,
que por si só diz muita coisa de quem quer reciprocidade.
E assim foi mais um dia na vida daquele
admirador fervoroso. Mas ele também começou a mudar em suas atitudes, embora silenciosas.
Vestia-se melhor, aparou os cabelos e a barba que estava sempre crescida,
tentando passar uma imagem mais atraente, para que calasse no pensamento
daquela mulher que, para ele, ainda era uma anônima.
Em outro dia, depois que ela passou em
frente a sua casa com destino ignorado, desceu rapidamente e foi até o portão
da admiradora para saber mais detalhes, queria saber o seu nome. Não achou
nenhum indício. Desesperado, perguntou a um garoto vizinho da moradia se sabia
o nome daquela mulher. Recebeu como resposta que se tratava da moça por nome Rosa...
Seu coração se encheu de alegria, pois, em seu
jardim havia muitas; e, cultivando o seu costume, quando chegava em seu jardim,
sempre colhia uma flor que, coincidentemente, tinha o seu nome, e acariciava-a
no anonimato e no silêncio do seu quarto de dormir.
Para se aproximar de sua amada, embora sem
lhe dirigir a palavra, colheu rosas de seu jardim, colocou em uma caixa,
escreveu um cartão com algumas frases de amor e solicitou ao garotinho, seu
vizinho, que lhe entregasse, quando chegasse da rua.
Para saber a reação, ficou do outro lado da
rua tomando um café na mesa externa do estabelecimento, que tocava músicas
românticas e que embalava seus devaneios sublimes, cheios de amor, de poesias e
encantamento que tinha pela moça.
A menina-moça Rosa abriu a caixa e olhou as
homônimas. Encheu-se de alegria! Ele, observando à distância, travestiu-se em
fortes emoções, percebendo que ela havia gostado. Mas... e a aproximação? Era
para ele muito perigosa, poderia não o aceitar, pois era uma pessoa madura e
aquela moça poderia não retribuir.
Travou-se, então, uma imensa batalha em sua
mente com seu pensamento inclinado, fortemente, em passar uma imagem de pessoa
mais moça. Foi até o banheiro, apanhou o aparelho de barbear, raspou a barba e
tirou o cavanhaque e o bigode. E, olhando-se no espelho, achou que ganhou
alguns anos de jovialidade.
No dia seguinte, ficou esperando-a já sobre
a calçada e não mais na janela.
Ao aproximar-se a cumprimentou
elegantemente, oferecendo uma rosa que estava em suas mãos. “E, com aquele
trocadilho meio cafona, próprio de seu tempo, disse: “Uma rosa para outra Rosa”.
Ela aceitou e seguiram caminhando em
direção à igreja onde ela fazia oração todos os dias, sabe-se lá por quem.
Ele, para começar a prosa, perguntou para
quem seriam suas orações, recebendo como retorno que era para ele, pois tinha também
um grande apreço por sua pessoa.
E assim a Rosa se viu nas mãos daquele
senhor, protetor de sua vida dali para frente, embalando os seus sonhos para
resto de sua vida.