Durante
as primeiras décadas do Século passado, a especulação imobiliária se espalhava
pela cidade do Rio de Janeiro. Com isso, formaram-se diversos morros e favelas
no cenário urbano carioca.
O samba que havia nascido no centro da cidade galgaria as encostas dos morros e se alastraria pelos subúrbios.
Estes locais formaram o celeiro de novos talentos musicais e da consolidação do samba urbano.
Foram inovações tão importantes que perduram até os dias atuais dentro do samba, mais tarde, alçados à condição de "nacional".
O
grande propulsor dessas mudanças foi o bairro de Estácio de Sá, de origem
popular e com grande aglomeração de pretos e mulatos; onde nasceu o reduto dos “antigos
malandros” considerados naquela época pelas classes dominantes, como "perigosos";
muito diferente dos atuais, não cabendo mais uma rotulação, tamanha foi à
modificação acontecida.
Naqueles tempos a figura do “malandro” era entendida apenas como uma pessoa esperta e, muitos deles, com um extremo e refinado gosto musical, compondo um samba no simples olhar para uma mulata descendo ladeira abaixo.
Naquele local, ainda vivia o último remanescente de uma época.
O ÚLTIMO MALANDRO
É de manhã no último reduto
Sol a pino como
manda o figurino
O botequim abriu
suas portas
Para receber o famoso
malandro!
Chegou cheio de pose e prosa...
Terno de linho branco...
Rosa na lapela...
Chapéu panamá
com moldura preta
Sapato bicolor
com salto carrapeta
Passos de forma cadenciada na chegada...
Saudou o velho
garçom no balcão
Naquelas gírias.
Com aquela fala macia...
Sentou-se naquela mesa...
Pediu uma
cerveja
Jogou um pouco
para as almas
Epaminondas... Cadê
o repórter?
Aí do seu lado
mestre
Trouxe à grana? Que
bom...
Agora vou
falar...
Fui boêmio cheio de bravata
Do tempo da
gravata
Também bacana, lá
de Copacabana.
Amigo da noite e de Noel
Com jeito moleque
Do samba de
breque...
Do tempo que
escrevia musica no papel...
De embrulho ou
de pão e com a mão...
Recinto ritmado e perfumado
Morena carioca rebolando
Tudo preparado...
Para despertar o
velho malandro
Ficou em polvorosa
Vendo aquela
diva gostosa.
Velhos tempos...
Água na boca...
Inspiração divina...
Rabiscos no
guardanapo
Versos benditos...
De samba enredo
Escolas na
avenida
Nos dias de glória.